La Caverna

La Caverna José Saramago




Resenhas - A Caverna


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Valério 29/04/2016

Mais um grande livro
Saramago tem uma habilidade tão grande de escrever, que pode escrever sobre qualquer coisa que será um texto sensacional.
Sua escrita tem graça, é permeada de poesia, sonoridade. Encanta.
No livro "A caverna" trata da vida de um idoso e sua filha, que é casada. Mas me parece que o principal personagem mesmo é o tal "Centro", um lugar fechado, onde vive uma elite. Os menos favorecidos são excluídos (como o velho e sua filha) e vivem para servir o Centro, local todo murado e com comércio e vida social exclusivos
A Caverna é uma crítica de Saramago à exclusão social, aos privilegiados que vivem isolados da pobreza.
Como se sabe, Saramago era comunista.
Mas sua ideologia pouco atrapalha a obra.
Os personagens aquecem nosso coração e o livro transborda de sentimentos, de amor, de delicadeza.
Comove.
Como todos os demais livros de Saramago, imperdível. Lindo. Único.
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Nena 13/02/2016

Um oleiro viúvo q tira seu sustento das louças de barro q vende, vê seu trabalho ameaçado por um centro comercial instalado na cidade, ao qual ele até tenta repassar seus produtos, mas sem sucesso. Uma crítica ao capitalismo e uma comparação a caverna de Platão. Livro incrível, bem o estilo Saramago de ser, com crítica e humor na medida certa, sempre nos levando a reflexão de valores.
Flavio 10/01/2017minha estante
Saramago é foda né? Que outras obras dele vc recomenda além dessa, do ''Ensaio sobre a cegueira'' e '' O evangelho segundo Jesus Cristo'' e ''Caim'' ?




FélixEdu 30/12/2015

O mito e a ponte ao raciocinio de Saramago
"Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros. São iguais a nós."
PLATÃO, República, Livro VII
Quem és tu Saramago? Tens coragem de nos fazer devorar toda a arrogância pós moderna em um único romance? Tu és o que há de mais concreto, real e astuto na língua portuguesa! Se ter-te como escritor de língua portuguesa é sorte ou cartada do acaso, digo a todos que trata-se de uma imensa sorte!
Eis a caverna, um livro de surpreendente beleza metafórica!
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Volnei 25/11/2015

A Caverna
O livro conta a história do oleiro Cipriano Algor e suas dificuldades com a produtor de louças e sua recente paixão pela vizinha , Isaura Estudiosa . Em sua oficina ele tem sua filha , Marta como auxiliar na produção e a companhia de um c?o que aparece em sua casa e passa a fazer . Sua vida muda por completo quando seu principal cliente cancela a compra de suas peças e passam a preferir peças plasticas por serem mais modernas.

site: http://toninhofotografopedagogo.blogspot.com.br/
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Luana De Martins 13/05/2015

Logo no início da narrativa, somos apresentados ao Centro, uma imponente construção que pela primeira descrição, nos dá a ideia de uma prisão, descobrindo depois que se trata de praticamente uma cidade inteira dentro da cidade. O Centro é o protagonista do progresso, rico em tecnologia, uma máquina de consumo com todos os elementos necessários (e até extravagantes) para que se possa viver lá sem precisar sair; ele é a grande metáfora para os impactos da industrialização promovida pelo capitalismo, isto pode ser percebido ao fazer algumas pontes com o momento histórico das Revoluções Industriais que ocorreram no mundo a partir do século XVIII, quando o trabalho artesanal foi substituído pela manufatura: a perda do trabalho de oleiro do Cipriano Algor porque os clientes optavam pelos utensílios de plástico; a privação de relevância de quem não estivesse inserido no sistema: o pouco caso com que as pessoas residentes fora do centro são tratadas, e assim por diante.
A visão ampla do narrador nos permite conhecer intimamente os integrantes da família, até mesmo o cachorro Achado, que é incluído ao longo da história. O fato do autor não ter apresentado os personagens somente em alguns parágrafos, e sim ter oferecido o cotidiano deles para que nós mesmos construíssemos nossa opinião de quem eles sejam, deixa uma abertura para que nós também descobríssemos sozinhos como se fundavam as relações entre eles, a partir de suas reações aos acontecimentos. Há uma constante conformidade emanada pelos personagens que ilustram o caráter de alienação que o autor quer transmitir, inserindo-os cada vez mais na “caverna”.
Quando a família finalmente se muda para o Centro, suas ações passam a ter uma característica sufocante, como se estivessem rodando dentro de uma caixa vazia; a ligação com o Mito da Caverna de Platão é inserida na própria história e os personagens tem a chance de descobrir que eles também vivem em uma espécie de caverna, sobrevivendo a uma ilusão, a grande crítica é que nós, mesmo não estando amarrados ao banco de uma caverna, ou vivendo no Centro, e mesmo estando há séculos dos primórdios da industrialização, também somos prisioneiros de uma realidade de conformidade, consumo e constante alienação.
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Marcelle 12/10/2014

