gleicepcouto 06/05/2012Uma metamorfose romântica agridoce www.murmuriospessoais.com
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A Última Carta de Amor (Intrínseca), da jornalista e escritora britânica Jojo Moyes, rendeu a ela o prêmio de Romance do Ano pela Romantic Novelists Association (RNA). Ela já tinha ganhado esse prêmio também pelo seu livro Foreign Fruit, em 2004.
Em A Última Carta de Amor, a autora mescla passado e presente, relatando no passado (anos 60), a história de Jennifer Stirling: uma mulher linda, inteligente, mas submissa ao marido; e, no presente, a história de Ellie Haworth, uma jornalista centrada no trabalho, perdida em um relacionamento extraconjugal.
Jennifer sofre um acidente de carro e, ao acordar, não se lembra de nada. Quando volta para casa e para o convívio do marido, tenta juntar as peças do quebra-cabeça que sua vida se tornou. Algumas peças, porém, parecem não se encaixar. Ela tem certeza disso quando encontra lindas cartas de amor endereçadas a ela, assinadas por B. Quem seria esse homem? A procura por ele começa.
Uma dessas cartas, décadas depois, vai parar nas mãos de Ellie, que em meio a uma crise em sua vida pessoal, se refugia nesse amor que considera belo e verdadeiro. Então, sua procura por Jennifer e B. começa sem ela notar que, na verdade, é uma busca a si mesma.
Mas de repente me dei conta, no meio daquela pequena cena de loucura que ter alguém que nos entenda, que nos deseje, que nos veja como uma versão melhorada de nós mesmos é o presente mais incrível. Mesmo que não estejamos juntos, saber que, para você, eu sou este homem é uma fonte de vida para mim.
Deixando minha opinião pessoal de lado, e passando pra análise técnica do livro – que é o que interessa -, Moyes intercala muito bem o passado e presente no livro. A narrativa transcorre tão bem que ela não precisa avisar que está voltando alguns anos pra explicar algo, ou avançando alguns outros com o mesmo motivo: o leitor percebe por si só. Isso é resultado de uma narrativa forte, coesa e coerente; que não necessita de muitos porquês: eles estão lá nas entrelinhas.
A emoção que Jojo transmite ao falar de um amor proibido é peculiar. Mostrar o amor (ou a falta dele) ao falar de casos extraconjugais, se não for feito com critério e delicadeza, pode acabar se mostrando vulgar. O assunto sozinho já é polêmico. Você realmente acha que existe amor entre dois amantes ou só paixão?
A autora nos mostra, em épocas diferentes, os dois lados da mesma moeda e é isso que é o diferencial. Nada é rigorosamente certo e/ou errado, nem ninguém é rigorosamente bom e/ou ruim. Os detalhes, que vão sendo revelados aos poucos, fazem com que percebamos que nunca sabemos o bastante sobre uma situação ou muito menos o sentimento alheio.
Não vou entrar no mérito moral e ético aqui de discursar sobre a traição em casamentos, de como isso é errado e blablabla. O livro não é sobre isso. Não somente. Há mais ali. Há humanos cometendo erros, e aos trancos e barrancos, tentando acertar. Assim como eu e você.
A verdade é que dá gosto de ler o livro. A medida que as páginas vão passando, você vai se recriminando por pensar que poderia ter lido mais atentamente, devagar, deliciando-se com o livro. Os personagens são fortes, autênticos, contraditórios: você nunca sabe muito bem porque estão agindo ou pensando de certa maneira. Sempre há o elemento surpresa.
A trama, sensível e encantadora, mas permeada por dor, perdas, começos e recomeços nos faz questionar sobre coragem e escolhas. Assim como nos faz pensar em como o destino por vezes nos prega peças, com tantos desencontros que nem ousamos sonhar.
A Última Carta de Amor começa como um livro triste e melancólico, mas vai se transformando… Crescendo, trocando a pele e, quando você percebe, termina como um livro belo, encantador e repleto de esperança. Uma linda metamorfose.
A Última Carta de Amor (The Last Letter From your Lover)
Autora: Jojo Moyes
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Páginas: 378
Valor médio: $20 a $30
Avaliação: Uma linda metamorfose