Fran 16/06/2021
Com uma inspiração gigantesca em Harry Potter, a premissa do livro é simples: como seria uma escola de bruxaria no estilo de Hogwarts no Brasil? A execução, no entanto, acabou encontrando muitos problemas em seu caminho.
A escola onde a história se passa, chamada Nossa Senhora do Korkovado e apenas uma entre as cinco que ocupam nosso país no universo de Ventura, acaba sendo um dos pontos mais positivos do livro. Apesar de ocupar o interior de uma montanha, possui praias, florestas e diversas passagens secretas levando a diferentes lugares do Rio de Janeiro. Todo o ambiente dela é fantástico, cheio de pequenos detalhes cativantes que é exatamente o que se esperaria de uma escola de magia.
O resto do universo mágico é desenvolvido de forma satisfatória, adicionando a devida diferença entre ele e o de Harry Potter. A autora apostou na aparição de algumas lendas típicas brasileiras, como a mula sem cabeça, além de novas magias que usam diversas línguas do Brasil e da África, como o tupi e o iorubá.
O mesmo, no entanto, não acaba acontecendo ao se tratar dos personagens. Hugo, garoto irritadiço e desconfiado ao extremo, além de levado a exibições de agressividade gratuita, não é um protagonista muito fácil de se gostar ou identificar, principalmente quando a única justificativa para seu comportamento é o fato de ter crescido na favela Santa Marta. Passamos o livro esperando pelo possível amadurecimento do personagem, que não chega realmente a acontecer.
É enorme a quantidade de personagens, sendo a grande maioria figurantes que são apenas ocasionalmente citados ou fazem aparições sem importância. Com pequenas exceções, são pessoas de personalidade rasa, com uma ou outra característica que as diferenciam umas das outras, se relacionando de forma igualmente banal. Não chegam a ser desinteressantes, contudo o maior problema é que, mesmo entre aqueles de maior importância, os Pixies, não chega a acontecer um desenvolvimento real.
A ideia de representar os diferentes sotaques do Brasil através de escritas diferenciadas, apesar de parecer boa no papel, acabou não sendo uma das mais louváveis. Não se tornou exatamente um ponto negativo, mas também passou longe de ser um aspecto agradável da leitura.
O enredo acabou se mostrando um tanto impreciso. Apesar de todo a ação que ocorre logo no começo da história, Hugo parece esquecer todos os seus problemas assim que coloca os pés na nova escola. O que temos então são longas páginas de apresentação daquele mundo novo: a escola em si, com suas aulas e professores, ocasionais brigas entre estudantes… basicamente, uma vida escolar normal, em que nada de realmente importante ou emocionante acontece. Mesmo quando o grande conflito se inicia, já depois da metade do livro, a história custa a ir para frente, mantendo um ritmo lento difícil de acompanhar até sua eventual conclusão.
Mesmo com as diversas falhas, A Arma Escarlate exerce bem seu papel como livro introdutório da saga, apresentando com eficiência o básico do universo. É uma leitura simples, acessível a praticamente todos que tiverem interesse.
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