Ópera dos mortos

Ópera dos mortos Autran Dourado




Resenhas - Ópera dos Mortos


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Frankcimarks 03/07/2020

O esmero da linguagem
Terceiro livro do Autran Dourado lido nesse ano. Até agora esse foi o que mais gostei. Não é a toa que dei 5⭐.

O livro é muito bem construído. Dá pra notar o esmero da linguagem usada. Certeza que o autor utilizou muita simbologia para criar as personagens, bem como fez uso de metalinguagem. O casarão é, a meu ver, a peça chave do romance.

O que mais me agrada em Autran é sua simplicidade e fluidez, uma delícia de texto. Geralmente ele retrata a vida do interior de MG. Nesse caso, a da família Honório, família importante e respeitada por todos os habitantes de uma pacata cidade. Rosalina é nossa protagonista, órfã de mãe e pai, ressentida e enclausurada em sua casa. Sua única companhia é uma mulher muda. Sua vida muda com a chegada de Juca passarinho, um caçador, conversador todo, contador de histórias.

O livro quase não tem diálogos, mas é imersivo. Conhecemos cada personagem de dentro pra fora. Pura narrativa brasileira.
Antonyassy 18/10/2022minha estante
Como se lê livro por aqui


Frankcimarks 21/10/2022minha estante
Aqui vc apenas registra suas impressões...


Perdida_nas_Estrelas 03/03/2023minha estante
Sua resenha me fez querer ler




Max 06/01/2024

Ópera...
Estando em minha lista de leitura há algum tempo, resolvi lê-lo após a enésima indicação de amigos booktubers.
À medida em que avançamos na leitura, vislumbramos uma escrita feita com muito estilo, envolvente, muito bem estruturada. Sua capacidade de manter um certo mistério, não nos dando nenhuma ideia para qual lugar nos dirigimos, equilibrando-se sobre uma linha fina e tênue, balançando-nos ora para um lado ora para o outro. Há ainda trechos espetaculares de narrativa fora do comum, deixando claro que é sim uma obra singular.
Vou já por mais um livro do autor na lista, gostei muito!
Recomendo!?
Edneia Albuquerque 06/01/2024minha estante
Fiquei curiosa Max, vou acatar sua recomendação!


Max 06/01/2024minha estante
Espero que goste, Edneia, há trechos do livro que ficamos sem fôlego, paralisados pela narrativa! Grata surpresa!?




Pandora 13/04/2023

Ah! Nada como os mineiros para narrarem histórias sobre casarões e tragédias que levam à derrocada as famílias que neles habitam. Vide Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso.

Ópera dos Mortos, considerada a obra-prima de Autran Dourado, foi publicada pela primeira vez em 1967. Faz parte de uma trilogia que inclui também Lucas Procópio (1985) e Um cavalheiro de antigamente (1992), que embora tenham sido lançados depois, tratam de eventos anteriores aos descritos em Ópera dos Mortos.

O livro conta a história de Rosalina Honório Cota, herdeira de João Capistrano, por sua vez herdeiro de Lucas Procópio. O avô tinha sua importância como fundador da cidade, mas era temido e odiado por muitos. Violento, violador, quando morreu foi um alívio para todos. Já o pai de Rosalina era sério, correto e querido pelo povo, até que um dia decidiu meter-se na política e ingênuo nas manobras do ramo, foi traído nas eleições, fechou-se completamente e rompeu com todos, exceto seu compadre Quincas Ciríaco.

Numa casa em parte construída a mando de Lucas (o térreo), em parte complementada por João (que a torna um sobrado), agora sem manutenção e fechada para visitas, Rosalina vive com a empregada Quiquina, negra, muda e uma espécie de mãe para ela, sua ponte com o povoado com o qual ela pessoalmente não interage, a não ser com Emanuel, filho de Ciríaco - que vê uma vez por ano - e através das flores de papel e de pano que faz e Quiquina vende por aí.

Apesar de no passado ter se enamorado de Emanuel, Rosalina nunca se casou para não abandonar o pai, que no dia da morte da mulher, Genu, ao ver a casa cheia de gente que viera tentar uma reconciliação, simbolicamente para um relógio-armário que todos admiravam, mostrando assim que tudo havia acabado, que seu rompimento com a cidade era definitivo. Quando ele morre, a filha faz o mesmo, parando outro relógio e trancando-se no sobrado.