A CAVERNA a indústria das sombras
A escolha de hoje foi muito especial, porque se trata de um dos meus livros favoritos, do igualmente favorito José Saramago. Dispensa apresentações esse que foi um grande escritor, ensaísta, poeta, dramaturgo, contista, um dos maiores responsáveis pelo destaque da literatura portuguesa. Publicada no ano 2000, A Caverna é apenas uma pincelada no grande mural composto por suas obras.
De modo sucinto, trata-se da vida de um oleiro, Cipriano Algor, sua filha e ajudante Marta e seu genro Marçal. Logo no começo da trama, o Centro, uma espécie de shopping-cidade, para quem Cipriano fornecia as louças, cancela as encomendas, uma vez que os clientes preferem as de plástico, deixando sem emprego a terceira geração de oleiros e deixando Marçal, funcionário do Centro, responsável pela família. A partir daí, temos a tentativa de salvar a olaria, a possibilidade de promoção de Marçal, com a consequente mudança da família para dentro do Centro, e todos os dramas existenciais acerca da relação de pais e filhos, marido e mulher, o ser e sua função, a morte, a vida.

Então não percebo porque foram precisos tantos rodeios, Porque gosto de conversar consigo como se não fosse meu pai, gosto de fazer de conta, como diz, de que somos simplesmente duas pessoas que se querem muito, pai e filha, que se amam porque o são, mas que igualmente se quereriam com amor de amigos se o não fossem.

Diz-se que cada pessoa é uma ilha, e não é certo, cada pessoa é um silêncio, isso sim, um silêncio, cada uma com o seu silêncio, cada uma com o silêncio que é.

Pessoas simples, estamos falando de gente que tem apelidos por sobrenomes, que vivem em um lugar pardo do campo, longe da cidade, que tem uma amoreira a dar sombra no meio do quintal e que faz da lama o sustento. Sobre o local onde vivem, vale a pena destacar o trecho que o retrata:

Diz-se que a paisagem é um estado de alma, que a paisagem de fora a vemos com os olhos de dentro, será porque esses extraordinários órgãos interiores de visão não souberam ver estas fábricas e estes hangares, estes fumos que devoram o céu, estas poeiras tóxicas, estas lamas eternas, estas crostas de fuligem, o lixo de ontem varrido para cima do lixo de todos os dias, o lixo de amanhã varrido para cima do lixo de hoje, aqui seriam suficientes os simples olhos da cara para convencer a mais satisfeita das almas a duvidar da ventura em que supunha-se comprazer-se

E a beleza do livro jaz principalmente nesse ponto, pois ao mesmo tempo temos as discussões mais elevadas, tudo em tom muito poético, mostrando toda a sabedoria que nasce da humildade.

