spoiler visualizarEnzo.Makihara 06/01/2024
?Sidarta? trata-se de uma breve história sobre um jovem filho de brâmane que, prodígio nas artes espirituais, abandona o lar para trilhar seu próprio caminho em busca do conhecimento e elevação.
É possível observar diversos elemento que caracterizam os livros de Hesse, como a figura de uma mulher experiente que conduz o protagonista em moldes que fogem ao amor tradicional, e a própria figura do ?herói? filho de uma casta elevada (ao que se pode fazer paralelo, por exemplo, com o protagonista de ?o lobo da estepe?, pertencente à pequena burguesia).
Li diversas críticas a respeito do livro, seja sobre a superficialidade com que a espiritualidade e a religião são tratadas, ou com a escrita relativamente simples que não se aprofunda nos conceitos budistas, e até mesmo críticas tecidas à arrogância do protagonista que no fim alcança sua paz e é lido como um ser superior. Entretanto, em minha leitura não enxerguei a pretensão de se fazer um aprofundamento na doutrina budista, inclusive o próprio protagonista despreza a doutrina, e parte do entendimento de que a sabedoria e a elevação espiritual não podem ser transmitidas em palavras. Dessa forma, não entendo prósperas as críticas que li, tampouco me incomodei com a arrogância do protagonista em sua adolescência, parecendo-me consequência natural da juventude e da reverência com que fora criado.
É um livro muito bonito, que abarca o autoconhecimento e o olhar para a vida de uma maneira espiritual e oriental, mas não por isso se distancia da forma do ocidente, afinal o próprio autor era alemão.
A jornada do herói, investida nas diversas mudanças de Sidarta ao longo da história, acabam por tornar-se um reflexo da própria vida, em que as mutações são inevitáveis, sendo cada indivíduo capaz de abarcar dentro de si uma pluralidade, que não por isso contradiz sua unidade.
O Sidarta, filho de brâmane; asceta; amante; rico comerciante; pai; barqueiro. Todas as suas facetas e transformações ao longo da história, representam uma coesa figura que finda por encontrar sua paz, construindo seu próprio caminho e se recusando a acatar doutrinas, aceitando a dor, o sofrimento, amando as coisas. Repleto de sensíveis reflexões, é um livro que facilmente pode seduzir o leitor pela beleza.
Ao fim, pode-se perceber que Sidarta não veio a ser o grande líder espiritual que esperavam os pais e os amigos, mas não por isso desperdiçou seu potencial, apenas enveredou, através das próprias escolhas, pelo destino que o levaria a sua própria elevação.
Quem pode dizer que falhou um homem que disse:
?tenho para mim que o amor é o que há de mais importante no mundo. Analisar o mundo, explica-lo, menospreza-lo, talvez caiba aos grandes pensadores. Mas a mim me interessa exclusivamente que eu seja capaz de amar o mundo, de não sentir desprezo por ele, de não odiar nem a ele nem a mim mesmo, de contemplar a ele, a mim, a todas as criaturas com amor, admiração e reverência.?