Um dia chega à cidade José Feliciano, o Juca Passarinho, que procura por uma atividade rentável que não tome todo o seu tempo e encontra no casarão da família Honório Cota sua oportunidade, já que a propriedade precisa de reparos dos quais Quiquina não dá mais conta e Rosalina não quer contratar nenhum local, já que herdara do pai o ressentimento pela “gentinha” do lugar. Juca, homem alegre e falador, contador de causos, faz logo conhecidos na cidade, sai pra todo lado e traz ânimo e barulho para aquela habitação sempre tão silenciosa; traz vida. Porém, também desperta sentimentos e sensações adormecidos. A dinâmica há tanto tempo estabelecida entre aquelas duas mulheres sofre um abalo.

Segundo o próprio Autran Dourado, em seu livro Uma poética de romance: matéria de carpintaria, a primeira ideia para o seu livro surgiu da frase “É preciso enterrar os seus mortos”, uma reminiscência de Antígona, de Sófocles. E alertou: “Pense-se no livro como tragédia, mais do que como romance, e se terá uma melhor leitura. Os mortos de Rosalina e os mortos de Antígona. Os mortos-vivos”.

Os mortos, neste romance, permeiam toda a narrativa: seja nos conflitos de Rosalina, que ora vê em si o pai, ora o avô e sacrifica o viver, isolando-se, orgulhosa, a fim de demonstrar à cidade o desprezo imposto por João Capistrano; ou seja nas lembranças de Juca Passarinho, que sonha com o padrinho Lindolfo, sua mulher Vivinha e o menino Valdemar; eles que atuam como sua consciência. Os relógios parados no casarão mostram que a vida estancou lá atrás.

A narrativa toda é de um esmero linguístico e construção de personagens apurada, mas destaco no capítulo 7 a maestria com que Autran Dourado nos transmite toda a angústia da personagem após uma situação embaraçosa em que ela temia reencontrar os envolvidos. Quem já passou por isso sabe como é difícil e como tentamos achar uma saída a fim de evitar o confronto, pensamos em opções tão ridículas quanto absurdas, porque na verdade queríamos apagar o acontecido. Até que precisamos encarar a verdade e as pessoas.

E como encarar a verdade e as pessoas quando é necessário, para Rosalina, perpetuar a figura mítica que se tornou, a dama quase etérea, cujas humanidades são desconhecidas de todos?

Escreveu Autran: “Não é apenas um livro do passado imperfeito, nele não há (só se foi por descuido) verbo no futuro. Como não há futuro para Rosalina. É sempre “vou fazer“, nunca “farei“. Dizer o futuro é afirmar-se, é sair do passado, do mundo dos mortos, é ser.”

“Mortos insepultos continuam assombrando os vivos; enterrar os nossos é nosso direito e dever.” (Regina Liberato, psico-oncologista, no artigo Enterrando nossos mortos dentro de nós.)

Livro maravilhoso que recomendo fortemente.

Notas:
1. Entre os escritores que contribuíram para sua formação literária, Autran Dourado citou William Faulkner. Seu conto A rose for Emily, de 1926, é sobre uma aristocrata falida de uma cidade fictícia do sul dos Estados Unidos, pós guerra civil, que vive reclusa em seu casarão, tendo somente um empregado negro e que se envolve com um trabalhador chegado do norte após a morte de seu pai.
2. Em sua dissertação de mestrado, “Casas e rosas: metáforas da (re)criação literária em Ópera dos Mortos e A Rose for Emily”, Fernanda Mendes Oliveira Figueiredo faz uma análise comparativa das duas obras, buscando “explanar as semelhanças entre as narrativas, o processo de construção dos escritores e a constituição da tradição individual”.
3. Ópera dos Mortos está entre as obras listadas na Coleção de Obras Representativas da UNESCO (projeto que funcionou entre 1948 e 2005). Visava traduzir da língua original para uma língua internacional (inglês ou francês) obras representativas da cultura de um país.
4. Autran Dourado escreveu romances, ensaios, memórias, contos e artigos e foi agraciado com os prêmios Goethe de Literatura, Jabuti, Camões e Machado de Assis. Faleceu em 2012.
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Otávio - @vendavaldelivros 15/07/2022

“João Capistrano tinha nos olhos a tristeza macerada de homem que luta com as sombras.”

