Larissa | @paragrafocult 24/09/2019
"A realidade significa que você vive até morrer"
Já tem alguns anos que sou leitora assídua do Chuck. Falei no primeiro post aqui do blog aqui que eu tenho vários livros do autor e que ele está no meu Top 5 de autores preferidos. Porém tem algo que eu não posso negar: o cara escreve livros com personagens bem malucos para poder criticar assuntos bem atuais daquele jeito que só ele sabe fazer. Como eu disse no outro post, Chuck Palahniuk não é um autor fácil de se ler. Meu primeiro contato com ele foi em Clube da Luta, livro que ficou mais conhecido por conta de sua adaptação para o cinema que é maravilhosa. Depois disso eu li Condenada, Maldita, Clube da Luta 2 e agora Sobrevivente.
Porém, não sei exatamente qual o motivo mas seus livros têm me animado cada vez menos. Parece que ele está escrevendo a mesma coisa, sobre as mesmas pessoas. O livro não é ruim. De longe é o segundo melhor que li dele, perdendo apenas para Clube da Luta, porém, mesmo assim o livro não surpreende, acho que justamente pelo estilo de narrativa ser o mesmo de seu livro de maior sucesso.O livro começa já no capítulo 47, o último. Sim, os capítulos vão passando do maior para o menor, começando já com o protagonista dentro de um avião prestes a cair, decidido a contar a sua história e o que o levou até ali. Uma contagem regressiva para a morte iminente do personagem.
Aqui conhecemos Tender Branson, um homem em seus trinta e poucos anos que trabalha como mordomo na casa de uma família rica e que é sobrevivente de um suicídio coletivo da Igreja do Credo na qual foi criado até os dezessete anos, quando vou obrigado a ir para o mundo exterior assim como outros de sua idade. Ele é muito eficiente em seu trabalho, e como em Clube da Luta onde Chuck nos ensina a fazer napalm (não façam isso em casa), aqui aprendemos várias coisas úteis com o personagem porém que nada tem a ver com bombas.Tender vive no tédio. Se sente um traidor por ainda estar vivo já que segundo as regras da comunidade religiosa em que viveu, quando houvesse o arrebatamento, TODOS deveriam se "libertar", porém lá estava ele, vivinho. O único de sua enorme família que não se matou. Mas não comece a sentir empatia ou pena de Tender. Ele é, na minha opinião, uma pessoa horrível. Para ajudar a diminuir seu tédio, o mesmo fez adesivos com seu número de telefone se apresentando como alguém que poderia ajudar sendo um apoio, ombro amigo para aqueles que pensavam em suicídio, colando em vários telefones públicos.
Quando recebia essas ligações de pessoas desesperadas por salvação, por alguém que lhes quisesse vivo e bem, ele se sentia poderoso, chegando ao ponto de decidir se dizia para alguém se matar ou não apenas se gostasse da voz de quem ligava. A narrativa desse momento é repleto de frieza.
As páginas do livro são lotadas de críticas sociais, muitas, além de um humor extremamente ácido que deixa óbvio que o autor queria chocar o leitor (coisa que ele faz em todos os seus livros ou que ao menos tenta). Fanatismo religioso, a forma como algumas pessoas usam da religião do outro para lucrar em cima disso, o mercado que quer fabricar "escravos" perfeitos que trabalhem felizes sem pensarem em si mesmos, a fabricação de um "líder religioso" para vender produtos, a falta de empatia são apenas alguns dos temas que ele aborda para criticar, ele tentou mexer em muitas feridas ali.O livro é cheio de frases de efeito, assim como suas outras obras, tendo alguns momentos nonsense e outros cheio de humor ou agressividade. Ele pega um tema e o destrincha na hora de escrever, exagerando em alguns tópicos mas sem perder a mensagem que quer passar e sem deixar de te fazer questionar alguns assuntos. É uma pena que o livro não tenha me surpreendido. Acho que quem já o lê faz tempo, como eu, vai achar a história repetitiva porém repito que a mesma é divertida e vale a leitura, principalmente para quem não o conhece.
O livro foi lançado originalmente em 1999 e teve seus direitos para o cinema comprados naquela época porém após os ataques de 11 de setembro, o projeto foi arquivado.
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