Fernanda Pompermayer 30/05/2015
Em ano eleitoral nada melhor do que uma boa aula de política. É isso que o jornalista e escritor Lira Neto nos oferece no primeiro volume da biografia de Getúlio Dornelles Vargas. A história continua no segundo tomo (publicado em agosto de 2013) e está previsto um terceiro, completando a história.
Embora estejam na moda os romances históricos, muitos deles de ótima qualidade, Lira Neto deixa claro que a sua intenção é produzir uma biografia: “Sempre me inquietou o fato de Getúlio nunca ter sido alvo de uma biografia jornalística exaustiva, moderna, cuidadosa no trato com as fontes primárias, atenta à abundância de estudos acadêmicos a respeito do período e, em especial, sem o impressionismo da maioria dos relatos biográfico-jornalísticos já publicados sobre o personagem”.
Logo após a publicação do livro choveram críticas, a maioria delas acusando-o de “requentar” informações. Como o próprio Lira admite, sobre Getúlio Dornelles Vargas já foram impressas toneladas de papel, desde as biografias oficiais para todas as idades divulgadas durante os 15 anos da Era Vargas, seja de lá para cá. Se Neto se serviu de dados disponíveis em obras já publicadas, isso não tolhe o seu mérito. Dois anos e meio para pesquisar sobre Vargas, no Brasil e no exterior, e escrever um livro de mais de 600 páginas é um tempo recorde! Há também a honestidade e a lisura das citações bibliográficas, que conferem legitimidade ao trabalho. E por último, não menos importante, a capacidade de produzir uma obra de caráter histórico, interessante, que literalmente hipnotiza o leitor até o fim. Ela agrega inúmeros conhecimentos sobre uma figura-chave na política brasileira do século 20, inserida num contexto histórico nem sempre conhecido, em que se entrelaçam outros personagens surpreendentes. Descobre-se o papel de ilustres desconhecidos que povoam praças e avenidas de nossas cidades, como Borges de Medeiros, Washington Luis, Oswaldo Aranha, João Pessoa, Júlio Prestes, Flores da Cunha, Assis Brasil...
Lira Neto confirma a tese de que livros escritos por jornalistas costumam ser bastante apetecíveis, dado o traquejo do metier de escrever com clareza e concisão. No caso de Neto, some-se também um ótimo “tempero” que torna a leitura deliciosa.
Digna de registro é a opinião de dois personagens abalizados pela própria experiência a respeito da obra: “Li de um fôlego só o primeiro volume do livro de Lira Neto sobre Getúlio. É admirável seu rigor na busca dos fatos, na abstenção de julgamentos morais e o desenrolar de um enredo que mostra o itinerário humano, intelectual e político de um homem que, a despeito do que se pense sobre suas ações e posições, teve a grandeza que só os estadistas possuem” (Fernando Henrique Cardoso). “Poucas vezes vi alguém descrever tão bem a história de Getúlio Vargas e do povo gaúcho como o Lira Neto na primeira parte da sua trilogia. Foi tão impactante para mim que me vi andando com Getúlio, fumando um charuto, pela Rua da Praia, em Porto Alegre” (Luiz Inácio Lula da Silva).
site: Resenha publicada por mim na revista Cidade Nova, fevereiro2014 (www.cidadenova.org.br)