Jamayra Greyce 23/02/2020
Profundidade da simplicidade
Eu não planejava ler "Éramos Seis"; nunca tinha ouvido falar da história nem da autora. Até que um dia Isabella Lubrano soltou uma resenha sobre e reconheci a capa da edição dela: meu irmão tinha um exemplar igualzinho largado no quarto. Fui lá e catei pra mim, afinal, a opinião no Ler Antes de Morrer foi super elogiosa & toda chance que eu tenho de imitar a Isabella é agarrada com energia kkkkk.
"Éramos seis", premiado pela Academia Brasileira de Letras, da autora paulista Maria José Dupré, foi publicado em 1943. A julgar pela maioria das capas até agora, a obra promete ser voltada ao público infantil. Tanto é que na escola foi recomendado que meu irmão mesmo lesse ela no ensino fundamental. Porém, em minha opinião, é preciso ser pelo menos adolescente para aguentar o tranco dessa história fortíssima.
O livro conta a trajetória de vida de Dona Lola, que narra tudo em primeira pessoa. Acompanhamos alguns acontecimentos de sua juventude, mas o foco fica por conta da infância de seus filhos em diante. O leitor é posto a par, mais ou menos, da vida inteira dos Lemos (ou Abílios Lemos... não lembro agora). Os cenários são São Paula, Itapetininga e Santos, dos anos 1910-1940. A narrativa é predominante a respeito da família de Dona Lola e emoldurada por fatos históricos da época de uma forma genial.
Parei pra pensar um pouquinho e não consegui identificar um defeito nesse livro. Para mim ele é perfeito.
Primeiramente, apesar da linguagem empregada não ser de agora, não é nem um pouco complicado acompanhá-la. Fazia tempo que eu não lia algo tão fluído assim. Também é impressionante como em tão poucas páginas tantas coisas acontecem sem se atropelarem. Fiquei com a impressão de entendimento pleno, tudo que começava era finalizado sem enrolação. Não há nada de mirabolante na escrita; mesmo assim ela é capaz de transmitir emoções fortes e inserir o leitor na realidade dura de Dona Lola. A expressão "menos é mais" agora faz ainda mais sentido pra mim. Eu não esperava muita coisa dessa história; tudo me parecia simples demais, mas é justamente aí que se desenrola a beleza e profundidade do livro. Por último, não tenho como deixar de elogiar a construção dos personagens. Eles são incrivelmente humanos, é como se a autora tivesse vivido na pele de cada um deles antes de descrevê-los com tanta maestria. Todos tem suas qualidades, defeitos, justificações ou não; tudo se passa como vida real. Fiquei muito apaixonada e envolvida por essa história