Gosto de pensar que cada família tem uma história épica, mesmo que o termo tenda a ser aplicado somente em histórias fenomenais, com reviravoltas e grandes finais. Na verdade, toda família tem em si várias histórias épicas porque cada pessoa tem em si um infinito de sentimentos, dores, amores e possibilidades. Em qualquer lugar, em qualquer época, cada ser humano reuniu em si uma história épica, mesmo que só para ele e para os seus.

Oitavo livro do mineiro Autran Dourado, “Ópera dos Mortos” foi publicado pela primeira vez em 1967, vinte anos depois do primeiro livro do premiado autor brasileiro que, hoje em dia, é pouco debatido e conhecido fora de meios mais acadêmicos.

Na obra encontramos a decadência da família Honório Cota, representada nesse “fim” por Rosalinda, cujo pai e avô eram figuras marcantes da cidade e possuíam personalidades distintas e quase opostas. Enquanto o pai João Capistrano era um homem seguidor das leis e respeitado por seu caráter, o avô Lucas Procópio era conhecido pela violência, bravura e por impor respeito através do medo.

Ponto focal e importante do livro também é o sobrado, a casa dos Honório Cota, que por muito tempo foi a mais bela da região e representava, na arquitetura e na rotina, as histórias de cada um dos principais representantes da família. Ali estava marcada a violência de Lucas, a honra de João e a solidão de Rosalinda.

Ópera dos mortos é um livro que exige tempo e paciência. Tempo para mergulhar nas mentes perfeitamente construídas por Autran Dourado e paciência para entender que grandes histórias não demandam grandes plot twists. Belo, singelo, doloroso e profundo, o livro é um exemplar potente da literatura nacional. Uma história que respeita os regionalismos, mas traz em si muito da tragédia grega, misturando tudo em um caldo cultural dramático e bem construído. Leia esse livro sem pressa. As portas e janelas do sobrado só se abrem àqueles que tem paciência, tal como, muitas vezes, são o coração e a mente dos seres humanos.
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Carlos Nunes 31/07/2020

Uma pequena obra-prima
Observando o título e a capa dessa edição, não dá para se ter a menor ideia do que se trata o livro. O início do livro causa uma certa estranheza. Mas a beleza da escrita cativam logo no início, e à medida que a trama vai se desenrolando, o leitor vai se sentindo cada vez mais preso. Livro com uma história simples, poucos personagens, mas narrado de uma forma fantástica! A trama acompanha a chegada de um forasteiro, o Juca Passarinho, falastrão, mulherengo, que adora uma caçada, a uma cidadezinha de Minas, e lá fica sabendo da história do único casarão da cidade, que se destaca na paisagem, e está praticamente em ruínas. Nele moram apenas a jovem Rosalina e uma criada muda, a Quiquina. Rosalina há anos vive isolada, sem nenhum tipo de contato com qualquer pessoa de fora. Intrigado com essa situação, ele resolve empregar-se no casarão e descobrir os segredos por trás daquelas paredes. O livro é narrado fora de ordem cronológica, com algumas mudanças de foco narrativo, e até mesmo, em vários momentos, fluxo de consciência. São descrições longas, mas bastante poéticas, com muita simbologia nas entrelinhas. Um livro magnífico e pouco conhecido, ao qual vale muito a pena dar uma chance.
Evelize Volpi 16/01/2022minha estante
Carlos, sua resenha sobre esse livro foi maravilhosa.
Acabei de chegar nele pelo skoob, acredito que vale a pena dar uma chance.




Ludmila 14/12/2021

Que livro lindo! Sensível, delicado. Uma forma de escrita e uma história maravilhosas. Não dá vontade de parar de ler.
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debora-leao 20/04/2024

Um respiro gelado na alma que faz os olhos lacrimejarem.
Uma lindeza de livro. Já aviso que a emoção me tolherá as palavras nese texto.

Nunca imaginei que ler um fluxo de consciência pudesse ser tão fácil e exigir tão pouco. Em geral, este tipo de escrita mobiliza muito minha atenção, e concentro sua leitura em momentos específicos do meu dia e da minha noite, mas este eu me peguei lendo a todo momento disponível. Ao contar a escolha e forma de vida de Rosalina, Autran Dourado traz uma narrativa constituída nos silêncios, nos espaços pequenos de memórias, de observações, de ratificações de decisões impossíveis (para nós) e também as únicas possíveis (para ela).

