Aione 24/09/2020Tony & Susan estava há tempos na minha lista de leitura. O romance de Austin Wright originalmente publicado na década de 1990 chegou ao Brasil pela Intrínseca em 2011 e foi adaptado para os cinemas sob o título Animais Noturnos.
Susan não ouvia notícias sobre o ex-marido, Edward, há cerca de 20 anos. Então, ela se surpreende ao receber o manuscrito de seu livro, Animais Noturnos, e o pedido de que o leia, para dar sua sincera avaliação crítica. Ao embarcar na história de Tony, cuja família é sequestrada em meio a uma viagem de carro, Susan se vê abalada pela história e transformada por ela.
Minha impressão antes de iniciar a leitura era a de que Tony & Susan era um thriller psicológico. De certa maneira, não me enganei, mas não encontrei nas páginas o tipo de suspense que eu estava esperando. Em primeiro lugar, a narrativa de Animais Noturnos é mais extensa do que a narrativa primeira, então acompanhamos por mais tempo Tony do que Susan propriamente dita. Apesar de ter gostado da escrita de Austin Wright — muito bem elaborada —, não consegui dar a atenção devida à leitura naquele momento. A narrativa exige um pouco do leitor e, sem estar completamente imersa nela, certamente perdi muitas das camadas que Animais Noturnos apresenta e que possibilitam estabelecer relações entre o manuscrito e Susan.
Ainda assim, se pensarmos em termos de suspense, a história de Tony, escrita por Edward, é eletrizante de um jeito mais óbvio do que a de Susan: afinal, o personagem tem sua família sequestrada e se envolve em situações inusitadas na tentativa de encontrar os encarregados pelo crime. Porém, a história de Susan também carrega tensão, ainda que psicológica. Ao ler o manuscrito, Susan passa a relembrar o passado com Edward. Mais do que isso: as impressões que ela passa a ter sobre o livro do ex-marido pouco a pouco transformam as lembranças que ela tinha dele, como se ela, de repente, começasse a enxergá-lo sob uma outra ótica. Em decorrência, seu próprio casamento atual também é afetado. Dessa maneira, a habilidade de Austin Wright está em construir uma transformação completa dentro de sua personagem sem que absolutamente nada aconteça externamente a ela. Sem essa compreensão, a leitura de Tony & Susan parece terminar em um anticlímax, no qual o leitor possivelmente estaria esperando por uma grande revelação ou reviravolta sem que tivesse recebido isso do autor nas páginas finais. Contudo, a reviravolta aconteceu: a Susan do final certamente não é a mesma do começo — e sua modificação se deu pelo poder de um livro.
Embora Tony & Susan tenha sido uma leitura mais lenta — arrastada em alguns momentos — e que exigiu de mim uma atenção que não pude oferecer, foi um livro que me agradou bastante tanto pela escrita primorosa do autor quanto por uma de suas temáticas ser o impacto da literatura sobre nós. As passagens descrevendo os efeitos da leitura de Animais Noturnos em Susan estão, certamente, entre minhas favoritas do romance.
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