Nys 03/10/2013
Meu Souvenir
Um dia, procurando coisas para ler, encontrei Souvenir por acaso e deixei ali, para uma leitura futura. Passaram-se semanas, em que eu via o livro, lia a sinopse e depois desistia da leitura, não era o que eu queria ler. Esses dias, decidi, finalmente lê-lo, acabar com o suspense de vez. Parecia um livro morno, que seria chato e cairia na mesmice de sempre, previsível. Era o que eu pensava.
Comecei a ler, mais por tédio que qualquer coisa, sem nenhuma esperança. E o livro, no começo, parecia tudo o que eu pensara, mas então, em algum ponto das primeiras 70 páginas, alguma coisa mudou, sem eu saber quando ou o quê. Eu só não conseguia parar de ler, a coisa foi tomando um rumo inesperado, as personagens eram muito mais do que eu imaginava, havia coisas escondidas, naquela sinopse sem graça. Depois disso, eu não podia parar de ler.
O livro conta a história da Doutora Meghan Hamilton, antes Powell, uma obstetra, casada, mãe de uma filha adolescente. Completamente comum, à primeira vista. Uma mulher beirando os 40 anos, sem paixão no casamento, sempre trabalhando demais e com pouco tempo para a filha. Mas isso é a casca da história de Meg, a ponta do iceberg. Seu grande amor do passado, da adolescência, Carson McKay, um famoso rockstar, acaba de marcar casamento com uma mulher quase dezoito anos mais nova. É aí que o livro começa e é em algum ponto da narração, que divide-se entre Meg, Carson e Savannah, a filha de Meg, que as coisas vão tomando outro rumo, de alguma forma surpreendente, mas não totalmente inesperado. Meg descobre que está doente, Carson volta para a cidade natal deles e Savannah conhece Kyle.
Além dos três, há Brian Hamilton, o marido de Meg, um homem de negócios muito ocupado entre seu trabalho e os jogos de golfe, que pouco aparece na história e do qual não sabemos o lado da história. O conhecemos pelas impressões de Meg, os comentários de Savannah e alguma citação de Carson. Há o pai de Meg e suas quatro irmãs, além de Val, a noiva de Carson e os pais dele. Kyle, Rachel, melhor amiga de Savannah e mais alguns personagens, sem grande relevância. Somos apresentados à todos, mas não com profundidade, pois não há necessidade.
Meg... Meg é uma mulher fantástica, apesar de um pouco frustrante, ela é a filha mais velha, a irmã mais velha, a mãe e esposa responsável, alguém que nunca se coloca em primeiro lugar. Alguém que deixou seus sonhos de lado, para proporcionar conforto e segurança para os que ama. É uma personagem cheia de dúvidas, de remorsos, de fantasmas do passado, que parece real, tangível, alguém que poderíamos conhecer ou que já conhecemos. Uma mulher como todas as outras. Houveram momentos em que me esqueci que estava lendo uma história fictícia, que Meg era apenas uma personagem no livro.
Carson é um homem diferente, mas igual a muitos. Um homem que nunca conseguiu viver realmente no presente, que sempre viveu à sombra do passado. Mas um personagem cativante, do começo ao fim, mesmo em seus momentos mais deprimentes. E Savannah uma adolescente típica e previsível, porém com o agravante de se achar ainda mais esperta que todos os outros. Acontecem coisas com ela no livro, que já sabemos que irão acontecer desde a primeira vez que somos apresentados aos fatos, mas que ela, com toda sua inteligência e esperteza, simplesmente não enxerga, deixando tudo mais angustiante. Quis sacudi-la, trazê-la de volta à realidade e depois confortá-la.
As três personagens principais do livro são extremamente bem construídas, tangíveis e humanas. Fowler fez um excelente trabalho com elas, indo mais além do que a história.
E quando o grande acontecimento chega, no livro, eu esqueci que era um livro, esqueci que era ficção, esqueci que não havia nada que eu pudesse fazer. Eu só queria adentrar a história, mudar alguma coisa, fazê-la menos real. Não consigo explicar, eu sabia o que aconteceria e acho que o livro é fantástico exatamente pelo jeito que aconteceu, mas ainda assim, eu queria que não fosse um livro tão brutalmente real, que fosse mais como um conto de fadas e tudo se resolvesse com magia e o "felizes para sempre". Foi uma experiência angustiante, de modo algum agradável sentimentalmente, mas que valeu cada segundo da minha leitura. O livro de Fowler é incrível, bem escrito, detalhado do jeito certo, lento na medida exata. Eu mudaria o final, sem dúvidas, mas sei que se ele não terminasse daquele jeito, nunca poderia ser um ótimo livro, como é.
Vale à pena, vem com grandes questões que nos fazem pensar e faz o que, na minha opinião, todo livro deveria fazer: nos levar para dentro dele e fazer-nos esquecer que é apenas uma história, letrinhas num papel.