As vinhas da ira

As vinhas da ira John Steinbeck




Resenhas - As Vinhas da Ira


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Rodrigo1185 19/11/2023

"As Vinhas da Ira", escrito por John Steinbeck, é uma obra-prima que se passa durante a Grande Depressão nos Estados Unidos. A história acompanha a jornada da família Joad, agricultores expulsos de suas terras devido à crise econômica e à seca. O livro retrata com maestria as duras condições enfrentadas pelos trabalhadores rurais, a exploração dos grandes latifundiários e a luta desesperada por sobrevivência. Steinbeck utiliza a narrativa para expor as injustiças sociais e econômicas da época, destacando a solidariedade e a resiliência do povo diante das adversidades. Com personagens cativantes e uma prosa poderosa, "As Vinhas da Ira" é uma reflexão profunda sobre a humanidade e um retrato marcante de um dos momentos mais sombrios da história americana.
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Neila Porto 15/11/2023

Maravilhoso!
"As Vinhas da Ira" é um romance clássico escrito por John Steinbeck. Situado durante a Grande Depressão nos Estados Unidos, o livro narra a jornada da família Joad, que é forçada a deixar sua fazenda no Oklahoma e partir em busca de trabalho e uma vida melhor na Califórnia.

Steinbeck retrata de forma poderosa as dificuldades e injustiças enfrentadas pelos trabalhadores migrantes durante esse período sombrio da história americana. Através da história dos Joad, o autor aborda questões como pobreza, exploração, desigualdade social e luta por dignidade.

O romance captura a essência da condição humana diante da adversidade, explorando temas como solidariedade, esperança e resiliência. Steinbeck utiliza uma linguagem rica e descritiva para pintar um retrato vívido da paisagem social e econômica da época.

"As Vinhas da Ira" é uma obra-prima literária que nos convida a refletir sobre as desigualdades sociais, os desafios enfrentados pelos menos privilegiados e a luta pela sobrevivência em tempos difíceis. É um livro que continua relevante até os dias de hoje, destacando a importância da empatia e da compaixão em meio às adversidades.
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Tsukino_Usagi 08/11/2023

As vinhas da ira
Esse livro foi difícil de ler. Tive que parar muitas vezes porque a história trazia imagens muito fortes de morte e fome em minha cabeça. A família Joad, assim como muitas outras, tenta sobreviver como pode e lutar em busca do sonho da estabilidade perdida.
Os personagens dos quais mais gostei foram a mãe (sem um nome próprio e aparentemente sem vida ou razão de ser além da família), Tom (senti como se ele estivesse tentando se encontrar até perto do final da obra, quando ele compreende porquê lutar)e Casey (o pregador que pensava e falava demais).
Não tem como não relacionar a história com os dias atuais e relacioná-la com os refugiados de guerra que vivem situações como as descritas no livro, ou refletir sobre a desigualdade social (ou seria um abismo?) que aflige esse Brasil.
Enfim, após essa leitura tensa e impactante compreendi o motivo deste livro ser um clássico e recomendo a você, leitor(a) voraz!
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AleixoItalo 06/11/2023

Um manifesto pela posse da terra e pela igualdade social!
"de que maneira um homem que nada possui, pode compreender as preocupações dos que possuem alguma coisa?"

As Vinhas da Ira é um monumento literário, abalou o meio quando foi lançado, faturou o Pulitzer e foi um dos fatores preponderantes para John Steinbeck faturar o Nobel. A obra repercutiu nacionalmente e dividiu opiniões, foi rejeitada, proibida, queimada e aclamada pelos leitores. Hoje figura nas principais listas de livros mais importantes do século e é um livro de referência para o momento histórico retratado.

O principal foco da obra do autor são aqueles que foram "traídos" pelo sonho americano, personagens que foram "abandonados" pelo destino e precisam lutar para manter a dignidade que lhes resta. Antes de me aventurar pelas vinhas da ira, eu já tinha lido os formidáveis, Ratos e Homens e O Inverno da Nossa Desesperança, onde Steinbeck consegue tecer uma crítica social, sem criar grandes dramas e nem se utilizar de vilões, o grande objetivo é a luta dos personagens contra o penoso dia a dia, e onde os conflitos são ponderados pelas razões opostas dos envolvidos — Steinbeck é uma máquina de produzir diálogos memoráveis — fazendo um retrato multifacetado da sociedade.

