TatáVasconcelos 28/09/2017
Nunca Julgue Um Livro Pelo Nome do Ator Em Seu Título!
O romance de estreia de Carol Sabar parece ter sido formulado como uma fanfiction da saga Crepúsculo, ou com a pretensão de aproveitar o sucesso da saga e atrair os mesmos fãs.
Parece!
Se alguma dessas possibilidades é verdade ou não, simplesmente não importa, porque ela criou uma história tão divertida e autêntica, que realmente não faz a menor diferença qual tenha sido a intenção.
Na verdade, o tema é tão clichê na imaginação das fãs de qualquer ator, que torna impossível a qualquer pessoa não se identificar com a Duda. Não precisa ser fã de Crepúsculo, não precisa simpatizar com o Pattinson. Troque o nome dele no título do livro pelo ator de sua preferência. Façamos um teste: pense no Cauã Reymond (preferência nacional) ou no Bruno Gagliasso (idem) ou no Ian Somerhalder (Deus, me liberte dessa obsessão, ou me faça um desse sob medida, de preferência fluente em português!). Quem nunca se imaginou conhecendo um desses lindos? Conquistando-os? Namorando-os?
Não precisa ter vergonha. Todo mundo tem seu ator sonho de consumo.
E esse é o motivo porque é fácil se identificar com a Duda. Ela não esconde de ninguém – pelo menos, no princípio – sua paixão pela saga Crepúsculo, e sua obsessão pelo Robert Pattinson. E quando vai estudar inglês em Nova York, a primeira coisa em que ela pensa é ter uma oportunidade de estar na plateia de um programa de TV de que o Pattinson participe, encontrá-lo no caminho quando ele estiver indo embora e conseguir um autógrafo. Secretamente, claro, ela sonha ser muito mais íntima dele do que isso, mas sabe que seu primeiro plano é mais facilmente alcançável.
A última coisa que ela poderia esperar era ter um vizinho em Nova York que fosse a cara, o focinho, a imagem espelhada de seu ídolo!
Miguel, o vizinho brasileiro de Duda parece possuir apenas uma diferença de Pattinson: um tom ligeiramente diferente de verde na cor dos olhos. Fora isso, ele chega a confundir muita gente. E odeia isso! Odeia ser comparado com ele, odeia ser confundido com ele, e odeia quando alguém o aborda pensando que é ele. Se ele soubesse que tudo em que Duda consegue pensar é nele...
Mas ao contrário do que o título sugere, o romance entre Duda e Miguel não floresce muito fácil, porque o sósia de Robert Pattinson é um cara misterioso e escorregadio, e parece ter um segredinho, e um pretexto sempre na ponta da língua para afastar Duda. Quase sempre uma desculpa esfarrapada. Enquanto isso, Pablo, um amigo espanhol do curso de inglês está louquinho para ser mais do que amigo dela.
Soa familiar? Um belo moreno disputando a atenção da garota meio ingênua com um branquelo misterioso?
Pois é...
Imagino que tenha sido proposital Carol Sabar criar um paralelo tão nítido com os personagens de Crepúsculo. Duda é bem mais ingênua do que Bella e muito mais imatura, e ainda tem o agravante de estar morando num país cuja língua ela ainda está aprendendo a falar. Diferentemente de Bia, a protagonista de Azar o Seu!, o primeiro romance que li da Carol Sabar, tive certa dificuldade para gostar da Duda. Ela é divertida, engraçada e carismática, mas sua ingenuidade e sua obsessão pelo vizinho parecido com o Pattinson me causava certa irritação. Principalmente porque, durante o livro todo, ele deu a entender que não estava realmente interessado nela, e que se alguma coisa rolasse, seria simplesmente porque ela estava ali, disponível, e frequentemente atrás dele. E ela, tiete demais, sinceramente, parecia só estar interessada nele por causa de sua semelhança com o vampiro purpurinado. Foi uma suposta paixão que não me convenceu. E me deixava particularmente irritada a resistência dela em dar uma chance ao Pablo que demonstrava gostar dela de verdade, sem pretextos nem desculpas esfarrapadas.
O que, aliás, me lembra algumas das sensações que tive quando li Crepúsculo: sempre que Edward fugia, Bella se refugiava em Jacob, para depois voltar correndo, abanando o rabinho, ao primeiro assobio do vampiro. Terá sido de propósito de novo, Carol Sabar?
Bem, mas como eu disse em algum momento aí ao longo da resenha, apesar de imatura e ingênua, Duda é divertida e engraçada, e não dá para negar que ela é determinada. E, se por um lado, sua história de amor com Miguel não me convenceu a ponto de eu torcer pelo casal, pelo menos a história nos brindou com situações muito divertidas, como a vez em que ela o convenceu a se passar por Pattinson para vencer a multidão na Times Square no Ano Novo, e conseguir uma sacada num hotel de luxo para assistir à descida da bola e à queima de fogos de artifício. E o engarrafamento a caminho de Chicago, quando eles viajaram juntos de carro, porque o passaporte dela tinha ido passar o feriado em Barcelona (longa história!), impedindo-a de voar com os amigos.
Aliás, muito bem lembrado! Eu não posso encerrar essa resenha sem mencionar os amigos de Duda. Bem, Lisa e Margot, sinceramente, me cativaram menos do que sua irmã mais velha, Susana, que, embora muitas vezes parecesse não se importar muito se a irmã estava prestes a se ferrar, também estava sempre disposta a tirá-la das confusões, e cuidar para que ela ficasse bem.
Como (Quase) Namorei Robert Pattinson é uma história leve e divertida, capaz de arrancar boas risadas, mesmo se você não tiver a menor afinidade com a saga que a inspirou. É um bom exemplo de um livro longo que você lê sem sentir o peso de tantas páginas. É uma narrativa fluida, rápida e deliciosa. Perfeito para quem busca diversão, distração, e identificação – ao menos, até certo ponto – com a paixão de um personagem.
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