Tina 24/03/2024
Uma epopeia americana-indígena
Depois da epopeia medieval iniciada no oriente em "O Físico", chegamos aos Estados Unidos da América nos anos 1800 em "Xamã". Robert Judson Cole, herdeiro do dom de percepção da eminência da morte, foge da Escócia após problemas políticos e finca raízes em Illinois, na região que um dia foi terra dos índios Sauks. De sua amizade com a tribo da região surge uma parceria com Makwa-ikwa, a Xamã da tribo, que passa a viver nas terras de Robert e ajudá-lo no tratamento dos doentes dos arredores.
A difusão de conhecimento médico decorrente dessa parceria permeia todo o livro, sendo uma temática fora do comum e repleta de ensinamentos. Nesse livro, Noah Gordon aborda, além da questão da dizimação dos índios, a escravatura, a Guerra Civil Americana, a cultura judaica, a intolerância religiosa e racial, e a surdez. Sim! Me surpreendi ao encontrar um personagem surdo em minha jornada como leitora. É ele que dá título ao livro.
O primogênito de Robert Judson Cole, Robert Jefferson Cole, fica surdo após contrair sarampo. Mesmo assim, ele não desiste de seu sonho de se tornar médico, como seu pai. Apelidado pelos índios de Xamã, ele cresce acompanhando o trabalho do pai e se apaixona pela Medicina. Um dos pedaços mais bonitos do livro é justamente a infância do menino e
as soluções encontradas para que ele pudesse ler, escrever, falar, e principalmente, sentir os sons. Vencendo preconceitos e limitações, acompanhamos a história desses dois homens dedicados à prática da Medicina ocidental aliada aos conhecimentos indígenas.
Foi uma leitura muito especial, pois tenho um carinho enorme por "O Físico" e estava super ansiosa para ler sua continuação. "Xamã" não parte de onde "O Físico" parou; o que temos aqui é a continuação da linhagem dos Cole em uma história cheia de personagens e assuntos relevantes, que em certos momentos se torna confusa e um tanto monótona. Mas a leitura flui e é bonito de ver o desenrolar da vida dos dois Roberts.