Li em algum lugar (do qual não me recordo) que esta obra era uma recriação do mito de Antígona. Eu, que nunca o li (ainda que o conheça), sinto-me motivada (e convencida) para lê-lo, agora. Agora, eu, que tenho tanta dificuldade de imaginar coisas tão idiossincráticas à cada época, em vez de encontrar restos de dilemas gregos hoje já secularizados, espero encontrar ecos de dúvidas da moralidade humana, ou mesmo ecos dos nossos protestos de amor. Por causa de "Ópera dos Mortos", espero encontrar reflexão sobre nossas formas de significação e(m) luto - que fundamentalmente representa, claro, nossa guerra aberta à mortalidade e à ausência de sentido que esta confere, por sua vez, à vida.

Encantei-me com o regionalismo da obra, que me parecia estranho no início, deslocado pois não sou mineira. Mas é o tipo de obra que você quase "ouve" - sente-se o sotaque, e ao longo dos dias sente falta de alguém no seu cotidiano que lhe fale assim. Que lhe fale com calma, mas conte sobre o profundo da vida. Eu me senti muito mais próxima da obra pela sua linguagem, um Saramago leve, doce, quase em tom de confidência mesmo.

Juca Passarinho me encantou também, ainda que duvide um pouco de seu caráter. Não resisti: seus pensamentos são alegres, solares, cheios de energia pela vida, mas contém reflexões importantes, dentro do que é possível para alguém que é como Juca. Ele nos mostra que é possível passar pela vida e vê-la, verdadeiramente, em suas pequenezas tão absurdamente vastas, mesmo sem a lente dos livros, da pena, do papel, dos auditórios e da Academia. Além disso, Juca (ou José Feliciano) vive em todas as dimensões temporais, em passado, em presente e no futuro, trazendo um ótimo alívio para o passado constante, sufocante e solitário de Rosalina.

Achei, também, ser um livro muito visual. A partir da descrição inicial do sobrado, VI tudo que aconteceu, dentro dos detalhes necessários. Rosalina tinha seu rosto borrado, exceto em algumas das noites, para mim... às vezes, também durante seus bordados. Via que para mim a casa era repleta de madeira, o jardim era abafado e repleto de sombras para descansar, com flores vermelhas e amarelas, rasteiras, e apenas uma árvore no fundo... Se ela existisse, com tanta aura mágica, eu diria que gostaria muito, se não de ter estado lá muito tempo, de ter visto essa casa ao menos uma vez na vida.

Não tenho certeza, contudo, se entendi o final desta leitura. Autran nos apresenta... Uma nesga de futuro? Qual futuro? Após tantas tristezas idiossincráticas? De fato, termino o livro pensando em futuro, após tanto mas tanto de passado! Não, de fato, não sei se entendo o final. Mas, também, não acho ser preciso. Parece-me que amarrar o livro lembrando da história concreta em vez da vida que acontece dentro de nossa mente é uma decisão fantástica que nos diz para voltar à vida real, que diz que há, sim, uma vida real, mas que o que foi contado também poderia ter sido uma vida comum...

"Ópera dos Mortos" tornou-se um favorito meu que guardarei com muito carinho. Não tenho como recomendar o suficiente. É um respiro de ar gelado que banha a alma, invadindo-a, refrescando-a. Certamente estará no pódio das leituras de 2024. Eu não tenho como recomendá-la o suficiente.
Vania.Cristina 21/04/2024minha estante
Ai que legal, Debora!!! Sua resenha me faz ficar com ainda mais vontade deste livro.


debora-leao 22/04/2024minha estante
Vania, vale tanto a pena... Pra mim o livro se tornou um favorito. Já até comprei outros dois livros do autor. Espero que quando você o ler goste também!