Aqui porém, essa abordagem parece dar lugar para uma narrativa mais agressiva e panfletária, que apela para a empatia — ou a falta dela — do leitor. As Vinhas da Ira são um declarado manifesto, em meio as notas do autor referentes ao livro
estavam:

“Eu quero pôr um letreiro de vergonha nos bastardos gananciosos que são responsáveis por esta Grande Depressão e pelos seus efeitos." (...) “fiz o mais que pude para esfarrapar os nervos do leitor.”

Para entender o livro é preciso entender o momento pelo qual os EUA estava passando. A Grande Depressão de 1929 foi um período de recessão econômica tão intenso, que afetou diversos países no planeta, derrubando o PIB global e sendo até hoje considerada uma das piores crises que o Capitalismo já enfrentou. Uma retração no consumo interno e a queda nas exportações, estagnou a massiva superprodução norte americana. Sem ter para quem vender, os preços das mercadorias despencaram, desencadeando um efeito cascata que culminou, na queda de ações (o crash da Bolsa), em fortunas perdidas e milhares de empresas e bancos falidos. Como uma das estratégias econômicas dos EUA, era liberar créditos para os fazendeiros, a crise obrigou os bancos a cobrarem essas dívidas, resultando num amplo confisco de terras. Além disso, um outro efeito de causas ambientais também estava em ação, o chamado Dust Bowl, um evento de seca severa que assolou as Grandes Planícies Americanas, causado principalmente pela ação dos ventos e potencializado por práticas agrícolas agressivas que suprimiam a vegetação nativa.

A seca severa que assolou certas regiões do país por quase uma década, a tomada das terras por parte dos bancos e o uso do maquinário agrícola, que diminuía a oferta de empregos para uma população que vivia do trabalho braçal, desencadeou uma das maiores crises humanitárias que os EUA já enfrentaram, onde famílias inteiras precisaram deixar o lugar em que viviam em busca de emprego. Essa migração em massa, principalmente em direção ao oeste, desalojou milhares de pessoas que passaram a vagar a deriva procurando serviço, porém a altíssima procura dificultava a obtenção de trabalho além de baixar drasticamente os salários. Os sobreviventes dessa miséria, se espalharam pelas estradas ou se conglomeravam nos subúrbios das cidades, vivendo em Hoovervilles (favelas) e logo o ódio e o preconceito dos cidadãos locais recaiam sobre eles, por quem eram tratados como vagabundos.

É no meio dessa crise ambiental, econômica e humanitária que John Steinbeck nos apresenta aos Joad, uma família que perdeu sua terra e agora precisam reunir os poucos bens que lhes restam num velho caminhão e empreender a jornada ao oeste, para a longínqua Califórnia, onde há promessas de fartura e emprego. A jornada dos Joad é um verdadeiro épico nacional, atravessando estradas e paisagens icônicas eles precisam encarar a miséria e a injustiça, mas mesmo com a família se desmantelando pelo caminho, os Joad ainda mantém a cabeça a erguida na esperança de que uma hora as coisas irão se ajeitar. A travessia é quase uma decida ao inferno, cada vez mais próximos do destino, mais as condições de vida se tornam miseráveis, eles precisam habitar favelas, são perseguidos pelos "nativos", e precisam lutar para manter o sustento mínimo do dia a dia, e é nesse ambiente, que toda a verve de Steinbeck sobre as péssimas condições de trabalho, o preconceito, a exploração dos miseráveis e acima de tudo, a falta de união das pessoas é posta em prática.

Se nos outros livros que li do autor, ele ressalta os problemas sociais através de uma abordagem mais intimista das personagens, aqui é evidente seu objetivo em escancarar um problema específico que os norte-americanos pareciam querer ignorar. Por conta disso, As Vinhas da Ira tem um caráter inevitavelmente maniqueísta, a construção dos personagens principais se dá com a maestria habitual de Steinbeck, mas aqui são dotados de uma virtude santificada, ao contrário dos "vilões", uma vez que o autor opta por distanciamento destes, conferindo um caráter desumano não só ao sistema e à mentalidade capitalista, mas também aos fazendeiros, aos habitantes mais abastados e a polícia. Para John Steinbeck, a obra foi uma tentativa de expor o máximo do problema aos olhos dos cidadãos norte-americanos, fazer uma crítica aos seus principais causadores, um apelo à consciência de classe e à união dos prejudicados, pois essa seria a única maneira de se impor ao sistema — não é de se espantar que a obra causou rebuliço nos setores conservadores da sociedade, uma vez que Steinbeck apelava para a união dos trabalhadores, greves, sindicatos e revoltas.