Autoritárias, paralisadoras, circulares, às vezes elípticas, as frases de efeito, também jocosamente denominadas pedacinhos de ouro, são uma praga maligna, das piores que têm assolado o mundo. Dizemos aos confusos, Conhece-te a te mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais dificultosa operação da aritméticas humanas, dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar estrangulamentos, coisa improvável de acontecer na vida dos novelos e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida (...) Puro engano de inocentes e desprevenidos, o princípio nunca foi a ponta nítida e precisa de uma linha, o princípio é um processo lentíssimo, demorado, que exige tempo e paciência para se perceber em que direção quer ir, que tenteia o caminho como um cego, o princípio é só o princípio, o que fez vale tanto como nada.

Logo na epígrafe, lemos o que seria um resumo das sensações provocadas pelo livro:

Que estranhas cenas descreves e que estranhos prisioneiros, São iguais a nós.

Realmente não dá para não se identificar com esses simples personagens, para não se sensibilizar com seus dramas, para não se angustiar com o crescente papel do Centro a determinar as suas vidas. Afinal, não somos todos reféns de algo/alguém?

Aliás, o Centro funciona como um personagem a parte. Nas palavras do autor, é mais bem definido como uma cidade dentro da cidade. Com 48 andares, cresce todos os dias senão para os lados, para cima, senão para cima, para baixo possui, além de lojas, tudo de montanha russa a cassino, praias a teatros. E é sufocante a influência exercida por ele sobre a cidade, de modo tão arbitrário e demagógico, é menos um local que uma entidade. Algo que fica perfeitamente claro nesse diálogo entre Cipriano e o gerente de compras do Centro:

Será o caso de proclamar que o Centro escreve direito por linhas tortas, se alguma vez lhe sucede ter de tirar com uma mão, logo acode a compensar com a outra, Se bem me lembro, isso da linhas tortas e de escrever direito por elas era o que se dizia de Deus, observou Cipriano Algor, Nos tempos de hoje vai dar praticamente no mesmo, não exagerarei nada afirmando que o Centro, como perfeito distribuidor de bens materiais e espirituais que é, acabou por gerar de si mesmo e em si mesmo, por necessidade pura, algo que, ainda que isto possa chocar certas ortodoxias mais sensíveis, participa da natureza do divino.

Essa associação com a Criação é feita, ainda, com o próprio
Cipriano. Depois de perder o contrato das louças, passará a fabricar estatuetas e tal qual a história bíblica, a partir do barro, à sua imagem e semelhança. O mesmo sopro que deu vida às narinas humanas, retiraria o pó dos bonecos saídos do forno e as mesmas mãos que os fizeram, também os destruiria. Uma das passagens mais bonitas se encontra no final, quando também aos bonecos o Centro rejeita e finalmente Marçal é promovido, com a consequente mudança da família ao Centro, Cipriano arruma todos as centenas de bonecos em frente à casa, não só para proteger a esta mas para devolver à terra o que dela foi originado:

Com a chuva, tornar-se-ão em lama, e depois em pó quando o sol a secar, mas esse é o destino de qualquer um de nós

Então, como se estivesse a um nascimento, segurou entre o polegar e os dedos indicador e médio a cabeça ainda oculta de um boneco e puxou para cima. Calhou ser a enfermeira. Sacudiu-lhe as cinzas do corpo, soprou-lhe na cara, parecia que estava a dar-lhe uma espécie de vida, a passar para ela o hausto dos seus pulmões, o pulsar de seu próprio coração.

Essa relação de hierarquia e outras mais vão ser sempre retomadas no livro: os bonecos e Cipriano, este com o sub-chefe do departamento de compras, este com o chefe do departamento, mas acima de todos, o Centro. É fácil compreender a angústia do nosso herói, afinal, é uma pessoa cuja função se confunde com o seu próprio ser. Com 74 anos, perde seu papel de provedor e ainda tem de viver sob o teto de quem o subjugou.