Lucas.Batista 26/01/2021

Colocou o autor no meu panteão dos melhores autores brasileiros.
desde pequeno, minha mãe sempre me recomendou dois autores: Guimarães Rosa e Autran Dourado. De Guimarães eu já li tudo, agora, admito que o clique para ler Autran foi um vídeo da Tati Feltrin.
E como eu perdi tempo...Desculpe, mãe kkk.
Tudo o que faz de um autor, um BOM autor, está presente aqui: Domínio narrativo, controle total sobre o ritmo, apresentação de personagens com aprofundamento na medida certa... enfim tudo.
E tudo o que de um autor, um EXCEPCIONAL autor, também está aqui: Personagens com psique trabalhada ao limite, com uma profundidade que deixa o leitor crente de que aqueles personagens e fatos são reais; de que eles, de fato, ocorreram. Transmitir ao leitor toda uma angústia, raiva, medo, nojo, amor, carinho... fazer com que, ao lermos o livro, passemos por uma experiência que em nada fique devendo às sensações que temos quando ouvimos um fato real. Poucos são os autores que conseguem fazer o leitor maduro adentrar de tal modo sua ficção, que se sinta assim.
Pois Autran faz isso em Ópera Dos Mortos, e eu só posso dizer que lê-lo foi uma experiência incrível que ficou comigo e me marcou. Já adquiri outros 5 livros do autor e pretendo ler a obra completa.
Mais do que recomendado.
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Mirella.Maria 28/08/2023

Hipnotizante
O primeiro aspecto que salta aos olhos ao longo da leitura, claramente, é a linguagem. Percebe-se um cuidado minucioso na escolha das palavras e no trabalho do fluxo do pensamento dos personagens. É avassalador. Lembra demais outros tantos autores incríveis como Lygia, Lúcio Cardoso, Virginia Woolf e etc.

Também impossível não se apaixonar por Juca Passarinho e suas histórias.

Realmente, um livro que faz jus à escolha da UNESCO como uma das obras mais representativas da literatura mundial. Uma pena que Autran Dourado tenha sido tão rapidamente esquecido pelo nosso público.
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Francisca 03/01/2022

O primeiro do ano e, como as férias são só metade de fevereiro, é um livro pra facul. Diferente do que eu imagina no início da leitura, foi uma história e tanto, acredito que tem muitas discussões pertinentes a serem feitas. Animada para as aulas dessa obra.
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Valério 27/11/2015

Tesouro esquecido
Em uma prosa envolvente, os protagonistas se encontram e suas vidas se unem quase sem querer. Tão diferentes quanto podiam ser, Juca Passarinho, andante sem rumo, e Dona Rosalina, última e solitária remanescente de família tradicional da pequena Paracatu acabem com destinos enrodilhados.
Ela como patroa, ele como faz-tudo de seu grande sobrado. Por testemunha, apenas Dona Quinina, governanta do casarão e muda.
Dona Rosalina mantém o casarão isolado do mundo externo e não mantém quaisquer tipos de relações com os demais habitantes da cidade.
Por sua vez, Juca Passarinho, homem cego de um olho, por ferimento, é conversado.
Logo que chega à cidade, consegue o emprego na casa de Dona Rosalina.
A história é toda contada na linguagem do interior mineiro.
Não há como ler sem imaginar o sotaque, sem enxergar a vida na Paracatu de outrora.
Uma gostosa leitura. Cheia de nostalgia. Nos faz imaginar que cenas como as que ali somos levados a imaginar não mais existirão, compondo o quadro de um saudoso passado remoto.
Autran nos leva a tempos e lugares remotos, onde somente poderemos ser alçados à força de obras deliciosas como essa.
Uma breve amostra: "O que ficou pra trás, pra trás ficou, volta mais não. A gente recomeça sempre é o movimento. Daqui pra diante, não recomeça de trás, de onde parou. A gente nunca volta pra casa, a casa nunca é a mesma [...] O mundo não tem paradeiro, a gente recomeça do principinho, de onde mesmo principiou. Não é feito lousa de escola, basta um pano molhado pra apagar as contas, as letras da escrevinhação. A gente longe, tem sempre alguém que continua escrevendo."
É uma pena que tão bom livro seja tão pouco conhecido e difundido.
Boa leitura. Será garantida.
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Dilso 17/04/2023

