Arine-san 17/02/2014História simples, mas com um ambiente e personagens tão ricos, que é fácil se apaixonar!Sabe a sensação de ser totalmente tragada por uma história? Passar horas seguidas virando páginas e mais páginas, para, no final, sentir aquele vazio do (bom) abandono de um (ótimo) livro... Eis o que aconteceu comigo ao ler Encarcerados, do Alexander Gordon Smith. Ainda agora, ao escrever essas breves palavras, me sinto abandonada por seu enredo e protagonista tão vivo dentro de um inferno tão mordaz quanto Furnace.
Primeiro livro de uma série, Encarcerados promete tirar o sono de muito leitor. Com uma narrativa cativante e uma história totalmente diferente do que estamos acostumados a ver e ler, a série traz um novo conceito do que é uma boa saga narrada por um adolescente para adolescentes.
Meu corpo e minha mente estavam encarcerados em Furnace, mas minha alma, ou minha imaginação, ou o que quer que fosse, não descansaria até que pudesse sentir o ar da superfície.
Enxergar o mundo pelos olhos de uma criança é maravilhoso. Mas enxergá-lo pelo olhar infantil de um jovem ladrão de casas, num mundo tomado pela violência intanto-juvenil, é ainda mais fantástico. E é isso que Alexander Gordon nos traz, uma obra que está aqui, além de tudo, para discutir o quanto de criminosos crianças podem, ou não, ter. E o protagonista de nome homônimo ao seu criador, o Alex Sawyer, sempre foi um dos valentões da escola, mas não é uma pessoa ruim. Ou boa. Roubar algumas casas vez ou outra também tornou-se parte de seu dia-a-dia, até que... Bem, tudo tem um limite, e o dele chegou cedo demais, numa tarde de roubo qualquer. Enquanto Alex e seu amigo Toby invadem uma casa de classe alta, um desastre acontece e transforma a vida do nosso protagonista em um verdadeiro inferno. Homens de terno preto aparecem de repente dentro da casa, matam Toby e incriminam o Alex pelo crime, dando ao garoto um status de criminoso perigoso procurado pela polícia.
Não é preciso esperar muito, nem passar muitas páginas para descobrir o cruel destino do Alex. Sem lugar para fugir ou se esconder, logo ele vai parar na penitenciária infantil mais assustadora de todos os universos: Furnace. Ali, Alex descobre que a morte talvez seja mais vantajosa que a vida, dentro de um inferno particular planejado para fazer milhares de crianças (algumas condenadas por crimes que não cometeram) sofrerem. Qual o objetivo? O que seria, afinal, Furnace?
Sob o céu fica o inferno, garotos, e, sob o inferno, Furnace. Espero que desfrutem da permanência aqui.
Furnace não é um lugar qualquer, e nem mesmo seus guardas são qualquer pessoa. Homens com mascaras de ar no rosto, sussurrando barulhos com suas respirações difíceis, cachorros gigantes sem pele, os músculos e dentes esfomeados expostos... Essa é apenas uma amostra do quão assustadora é essa prisão. O pior, e talvez mais agonizante, é saber que ela é inescapável. Sem fugas. Sem rotas para a superfície. Apenas um lugar enorme, em que nem mesmo a luz do sol encontra brechas para entrar, e o ar pesado sufoca lentamente seus prisioneiros.
Apesar disso, Alex tem esperanças de sair dali. Não só esperanças, mas um desejo feroz e quase macabro de sentir o ar fresco, sentir-se livre novamente. E seu companheiro de cela, o Donovan, acha que o garoto está caminhando para a morte, justamente por isso. Enquanto ambos constroem uma amizade cada vez mais forte e enfrentam os perigos de estar em Furnace, que não envolvem só os guardas estranhos que cercam e tomam conta dos prisioneiros, Alex vai pensando numa maneira de dar um fora daquele lugar.
Não que eu achasse que algum dia fôssemos conseguir fazer algo parecido, mas estava tão determinado a encontrar uma saída, que agora se apresentara impossível, que a única forma de liberdade que me restava era a morte. Embora um tipo terrível de liberdade de infelicidade e sofrimento, sim, mas também de luzes, risos e vida. Era a ausência de tudo.
O livro, todo narrado em primeira pessoa pelo Alex, não para por um momento sequer. A narrativa é genial, simplesmente genial, desde seu primeiro S até a última letra. Alexander Gordon Smith sabe escrever, e a ótima correção e tradução feita pela Editora Benvirá contribuiu para a qualidade do livro. Do início ao fim, percebemos que o inferno realmente deve ser uma espécie de Furnace, e Alex está à beira da morte quase 70% do livro. Brigas entre prisioneiros, toques de recolher que, se não forem cumpridos, são punidos com uma morte dolorosa ou você acha que ser comido vivo por cachorros gigantes não dói? -, uma gororoba esquisita sendo servida em todas as refeições... Esses são apenas os poucos detalhes de um ambiente insólito, em que estar vivo, à cada dia que passa, se torna mais difícil.
E o autor não surpreende só com o tema abordado. O ambiente em que se passa a história, como um todo, parece saído de um assustador filme de ficção cientifica. Há provas, aqui e ali, de que existem experimentos sendo feitos nas crianças presas. Alex - e seu desejo intenso pela vida - é como uma rachadura na paz instaurada em Furnace. Ninguém foge, com medo da morte. Mas Alex está disposto a tentar justamente por medo de morrer... Seu desejo de estar realmente vivo, correndo e aspirando o ar livre, é o que o move e movimenta o livro, junto com ele. E o fim deste primeiro livro, então? Sem palavras! O gancho para a próxima obra é perfeito, e ler a continuação é uma obrigação.
Obediência é a diferença entre a vida, a morte e outras variedades de existência ofertadas aqui em Furnace.
Estou muito ansiosa pelo próximo livro, Solitária. A saga, com uma história tão simples, mas num ambiente e com personagens tão ricos, me conquistou de vez! À todos os entusiastas e adoradores de um bom livro de ação e suspense. A série Fuga de Furnace, em principal seu primeiro livro, é super recomendada!
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http://www.vicioempaginas.com.br/2014/02/resenha-encarcerados-alexander-gordon.html