Como tudo na vida, o que deixou de ter serventia deita-se fora, Incluindo as pessoas, Exatamente, incluindo as pessoas, eu próprio serei atirado fora quando já não servir, O senhor é um chefe, Sou um chefe, de facto, mas só para aqueles que estão abaixo de mim, acima há outros juízes, O Centro não é um tribunal, Engana-se, é um tribunal, e não conheço outro mais implacável, Na verdade, senhor, não sei porque gasta seu precioso tempo a falar destes assuntos com um oleiro sem importância, Observo-lhe que está a repetir palavras que ouviu de mim ontem, Creio recordar que sim, mais ou menos, A razão é que há coisas que só podem ser ditas para baixo, E eu estou em baixo, Não fui eu quem lá o pôs, mas está, Ao menos ainda tenho essa utilidade, mas se a sua carreira progredir, como certamente sucederá, muitos mais irão ficar abaixo de si, Se tal acontecer, o senhor Cipriano Algor, para mim, tornar-se-á invisível, Como o senhor disse há pouco, assim é a vida

Dois personagens ainda merecem destaque, qual sejam Isaura Estudiosa, uma vizinha viúva com quem Cipriano se envolverá emocionalmente da maneira mais terna e profunda, e o cão Achado. Menos um cão que um humano, a sensibilidade desse animal transcende sua natureza. É interessante ver por sua perspectiva como a natureza humana pode ser confusa, incoerente ou pelo menos complicada.

Decerto por estar no tenro verdor da mocidade, Achado não teve ainda tempo de adquirir opiniões formadas, claras e definitivas sobre a necessidade e o significado das lágrimas no ser humano, no entanto, considerando que esses humores líquidos persistem em manifestar-se no estranho caldo de sentimento, razão e crueldade de que o dito ser humano é feito, pensou que talvez não fosse desacerto grave chegar-se à chorosa dona e pousar-lhe docemente a cabeça nos joelhos. Um cão mais idoso, e por essa razão, supondo que a idade está obrigada a suportar culpas duplicadas, mais cínico do que o cinismo que não pode evitar ter, comentaria com sarcasmo o afectuoso gesto, mas isso deveria ser porque o vazio da velhice o teria feito esquecer-se de que, em assuntos do coração e do sentir, sempre o demasiado foi melhor que o diminuído. (..). A partir deste dia, Marta vai querer tanto ao cão Achado como sabemos que já lhe quer Cipriano.

Já morando no Centro, vai-se desenrolar o estranho enredo em que se baseará o título do livro, com inspiração no Mito da Caverna, de Platão. Em um mundo de vitrines, envolver-se-ão com o Centro a tão ponto de confundir a realidade com seu reflexo: respirando apenas o ar do sistema refrigeração, frequentando praias artificiais, chuva apenas a gerada por simuladores. Sem spoillers, o que acontecerá obrigará a família Algor a repensar suas vidas e nós, as nossas. Apenas um teaser:

Que foi que viu, quem são essas pessoas, Essas pessoas somos nós, disse Cipriano Algor, Que quer dizer, Que somos nós, eu, tu, o Marçal, o Centro todo, provavelmente o mundo

Quem não é familiarizado com a escrita de Saramago, deve estar a estranhar um pouco os trechos. Sem pontos, travessões, os diálogos ocorrem em linha contínua, sendo marcados pela presença de uma primeira letra maiúscula. Longe de ser confuso, torna o texto fluido; isso facilitado pelo encadeamento perfeito de ideias. O livro todo ocorre como a melhor conversa que você jamais vai travar.
Primeiro livro depois de vencer o Nobel de Literatura de 1998, é o ideal para quem procura um enredo com forte cunho filosófico, a discutir a humanidade, as relações sociais, o consumo, a economia, a espiritualidade. Nas palavras do autor, não tenha pressa, mas não perca tempo.

Nota 10/10


site: http://sagaranando.blogspot.com/2014/03/a-caverna-industria-das-sombras.html
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Alex 22/07/2014

O livro narra a luta de Cipriano Algor, 64, que após ter seus produtos de barro substituídos no mercado por produtos manufaturados de plástico, mais baratos e resistentes, enfrenta uma crise existencial.

