Mari 04/06/2023
Ler Saramago já é de tirar o fôlego (no sentido literal também, com sua aversão aos pontos e vírgulas e suas páginas inteiras de uma só frase), e? Saramago né? acho que esse nome por si só já é uma resenha inteira.
Dessa vez não foi diferente, a ideia é genial. Importante começar a ler tendo em mente que não são a mesma coisa, mas o livro reconta a história da bíblia. É a reconstrução, a reinterpretação, a atribuição de sinestesia à historia de forma crítica e irônica, trazendo as sensações, as ambiguidades, tirando um pouco o foco do divino e colocando na existência de tudo que há de humano ali. Não uma ?troca?, mas uma sobreposição do objeto.
É uma visão da narrativa pela versão do sentimento das mulheres também, com a percepção da maternidade, com novos questionamentos sobre as relações. É a primeira vez que alguém se interessou por escrever sobre como Maria pode ter se sentido com as primeiras palavras e os primeiros passos de Jesus, por exemplo.
Mesmo tão interessante, preciso dizer que deixei pela metade ? não é NEM um pouco fácil de ler, nem se compara a ?As Intermitências da Morte?, por exemplo. Depois de um ano inteiro tentando, sobram umas 200 páginas para eu voltar depois. É realmente admirável pensar que alguém um dia resolveu parar para escrever uma ideia e que disso saiu um livro, então me dói abandoná-los no meio, sempre fico curiosa com o final? mas tudo bem porque o final dessa eu já sei.
Procurando, aleatoriamente, algo que marquei, encontrei: ?(?) o abandono do corpo não exprime senão a dor de uma alma.?