heloisa.nas 30/10/2023Primeiro livro escrito pelo King e aqui ele já mostra como escreve bem. Não apenas em escrita fluída, mas nos mostra como é bom em prender o leitor com a trama de suas histórias.
A história é contada por vários pontos de vista alternando entre o passado onde entramos na mente da própria Carrie, e no presente, onde temos relatos dos sobreviventes da noite do baile. King faz um trabalho fantástico nessa troca de pontos de vista, pois assim fica fácil ver como as pessoas ao redor de Carrie a enxergavam: uma jovem tola, feia, burra, e ingênua, filha de uma mulher louca, no qual a empatia é difícil de se construir, ja que parece impossível tamanha ?sonsice? num único ser. Mas pelo ponto de vista de Carrie, podemos conhecer a nossa personagem como uma menina esperta, que no fundo gostaria de mudar tudo em relação à como a enxergam. Uma garota que desafia a mãe e ?seu? Deus em busca da aceitação tão aguardada pelo meio social, e no qual em troca só recebe abuso. Carrie consegue ser malvada diversas vezes ao longo do livro em seus pensamentos, e logo após se recrimina por desejar o mal como boomerang a quem lhe maltrata.
(Carrie inclusive é extremamente mal retratada nos filmes com essa ingenuidade exarcebada, essa tolice exagerada e uma beleza padrão que a mesma dos livros não tem. Não apenas porque sua mãe não permite a vaidade por conta do pecado, mas ela não se encaixa fisicamente no desejado, com seus cabelos desgrenhados e acne).
É bem interessante ver a questão do abuso em sua vida, e pensar se tudo não seria diferente se ela apenas não tivesse a mãe que teve. Pois Margareth White é a vilã aqui, uma mãe desnaturada, cega pela religião, que esquece do Deus que prega amor e entrega à filha humilhação, dor, medo, repulsa, etc. Seria esse o mommy issues mais famoso da cultura pop?
Esse livro entraria muito fácil em um TCC sobre como a criação na infância reverbera em todas as escolhas da vida de um indivíduo. (Mesmo que aqui seja ficção).
Quantas Carrie?s sem o gene da telecinese existem por aí? Milhares e milhares, não há dúvida. O que aconteceu na noite do baile em Chamberlain, acontece na vida real. É só puxar na internet tiroteios/massacres em escolas e geralmente vai se encontrar um aluno da mesma instituição, que sofreu algum abuso, e, num ápice de sofrimento decide revidar contra a sociedade que tanto o desprezou.
Na vida real, a telecinese ja é representada por armas de fogo e bombas.
Bom, da pra entender o porque de o livro ter sido proibido a venda nos Estados Unidos em seu ano de lançamento. Mas o livro é bom justamente por trazer ESSA REALIDADE fantasiada de ficção á tona, para que todos possam conhecer a Carrie criada por Stephen King, e saber identificar a Carrie da vida deles, e quem sabe fazer o que a srta. Desjardin ou Sue Snell quiseram fazer (mesmo que pelos motivos errados), e não conseguiram: acolher ao invés de abusar e reverter a situação de uma garota ?estranha?.
Antes que seja tarde demais, e moremos todos no ?e se??