Esse contraponto entre a população miserável e um sistema desprovido de humanidade, confere a As Vinhas da Ira nuances religiosas: os Joad fazem as vezes de um Jó bíblico, sofrendo sempre de cabeça erguida e esperando a justiça divina, enquanto o próprio discurso revoltoso de Jhon Steinbeck, convocando os trabalhadores a se revoltar contra seus "senhores", remete à vingança de Deus contra os ímpios. Além de diversas citações, o próprio título da obra faz menção à uma música religiosa baseada numa passagem do Apocalipse, The Battle Hymn of the Republic, um hino da Guerra Civil Americana — que possui uma versão bem popular aqui no Brasil.

Por essas e por outras, é inevitável que As Vinhas da Ira tenha esse aspecto maniqueísta, Steinbeck é ciente das nuances do sistema, mas optou por fazer dessa obra um manifesto sobre a desigualdade de classes e esfregar na cara da população sua revolta com o sistema: é impossível não se compadecer de pessoas passando fome e querendo trabalhar, enquanto os donos das terras — aqui sempre entidades invisíveis — queimam as produções simplesmente porque não existe para quem vender.

O mais interessante sobre Steinbeck é que suas obras geralmente não são tristes, o autor não gosta de trabalhar com vilões, nem com a maldade inata do ser humano. Em seus livros, personagens de classes diversas, empreendem confabulações memoráveis, gerando diálogos que enriquecem sua obra. Mas As Vinhas da Ira clamavam por uma abordagem diferente, era preciso narrar o drama dos migrantes escancarando o cerne do problema e é uma família, composta pelos principais arquétipos dos afetados pela Grande Depressão, o símbolo escolhido para a mensagem que Steinbeck decide passar!
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Caroline Vital 25/10/2023

Lido em 2018
Que livro fenomenal! Muito triste o fato da ganância não se retirar diante das dificuldades da sociedade. Que final incrível! E que família e que mãe poderosa! Virou favorito fácil.
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Ananda 22/10/2023

Um manifesto às falsas promessas
Uma família de meeiros é despejada pelo banco. Com um panfleto na mão seguem pela rota 66 em busca de trabalho, é uma viagem angustiante e dolorosa para a família que sacrifica alguns pelo caminho e ao chegar ao destino final, percebem que não há emprego nenhum pra eles.

Os personagens sofrem abuso do Estado, abuso dos latifundiários e abuso das instituições. Indignidade, exploração e fome é tudo o que a família consegue na Califórnia, com muita demanda de trabalhadores e pouca oferta de emprego, muitas pessoas no desespero acabam “aceitando” trabalho escravo, fazendo com que dono de terras lucrem com a miséria desse povo.

Depois de algumas semanas que eu tinha acabado de ler todo o livro, apareceu a notícia do trabalho escravo que estava acontecendo em Bento Gonçalves -RS, foi muito fácil ver várias pessoas relativizando o crime cometido, ou dizendo que os trabalhadores só eram preguiçosos, ficando duas provas cabais: a 1°, é que os Direitos Civis só servem para algumas pessoas, pras pessoas que tem dinheiro. E a 2° prova, é que a moral humana não avançou, que dizemos a mesmas coisas e cometemos os mesmos atos imorais que eram cometidos em 1939, há mais de 80 anos atrás.


P.S.: O final mais dolorosamente poético que já li.
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amandaleu 18/10/2023

Resenha de As Vinhas da Ira
A família Joad foi expulsa de onde morava, pois aquela terra agora pertencia aos bancos que a usariam como meio de lucro após as tempestades de areia. Aqui, acompanhamos a trajetória dos Joad após lerem em um folheto a promessa de trabalho na Califórnia. Em busca dessa terra prometida, onde as casas são belas, há muito trabalho, e até o cheiro e as frutas são diferentes do cheiro e das frutas de Oklahoma, o grupo enfrenta a escassez de recursos básicos dentro de um caminhão improvisado. Se aproveitando do desespero que a fome faz surgir, os proprietários ofereciam trabalho árduo e temporário por um salário ínfimo. Eles sabiam que pessoas assim aceitariam qualquer coisa em prol de sua sobrevivência e da vida daqueles que amam.

