Fernanda631 31/07/2023
A Aventura do Pudim de Natal
A Aventura do Pudim de Natal foi escrito por Agatha Christie e foi publicado em 24 de outubro de 1960.
Único conto de Natal do livro, essa história de Hercule Poirot é uma verdadeira brincadeira de obviedades natalinas, como se a autora estivesse nos forçando a brincar de um amigo secreto misterioso. Está elencado o sempre bem-vindo humor e até cinismo do detetive belga, que é convidado, em extremo desespero, por representantes do governo e de uma “nação amiga” a passar o Natal em uma casa de campo e tentar descobrir o desaparecimento de uma rara joia, “perdida” (sim, entre aspas mesmo) por um príncipe prestes a se casar.
Todo o ambiente de preparação para a ceia de Natal (que na verdade é um almoço de Natal) e o constantemente citado “Natal tradicional britânico” dá ao leitor aquela sensação calorosa de estar acompanhando um mistério que bem poderia ter acontecido no quintal de sua casa, na mesma data, guardadas as devidas proporções. Os adolescentes, jovens, adultos e velhos; os donos da casa, os empregados; as brincadeiras, birras e outras tentativas de desviar o leitor não funcionam.
Se levarmos em conta a introdução que ela escreve, falando de seu Natal em família e das lembranças dessa data em um passado nostálgico, a trama ganha ainda mais significado.
Esse livro é uma coletânea de 6 contos escolhidos e organizados pela própria autora, sendo 5 onde o personagem principal é Hercule Poirot e 1 onde Miss Marple resolve o caso. Em todos eles, contudo, sobressai a maestria de Agatha Christie em criar cenários e personagens únicos, envolvidos em assassinatos e mistérios que prendem o leitor até o final. Além disso, como é também uma marca registrada de suas histórias, a solução do mistério nunca aparece do nada, as peças já estão dadas e os suspeitos já são conhecidos. O que os personagens fazem é juntar as peças da forma certa para solucionar o caso.
O primeiro conto é A aventura do pudim de natal, título do livro. Nessa história, Poirot é chamado para solucionar o sumiço de uma joia da Coroa dada em sinal de amor, mas que foi roubada. Ao ser levado à casa de um importante aristocrata inglês para os festejos de natal, Poirot consegue reaver o precioso rubi real mostrando uma grande inteligência em criar situações onde o verdadeiro ladrão se mostra facilmente. O mais surpreendente é que o leitor já sabe quem é o ladrão, mas acompanha com entusiasmo a forma como ele é desmascarado.
Em seguida, O mistério do baú espanhol. Outro excelente conto da autora. O que seria capaz de fazer um homem enciumado? Como lidar com o ciúme quando se é casado com uma linda mulher, sedutora e ao mesmo tempo recatada? O corpo do Sr. Clayton é encontrado dentro de um baú na casa do anfitrião Major Rich, menos de 24 horas após uma festa, na mesma casa, onde o Sr. e a Sra. Clayton deveriam estar. Citando Otelo e Desdêmona, personagens Shakespearianos, Poirot descobre que o ciúme contido durante anos criou no Sr. Clayton uma insegurança sem tamanho, o que ele não esperava é que um terceiro amante pudesse também estar envolvido.
Em O reprimido, Sir Reuben Astwell, um rico dono de minas de ouro, foi assinado em casa. No clássico mistério onde várias pessoas se apresentam com motivos e oportunidades para cometerem o crime. Poirot, como sempre, consegue esmiuçar não apenas o psicológico do homem assassinado para entender as motivações, como também refaz cada passo de cada um dos suspeitos, eliminando quase todos. No final, apesar de ser o menor dos suspeitos, o passível contador da família acabou reunindo todas as motivações necessárias para dar fim ao Sr. Astwell.
Em O caso das amoras pretas, outro conto onde a culinária tem papel importante, descobrimos que a mudança de hábitos de um velho homem podem mostrar muito mais do que aparenta. Henry Gascoigne comia sempre a mesma comida nos mesmos dias da semana no mesmo restaurante havia anos. Sem motivo aparente, mudou o cardápio nas duas últimas semanas, levantando uma suspeita em Hercule Poirot. O detetive belga descobriu, após algumas investigações, que o sobrinho de Henry o havia assassinado há duas semanas para ficar com a herança, e se passou pelo tio para não levantar suspeitas e criar um álibi perfeito. Não para Poirot que conseguiu descobrir tudo.
O último conto de Poirot é O sonho, onde um milionário chama Poirot para perguntar sobre um sonho recorrente que ele tem: exatamente às 3:28 ele levanta de sua mesa, pega um revólver e se mata. Sem conhecimento sobre sonhos, Poirot nada pode acrescentar. Contudo, quando da notícia da morte do milionário, o detetive junta as peças desse quebra cabeça e descobre que o namorado de sua filha, que era também secretário do milionário, forjou a morte deste para poder se casar com a herdeira.
O último conto tem Miss Marple como personagem principal, mas é o mais fraco em termo de mistério e conclusão. Uma mansão extravagante está em jogo em A extravagância de Greenshaw. A última herdeira da fortuna da família Greenshaw está sob a mira de herdeiros bastardos. Mais uma vez, há uma troca de papéis, ou seja, a governanta se passa pela Sra. Greenshaw, finge um assassinato para incriminar outra pessoa e ficar com a mansão. Só não contava com a sabedoria de Miss Marple para desvendar as motivações mais íntimas dos suspeitos e entregar a assassina à polícia.
São histórias curtas, mas repletas de suspense e de inteligência, ao melhor estilo Agatha Christie.