O responsável pela falência da olaria de Cipriano Algor é uma entidade superpoderosa denominada "o Centro", que, numa espécie de capitalismo totalitário, absorve todas as relações humanas, desde o nascimento, a reprodução, até à morte, eliminando, ou substituindo por artificialismos, a identidade, as percepções, e o passado do indivíduo, transformando-o em um consumidor que age conforme seu arbítrio("o segredo da abelha")e excluindo impiedosamente todos aqueles que estão à sua margem ou lhe são periféricos.

Diversão e prazer sem limites e suicídios; coibição à curiosidade e livros e enciclopédias esquecidos; seres sem passado cujo trabalho de uma vida inteira se perde sem frutos; até podemos pensar que estamos relendo a clássica distopia de Ray Bradbury (Fahrenheit 451), quando, na verdade, estes seres que Saramago tão magistralmente constrói e desconstrói, somos nós; uma geração inteira alimentada por redes sociais e motores de busca, que, de forma ardilosa, nos vigiam, moldando nossos gostos, opiniões, ídolos, espiritualidade, prazeres, e medos.

O mais irônico é que comprei esse livro num "megashopping". Quem sabe até nossa ânsia por questionar o sistema (ou o Centro), tenha sido mercantilizada pelo próprio sistema, seja comprando livros como 1984, Brave New World ou máscaras do Vendetta, achando, inutilmente, que vimos um pouco de luz, quando na verdade ainda somos expectadores de meras sombras.
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Thamires 26/04/2014

A Caverna é uma obra que retrata os impactos da modernidade e do crescimento econômico em pessoas simples. Mostra como uma família comum é forçada a adaptar-se ao novo sistema econômico para poder ser vista como parte da sociedade. Retrata como o sistema capitalista obriga o indivíduo a perder sua identidade e fazer parte da massa. Mostra como os valores são transformados e como a arte passa a ser desvalorizada a partir do momento em que as máquinas passam a comandar toda a produção.
A própria Indústria Cultural exclui a possibilidade do individual, o ser agora vai fazer parte da massa, de uma totalidade. “Os indivíduos, afirma Adorno, não são mais indivíduos, mas sim meras encruzilhadas das tendências do universal, que é possível reintegrá-los totalmente na universalidade”, essas “tendências” quem vai ditar é a Indústria Cultural, que através do consumo, de anúncios, transforma hábitos e pretende atingir a sociedade como um todo.
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Lidiane 01/02/2014