Nesta obra, John Steinbeck faz menção ao Dust Bowl (Tigela de Poeira), as grandes tempestades de areia, que atingiram em maior escala os estados americanos de planícies altas como Oklahoma, Texas, Kansas, Novo México, Colorado e Nebraska. O fenômeno provocou secas, pragas e, por consequência, fome.
Steinbeck, como jornalista, também pode acompanhar de perto a situação vivida pelas famílias atingidas não só pelo fenômeno poeirento, como também pela Grande Depressão americana (a quebra da Bolsa de Valores em 1929). Dorothea Lange, fotógrafa, conseguiu captar a população que passava pelos acontecimentos acima. Suas fotos eram sem cor não só pela época, mas o desespero captado naquelas pessoas deixou a vida sem nenhuma aquarela. Após observar a situação, Steinbeck se indignou com o esquecimento dessas pessoas pela grande mídia e achou na escrita de um livro uma forma de gritar a verdade por trás da fama de terra dos sonhos e possibilidades dos Estados Unidos. Acolhido por uma parte da sociedade e muito criticado por outra, a cortina aberta pelo escritor fez com que algumas coisas fossem modificadas em prol das pessoas que sofriam tais mazelas. O efeito poderia ter sido maior, mas no mesmo ano em que o autor publica sua obra, estoura a Segunda Guerra Mundial.
Um dos pontos mais interessantes foram as 'sutis' comparações bíblicas ao pentateuco: muitas pessoas peregrinam atrás de Canaã (Califórnia), uma terra que mana leite e mel (o trabalho, as frutas, a comida), após serem perseguidas pelo Faraó (os grandes proprietários) por ser forte o povo hebreu (Okies), podendo se rebelar e causar algum tipo de mudança nas estruturas hierárquicas. Já o título do livro é o próprio capítulo 14 de Apocalipse, em especial os versículos 18 a 20, onde Deus, em sua vinda, lança sua foice e colhe os cachos da vinha da terra, as uvas maduras (os pobres e oprimidos); e os ímpios (algozes) são pisoteados no lagar da ira de Deus.

Livro publicado em 1939, rendeu um Nobel de literatura ao escritor e foi adaptado para as telas em 1940. Dirigido por John Ford e estrelado por Henry Fonda (pai de Jane Fonda) como Tom Joad, Ford ganhou um Oscar pelo filme 'As Vinhas da Ira', se tornando um clássico atemporal.
Fabio 20/10/2023minha estante
Uau, que belíssima resenha!
Parabéns!


amandaleu 20/10/2023minha estante
Obrigada, Fábio! E vc tinha razão, é um livraço!!


#Caju 20/10/2023minha estante
P q vc deu 3 estrelas para Os suicídas do R. MONTES?


amandaleu 20/10/2023minha estante
Amg, eu amo os livros do Rapha, mas eu tenho algumas opiniões polêmicas sobre a forma com que ele aborda alguns assuntos. Eu fiz uma resenha sobre Suicidas, depois vc dá uma olhada. Mas basicamente eu sinto que ele é ótimo ao criar personagens detestáveis e acho que ele tá certo, porém em algumas ocasiões me parece que ele repete esses mesmos personagens nos seus outros livros. Fora que ele não sai daquele eixo Rio de Janeiro Zona sul, e os personagens parecem mais ainda serem os mesmos, sabe? E algumas falhas de caráter dos seus personagens se perdem muito, porque às vezes eu não sei se é o personagem que é escroto mesmo, ou se em parte é uma crítica velada do Raphael a alguns grupos específicos. Mas Jantar Secreto é maravilhoso, cinco estrelas e favoritado!


