Mr.Sandman 13/05/2024
Telecinesia Pecaminosa
Esse é o primeiro livro de romance que leio do autor. Sempre tive uma expectativa alta para ler alguma de suas obras, e por mais que estou envolvido positivamente na leitura de seu livro "Sobre a Escrita", ainda não havia consumido diretamente nenhuma de suas criações. Fico feliz que tenha começado por Carrie.
É um romance bem direto. Por mais que a narração de King contextualize de uma forma dinâmica e com textos mais expositivos servindo como trechos intermediários para a temporalidade original da história, ainda é uma escrita que é fluída, clara e bastante direta ao ponto. Por mais que por vezes ficasse irritado com os trechos de jornais e estudos e livros futuros que King elaborou para dar mais substância a sua ficção, ainda dava valor nessas passagens. Muitas vezes pareciam se repetir desnecessariamente, mas eram rápidas, de qualquer forma. No geral, gostei muito da forma como ele escolheu organizar sua narrativa.
Sobre a história em si, eu gostei e consegui ter uma boa conexão imaginária com os eventos (uma bem sucedida sessão de telepatia, como diria o próprio autor), e isso ajudou a me ambientar e vivenciar momentos que, mesmo já sendo sugeridos antes, ainda foram marcantes (como toda a sequência no baile).
É uma história que gira em torno do bullying, do desamparo, da culpa religiosa, do machismo estrutural e também de uma insensibilidade circunstancial, que está no cerne das práticas de bullying em escolas. A vulnerabilidade gera ódio, gera falta de pertencimento e gera uma angústia com potencial catastrófico. O elemento fantasioso está ali, mas todo o resto é algo concebível, mesmo com seus exageros dramáticos (como o sangue do porco). Também fala sobre a falta de preparo dos sistemas de ensino e das comunidades para auxiliar pessoas de culturas familiares e credos distintos. Carrie sofria abusos psicológicos, físicos e verbais de sua mãe, e por muito tempo achava aquilo normal, até mesmo certo. Está muito ligado também a forma como os pais muitas vezes transferem suas crenças e suas angústias para seus filhos. É uma forma de amor torpe, mas que não surge do nada. E a história faz bem em trazer esses contextos, mesmo que apenas na sugestão.
Carrie é um romance sólido e intrigante de Stephen King. Não é perfeito, na minha concepção, mas faz muito bem o que se propõe. Fico feliz que tenha dado meu pontapé inicial na obra ficcional de King por meio desse romance.