Para (re)pensar
José Saramago trabalha com a perspectiva de uma caverna dos tempos modernos, retomando claramente, o mito da caverna, proposto por Platão. O livro trata de uma família simples, moradora do campo, próximo à cidade. Está família é composta por Cipriano Algor, que é oleiro, e vende objetos de barro para o Centro (que falarei a posteriori sobre ele), sua filha Marta, que ajuda o pai na olaria. Esta, por sua vez é casada com Marçal Gacho, segurança deste Centro. Na história ainda iremos encontrar a presença de Isaura, que vai tomando cada vez mais um lugar importante na trama. Para completar o cenário, está presente o cachorro Achado, por quem os leitores facilmente são cativados, por seu jeito bastante humanizado, além dos seus "sentimentos caninos".
Nossa história começa quando o Centro, (que é um espaço gigantesco, dentro de uma cidade, onde as pessoas moram, trabalham, se divertem, fazem compras, enfim, é um espaço em que as pessoas supostamente, encontram tudo o que desejam) resolve parar de comprar as encomendas do nosso oleiro pois, as pessoas já não se interessavam mais por esse tipo de mercadoria, elas agora preferiam mais, os jarros e pratos de plástico, pois era mais barato e possuía uma maior durabilidade.
Neste momento, o que percebemos é um homem de idade já avançada, (mais de 60 anos), que de repente, encontra-se em uma situação em que não sabe mais o que fazer, uma vez que passou sua vida inteira trabalhando com barro. Seu genro Marçal, está apenas esperando uma promoção para guarda residente do Centro, para poder levá-los para morar no mesmo. Enquanto isso, sua filha Marta tem a ideia de começarem a fabricar bonecos de barro para serem vendidos ao Centro. A ideia parece ser boa, então eles resolvem entrar nesta empreitada, e escolhem seis modelos para fazerem os bonecos. Logo apresentam sua ideia para o Centro, que aceita e faz uma encomenda, porém, na primeira entrega, eles propõem um inquérito, para ter noção de como será a recepção dos bonecos para com a clientela. Infelizmente o resultado não é favorável para esta família, e o nosso oleiro fica mais uma vez desesperançado sobre o futuro da sua olaria.
O livro é regado com um percentual de melancolia, pois é difícil não se sensibilizar percebendo o sofrimento de Cipriano Algor com o fim das encomendas, não só pela perda do sustento, mas também, digamos, por uma perda de identidade, pois até aquele momento da sua vida, ele era oleiro, trabalhava com barro e vendia para o Centro, de repente, ele não venderia mais os seus produtos pois estes não mais interessavam ao mercado. É como se tudo o que você soubesse fazer na sua vida, não tivesse mais importância, e além das mercadoria, o próprio ser existencial passa a não ter mais um valor para a sociedade.
Após ficar sem ter em que trabalhar, e o genro receber a promoção, Cipriano Algor, que sempre foi relutante em ir morar no Centro, acaba aceitando o convite, e se muda, juntamente com a família. Porém, para ir embora, eles deveria deixar o cão Achado pois o centro não permitia animais, apenas pássaros de gaiola, e peixes de aquário. Com isto, deixaram o pobre Achado, na responsabilidade da vizinha Isaura, por quem Cipriano nutre um nobre sentimento.
Quando chegam até o Centro, Cipriano Algor decide usar seu tempo livre para se aventurar em meio às opções de entretenimento que o espaço oferece. Um dia, descobrem algo no subsolo do prédio que mobiliza os seguranças, e que deve ser mantido em sigilo. Porém, Cipriano decide que verá do que se trata, e em uma madrugada, quando o genro sai para o plantão, ele vai atrás, e descobre o que encontraram. Após essa revelação, ele fica completamente aterrorizado, e decidem, tanto ele, quanto o genro e a filha, ir embora daquele lugar.
O que eles encontraram no subsolo do Centro foi o cadáver de seis pessoas, três homens e três mulheres. É neste momento em que o autor José Saramago faz sua maior identificação com o mito da caverna de Platão. Quando Cipriano Algor, e seu genro Marçal Gacho falam que aqueles eram eles, toda uma questão filosófica dos dias atuais recai sobre o leitor.
Pensar sobre o que era essencialmente o mito da caverna de Platão: pessoas acorrentadas que do mundo lá fora só conseguiam ver sombras e acreditavam que aquelas sobras eram a realidade da vida, e ler A Caverna de José Saramago é impressionante.
De acordo com o que Saramago apresenta neste livro, as pessoas atualmente estão "presas" nestas cavernas, que são os grandes centros, onde o que existe dentro dele se torna tão real que as pessoas esquecem que existe um mundo fora daquele espaço. O Centro de José Saramago, possui lugar para comprar, trabalhar, se divertir, contando com praias artificiais e lugares que proporcionavam as sensações climáticas diversas, a contrapelo não permitia que as janelas fossem abertas por causa dos ar-condicionados, portanto, as pessoas não tinham acesso a luz do sol, nem à lua.
A família de Cipriano Algor, assim como uma das pessoas do mito da caverna de Platão, consegue escapar ao que estava os prendendo, estes voltam para a antiga casa, recolhem o cão Achado, e a vizinha Isaura, e partem para outro lugar, pois aquilo que antes eles conheciam bem, como uma vida tranquila, já não mais os pertenciam, e precisavam partir em busca de um novo lar.
Em suma, o que poderia ser apenas uma história sobre uma família simples, José Saramago transforma em uma reflexão acerca do capitalismo, da forma de vida que as pessoas estão inseridas, e como podemos estar cegos e presos por teias que nós próprios criamos.
Raphael.Dias 08/02/2019minha estante
parabéns pela resenha!!! =)




Marcone 13/01/2014

Um homem idoso, morador da periferia, fabrica peças de barro para vendê-las ao Centro. Sua filha, adulta, mora com ele e está grávida. Seu genro trabalha como guarda no Centro.