#Caju 20/10/2023minha estante
Blz então. Entendi bem entendido! Hahaha...Bem pertinentes suas ponderações! Gostei! Eu só li dele O Vilarejo e Uma mulher no escuro e gostei demais dos 2.


amandaleu 20/10/2023minha estante
Olha, Ju, recomendo super Jantar Secreto. Dias Perfeitos tb. Ainda não li Uma mulher no escuro, mas acho que vai ser a próxima história dele que eu lerei, marquei pra 2024 se não me engano. O Vilarejo é tão macabro que eu me senti até culpada por ter gostado tanto. Kkkkkk




Marília 17/10/2023

Como o ser humano é capaz de fazer outro ser humano sofrer só para satisfazer a própria ganância e egoísmo.
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Januska 07/10/2023

Livro pão
As vinhas da ira é aquele livro pão, que vai crescendo na sua cabeça depois que você termina a leitura. A história é triste, não tem um momento de paz durante a leitura e o final é de te fazer questionar sua vida e a humanidade. Fiquei encarando o teto pensando no final. Excelente livro.
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Bianca Martins 04/10/2023

Fiquei arrasada
Que escrita incrível, que história doída, que realidade ainda presente em muitos lugares e países.
Eu não conheço a história dos EUA e este livro me trouxe muitas reflexões, inclusive sobre similaridades com o Brasil.

Muitas frases do livro me fizeram parar de ler e ficar refletindo por minutos, querer conversar com alguém sobre.

Recomendo demais a leitura. É uma leitura forte, mas que tem a capacidade de te amadurecer.
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Eslen.Silva 29/09/2023

O capital consome o corpo e o espírito dos membros da raça humana, e a esperança que podemos ter na sua superação deve ser depositada na capacidade de auto organização e solidariedade da classe trabalhadora.
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Bells 29/09/2023

Uma grande obra
"E quando um cavalo deixa de trabalhar e se recolhe à cocheira ainda há vida nele, há respiração e calor, e suas patas pisam a palha caída, suas mandíbulas trituram o feno e as orelhas e os olhos continuam a se mover. Um calor vital reina na cocheira, o calor e o cheiro da vida. Mas quando para o motor de um trator, tudo para e tudo se torna morto feito o metal de que o trator é feito. O calor abandona-o como abandona o cadáver. E então as chapas onduladas são fechadas e o motorista do trator vai para a cidade de onde veio, talvez a uma distância de trinta quilômetros, e não precisa regressar por semanas ou meses, pois que o trator está morto. E isto assim é simples e cômodo. Tão simples que a satisfação que o trabalho proporciona desaparece, tão eficiente que o deslumbramento também desaparece dos campos, e com ele também some-se a profunda compreensão e ligação do homem com a terra, bem como sua ligação a ela. E no motorista do trator cresce, vai aumentando o desprezo, que só domina um estranho que não tem amor, não sente ligação à terra. Pois que a terra não é só nitrato, e também não é só fosfato; e nem o tamanho da fibra de algodão. O homem não é apenas carvão, nem sal, nem água, nem cálcio. Ele é tudo isto, e também é muito mais que o simples resultado de sua análise. O homem, que é mais que a sua composição química, caminhando na terra, desviando o arado de uma pedra, abaixando a rabiça de seu arado para poupar um rebento, calcando os joelhos na terra para comer sua singela refeição — esse homem, que é mais que os elementos que o compõem, sabe também que a terra é mais que o simples resultado de sua análise química. Mas o homem da máquina, fazendo rodar um trator morto através das terras que ele não ama e nem conhece, entende somente de química; desdenha a terra e desdenha a si próprio. Quando as portas de chapa ondulada são fechadas, ele vai para casa, e sua casa nada tem a ver com a terra."

A ultima cena do livro é surpreendente.
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Stella F.. 19/09/2023

Sofrido e Emocionante
As Vinhas da Ira
John Steinbeck - 1972 / 629 páginas - Abril

“E nos olhos dos homens reflete-se o fracasso. E nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as vinhas da ira diluem-se e espraiam-se com ímpeto, crescem com ímpeto para a vindima.” (pg. 480)

Joad pega carona em um caminhão e ao ser sondado pelo motorista, ficamos sabendo que é um ex-presidiário. Ele cometeu um homicídio e ficou na cadeia por quatro anos sendo liberado por bom comportamento. Está a caminho da casa dos pais. Aqui já tomamos conhecimento que os tratores estão expulsando os arrendatários por todo o caminho.
Ele desce do caminhão e andando a pé, descansando aqui e ali encontra com Casy, um ex-pregador. Conversando meio ressabiados, descobrem que se conhecem assim como conhece sua família. Vão discutir sobre religião, fé, certo, errado e Casy vai contar por que deixou de ser pregador. Então seguem viagem juntos.