SENSACIONAL...
? Trágica e bela como uma verdadeira ópera. Certamente, uma das melhores obras do gênero romance que ja li. Com um estilo de escrita mesclado de vozes regionalistas e cultas, Autran Dourado nos provoca através de muitos símbolos diluídos na história. Símbolos que formam camadas cada vez mais densas na qual não há espaço nem tempo para "debulhar" aqui. Mas posso dizer, ao menos, que tal como uma tragédia grega, mãe da ópera, a narrativa vai se desenhando pelas tintas das vozes dos personagens e de um "Coro", representando a visão de fora do casarão sob o olhar de um sujeito do vilarejo. Estou muito impressionado com a riqueza, a beleza e com o universo criado nesse romance. Sensacional. ?
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RESENHA:
"Numa pequena cidade do interior mineiro, Rosalina vive enclausurada num antigo sobrado, construção iniciada por seu avô, o truculento coronel Lucas Procópio, e continuada por seu pai, João Capistrano. Afastada de todos, Rosalina conta apenas com a companhia de Quiquina, uma empregada muda, e de relógios parados.
Mas a chegada de José Feliciano, ou Juca Passarinho, promete transformar para sempre a rotina cativa da moça, única e solitária herdeira da família Honório Cota.
Selecionada pela Unesco para integrar a Coleção de Obras Representativas da Literatura Universal, esta obra-prima de um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX traz para a literatura a orquestração trágica de uma verdadeira ópera."

Fonte: Amazon.
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Irina.Alfonso 12/02/2024

Ópera dos Mortos
O livro conta sobre um casarão e a família que nele habitava, em três gerações. Ele conta brevemente sobre a ascensão da família -construção do casarão - e sobre seu declínio, sua exclusão, solidão, silêncio. Acompanhamos uma casa que parou no tempo, inclusive pelos seus relógios que, a cada morte, um relógio é parado por algum integrante da família. No presente da obra, acompanhamos a vida silenciosa e parada de Rosalina (filha dos patriarcas da família é única herdeira) e Quiquina (serva muda que acompanha Rosalina). Vemos por que a família resolveu se trancar no casarão, se excluindo do mundo. Até que um dia chega o forasteiro José Feliciano, que muda tudo. Esse livro é uma grande tragédia psicológica. Apesar de curto, não é das leituras mais fáceis e fluídas, acaba exigindo um pouco do leitor.

Sem contar que me lembrou um pouco a mulher da casa abandonada hehe (mas o livro é de 1967)
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Luiz Gustavo 26/12/2020

Comecei 2020 concluindo a leitura de “O risco do bordado”, do Autran Dourado, e resolvi terminar o ano com outro romance do escritor. “Ópera dos mortos” apresenta a história de três gerações dos Honório Cota, família responsável pela fundação da fictícia cidade de Duas Pontes, com ênfase em três personagens: Lucas Procópio, o patriarca bandeirante; João Capistrano, seu filho, produtor de café; e Rosalina, herdeira do casarão e dos traumas da família. A história é narrada por uma voz coletiva, “a gente” da cidade, que incrementa os fatos com suas próprias ideias e suposições a respeito do que acontecia no casarão da família Honório Cota, da qual todos os habitantes de Duas Pontes haviam sido rejeitados após uma traição política. A maior parte do romance é focada na relação de Rosalina com Quiquina – negra e muda, filha de escravos, atua como empregada e protetora da única herdeira dos Honório Cota –, e José Feliciano, também chamado de Juca Passarinho, forasteiro que bate à porta do casarão em busca de trabalho. Essas três personagens transgressoras – a mulher branca que ocupa uma posição masculina de poder; a mulher negra que mantém a ordem dentro do casarão; o estrangeiro desterrado – ocupam o centro da narrativa, e atuam diante da voz coletiva da cidade que representa uma ordem autoritária, com raízes latifundiárias e escravistas. Embora haja uma linearidade na narração dos acontecimentos ao longo do romance, muitas vezes os tempos se misturam. Fatos e sonhos se fundem, personagens se entrelaçam, acontecimentos marcantes e/ou traumáticos ressurgem diversas vezes, e é preciso ter atenção para acompanhar o fio da meada (ou o risco do bordado, hehe). Embora o enredo tenha me parecido um pouco previsível, gostei muito da linguagem e da narração do romance, e há críticas muito interessantes ao funcionamento da cidade que permanecem terrivelmente atuais. Gostei mais de “Ópera dos mortos” do que do primeiro livro que li do Autran Dourado, e foi uma boa leitura para encerrar esse ano esquisitíssimo. Afinal, precisamos honrar nossos mortos, especialmente os coletivos, que nos acompanham mesmo quando não percebemos sua presença ao nosso redor.
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