Escrito no clássico estilo saramaguiano, em que o enredo simples e banal vai se desenrolando lentamente para um desfecho abrupto e dramático, este livro traz um Saramago inspiradíssimo em seus devaneios sobre a condição humana. Alguns deles:

"Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe..."

"Os dias são todos iguais, as horas é que não são..."

"Se é verdade que o tempo tudo cura, talvez não vivamos o suficiente para tirar-lhe a prova"

"Há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio."
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Camilla Alencar 21/05/2013

"Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo." José Saramago.

"Quando digo que as pessoas que estão na caverna somos todos nós é porque damos muito mais atenção às imagens do que àquilo que a realidade é. Estamos lá dentro olhando uma parede, vendo sombras e acreditando que elas são reais."

A versatilidade de Saramago fica aqui bem vincada.Há, neste livro, uma referência clara à Caverna de Platão: os cadáveres que hão-de ser encontrados no final do livro “somos nós”; nós, os que apenas vemos sombras; nós, os que não passamos de espetadores impotentes perante aqueles que nos comandam como marionetes; nós, que moldamos o barro, que somos criadores, no fundo, não passamos de fantoches.
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André 08/04/2013

A Caverna de José Saramago
Nenhum exemplo já criado no mundo para demonstrar nossa condição humana viveu e ainda vive tanto quanto o mito da caverna de Platão. Séculos passados desde sua criação ainda hoje é fundamental para compreensão e estudo de nossa sociedade. José Saramago em A Caverna (Companhia das Letras, 2001) mostra que mesmo vários séculos depois, continuamos cegos perante a realidade de nossa condição humana como aqueles homens acorrentados naquele buraco, essa realidade de telespectador a que estamos submetidos ante o domínio do comodismo e praticidade resultado da globalização, em um mundo que ao mesmo tempo é livre e repleto de fronteiras. Cipriano Algor é filho e neto de oleiros (artesão que faz peças de barro) sempre viveu de fabricar utensílios de argila, pratos, cântaros, copos… Como o personagem mesmo vê, toda a sua vida está empesteada de vermelho do barro.

Para ler o texto completo acesse o blog:http://palavrainteira.wordpress.com/2013/02/23/a-caverna-de-saramago/
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Manuella_3 13/12/2012

Tenho muito carinho por este livro
Não vou falar sobre a história do livro, mas sobre a sensação que me causou.
Achei o início um pouco cansativo, mas logo Cipriano Algor me conquistou, com essa humanidade simples e seus pensamentos traduzindo a vida vivida na luta.
O que me fez dar 5 estrelas à obra - conquista difícil para um livro lido após o maravilhoso 'Ensaio sobre a cegueira', também de Saramago - foi exatamente um encontro, nas últimas páginas, descrito com tanta sensibilidade e paixão que me fez sorrir e chorar de emoção. Não que a esta altura já não estivesse completamente envolvida com a história, de fato estava. Mas essa cena é primorosa.
Quem já leu sentiu o mesmo? Tenho curiosidade.
Quem não leu ainda, espero que sinta esse momento com a intensidade que percebi. Sim, sou romântica e emotiva em grau elevado.
Em poucas linhas, com sua escrita sedutora, Saramago conquistou a estrela que faltava para esta obra estar entre as minhas preferidas.
Manuella_3 13/12/2012minha estante
Oh, Nanci, vindo de uma leitora como você fico muito feliz. Não esqueça de me contar, sim. Beijo.


Alê | @alexandrejjr 16/06/2020minha estante
Olha aí o que eu garimpei... ?




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