Ao chegarem na antiga casa, eles veem que está vazia e toda derrubada, assim como as do entorno de toda vizinhança. Encontram Mulley, um antigo conhecido de Joad que permanece no local por rebeldia. E conta a eles que quem derrubava as casas era um deles, e alegava precisar de dinheiro. Passava o trator sem dó nem piedade, dizendo que se não fosse ele, seria outro. Descobrem então que os pais estão na casa de um tio, e seguem para lá.

O encontro é emocionante e todos querem saber se Joad fugiu. E ele conta que não. Conta detalhes dos acontecimentos que terminou na sua prisão e conhecemos as personalidades e características físicas dos personagens do pai, mãe, avô, avó e todos os irmãos, que iremos acompanhar por todo o percurso dessa família em direção ao Oeste, em direção à Califórnia. Estão arrumando o caminhão para a partida, e ficam radiantes que ele tenha chegado a tempo. Já venderam tudo o que era necessário, e aqui tomamos ciência do grande negócio dos ferros velhos, que enganavam todos aquelas pessoas que estavam migrando oferecendo uma miséria por seus bens, e passando a perna neles. Havia uma campanha dos sonhos, de que lá, seriam felizes, donos de terras, e poderiam cultivar o que quisessem.

O autor intercala capítulos gerais e particulares onde trata de assuntos pertinentes a essa escalada para o Oeste, onde vai nos falar desse êxodo e tratar de alguns questionamentos pertinentes em forma de pequenos ensaios. Vai nos mostrar um pouco da crueldade dessa época, da escravização, do preconceito, dos baixos salários e da crise geral como o clima, poeira que estragava as plantações, a ambição e tentativa de ganhar mais dinheiro por parte de quem já tinha muito, valor de mercado, entre outros assuntos.

Em um dos primeiros ensaios vai contrapor Homem da Terra x Homem do Trator. Logo em seguida conhecemos o mapa da Estrada 66 e todas as cidades que a cortam, as saídas, os estados e montanhas. Vemos por toda a estrada caminhões abandonados, porque muitos deles não tinham condições de seguir por uma estrada, um caminho tão cheio de percalços, desertos, e na maioria das vezes, como na família de Joad, eram caminhões montados, adaptados e abarrotados de coisas e pessoas.

Enfim saem para o Oeste e passam muito aperto e logo no início tem a morte do cachorro, em seguida a morte do avô, e todo o questionamento de onde enterrar, porque dependendo da situação ainda teriam que dar dinheiro ao governo. Optam por enterrá-lo sem chamar a atenção. Ficam tristes e se sentem culpados por não dar dignidade, mas é o que podem no momento. Não tem dinheiro para nada.

Mas o caminho também é feito de amizades, pessoas que estão na mesma situação, entendem o que os outros estão passando, e por vezes fazem o caminho juntos para diminuir a solidão e o medo.

Depois de conseguirem um acampamento, são expulsos à força sob ameaça de colocarem fogo e queimarem quem ficasse. As pessoas do oeste detestam esses migrantes. E fazem de tudo para eles não ficarem muito tempo em um só lugar, para não criar ideias de se revoltar, e reivindicar salários melhores. Saem então em direção ao sul e encontraram um acampamento do governo onde há comitês, as próprias regras, ajuda aos necessitados, além de banheiro, chuveiro e tanques para lavar roupas. Tudo funciona e o pessoal já está querendo acabar com isso, para os migrantes não pensarem que podem viver como gente.
Em outros capítulos intercalados o autor vai tratar da metamorfose incipiente, sobre o que é o homem e o que quer, compara os tratores que estão arrasando com a terra dos outros a um tanque de guerra além de falar do começo do Eu (o dono) para o nós (os exilados). Vai falar também do amor pela terra em contraponto ao amor pelo dinheiro.

O livro foi finalizado e a leitura foi excelente! Adorei e li muito rápido para um calhamaço (1 mês). Trata do desamparo das pessoas em êxodo, procurando um local de trabalho, um lar, uma acolhida que não foi recebida. Muita exploração, miséria, preconceito, mortes, humilhações, mas também muita solidariedade, perseverança, aprendizado, amizade e superação. Salários de acordo com o mercado, medo por parte dos empregadores de uma revolta dos okies, como eram chamados os migrantes, que não foram para a Califórnia por desejo, mas sim por necessidade, para ter um ganha pão. A saga da família Joad e suas perdas, e superações, ao mesmo tempo angustiante, e emocionante. Uma mãe que é uma fortaleza, e que no lugar do Pai assume todas as responsabilidades para que a família permaneça unida, mesmo querendo desistir de tudo, após a perda das suas terras, e de alguns entes queridos que se perderam pelo caminho, morrendo ou mesmo desistindo. E o final foi surpreendente!

Fui acompanhando a narrativa deliciosa, muito bem escrita, e que não dava vontade de parar de ler. Há muito tempo não sentia isso com um livro, em meio a tanto sofrimento e angústia ficamos torcendo pelos personagens e queremos que de alguma maneira encontrem um lugar ao sol, uma dignidade e sobrevivência mínima que seja. Que sejam mais bem tratados. É um livro fluido. E um símbolo de resistência. A cada problema sempre dão um jeito de viver mais um pouquinho, de não desistir. Não têm para onde voltar! Gostei da escrita do autor e do jeito de intercalar capítulos gerais, menores, e capítulos das famílias e acampamentos, em textos maiores. Uma crítica feroz sobre o sistema, os preconceitos, a exploração escrava dos migrantes, e a falta de empatia e compaixão por parte dos americanos que viam os migrantes como intrusos.

“Eles eram famintos e ferozes. E tinham tido a esperança de encontrar um lar, e só encontravam ódio. Okies..os proprietários odiavam-nos porque sabiam que eram fracos e que os okies eram fortes, e que eram bem nutridos e que os okies passavam fome. [..] E os trabalhadores odiavam os okies porque um homem esfomeado tem que trabalhar, e, quando precisa trabalhar e não tem onde trabalhar, automaticamente trabalha por salário menor, e aí todos têm que trabalhar por salários menores.” (pg. 315)

“Aí, isso tudo não tem importância. Aí eu estarei em qualquer lugar, na escuridão, estarei no lugar que a senhora olhar à minha procura. Em toda parte onde tenha briga pra que a gente com fome possa comer, eu estarei presente. Em toda parte onde um polícia ‘teja maltratando um camarada, eu estarei presente. [..] Estarei onde a nossa gente ‘teja berrando de raiva... e estarei onde crianças ‘tejam rindo porque sentem fome e sabem que vão logo ter comida. E quando a nossa gente for comer o que plantou e for morar nas casas que construiu..aí eu também estarei presente.” (pg. 580)
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v de vanisse 12/09/2023

Aqui são os Estados Unidos, e não a Califórnia
E pensar que eu comecei a ler esse livro por conta de uma obra chamada Bungou Stray Dogs. Sério. É um anime onde todos os personagens representam um autor da literatura clássica e quando um certo personagem chamado John Steinbeck apareceu, eu pensei: ?esse aí eu não conheço? e cá estou chorando que nem uma desgraçada com a obra dele.
A escrita do autor é acessível e sensível. Você se apega a todos os personagens e torce por eles até o fim, mesmo perdendo as esperanças junto com eles.
Definitivamente foi um dos livros mais tristes que eu já li na minha vida, mas também foi um dos melhores. Se tem alguém que mereceu o prêmio Nobel de literatura, esse alguém foi John Steinbeck.
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Tami Silveira 31/08/2023

As vinhas da ira
O que a miséria pode fazer com o ser humano?
Nesta história acompanhamos o êxodo rural nos Estados Unidos. Onde a família Joad sai de Oklahoma em busca de uma vida melhor na Califórnia. A história é uma crítica contra os grandes produtores, indústrias e bancos. Que utilizavam de artimanhas para ganhar mais dinheiro e usurpar dos trabalhadores. Só por isso achei o livro bem interessante, mas a gente acaba acompanhando a família e acaba se apegando aos personagens, mesmo com todo sofrimento eles iam em frente e se mantiveram pessoas boas e generosas. A gente percebe também o quanto isso afetou as crianças, pois elas cresceram em meio a tudo aquilo e se tornaram mais "selvagens".
Minha única crítica é não saber sobre o que aconteceu com o Tom depois que ele foi embora. Achava ele o personagem principal da história e ele acabou não tendo um desfecho.
O final achei bem perturbador... mas depois de um tempo refletindo creio que o autor quis mostrar o nível de miséria e que os parâmetros não são os mesmos que a nossa realidade. Na realidade deles os princípios, valores e leis mudam e tudo o que importa é sobreviver.
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