Os enamoramentos

Os enamoramentos Javier Marías




Resenhas - Os enamoramentos


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Alê | @alexandrejjr 26/08/2018

Entre digressões e reflexões

Não lembro ao certo qual foi o momento em que me interessei pelo Javier Marías. Não recordo com quais autores eu o associei ou se o assunto me chamou a atenção. A verdade é que agradeço ao acaso por ter lido este romance.

“Os enamoramentos” é uma história simples em sua estrutura mas incrível em sua proposta. O autor, que também é filólogo, escreve para encantar quem pretende ler suas obras. A sutileza com a qual escolhe as palavras, o encaixe perfeito em uma oração, os vários sentidos que um único parágrafo pode ter. Tudo é pensado com muito cuidado. O detalhe é o destaque no texto deste espanhol.

Não posso deixar de elogiar também o desafio de tentar emular o pensamento feminino, algo que, para mim, ele pareceu fazer com muita competência (confesso não saber como). A história, contada através das reflexões de María Dolz, levanta questões a respeito da morte, da traição, do amor, da violência e do sentido da verdade (e da mentira). É um livro extremamente útil para vários momentos da vida e deliciosamente escrito. Eu indico facilmente para quem ainda estiver em dúvida se vale a pena realizar a leitura. E digo mais: não se assuste com os parágrafos de duas, três ou quatro páginas. Leia com atenção e paciência. Inspire e expire, se for preciso.
Marilia Verdussen 08/05/2022minha estante
cara... li o primeiro terço e tô quase largando. Cruuuzes que pedante


Alê | @alexandrejjr 09/05/2022minha estante
Por que achasse pedante, Marília?


Marilia Verdussen 09/05/2022minha estante
rapaz, as falas sobre a morte não são normais, são discursos. Minha sensação é de que ele queria fazer ensaios e resolveu colocar o que pensava numa história qualquer. A mulher falando do mendigo e exemplificando por que não tem raiva: discurso redondo, sem falhas, longo, articulado, culto. Os personagens são igualmente eloquentes, parece que nem existe alteridade... Estranhíssimo. Sensação de quebesse povo não existe, Alexandre. A protagonista nem humana parece, mesmo dizendo que precisava ver o casal pra.passar o dia melhor, mesmo zoando os autores...


Alê | @alexandrejjr 09/05/2022minha estante
Entendo, Marília. Mas sabes que onde tu vês defeito eu vejo a qualidade do livro? Ficção não é realidade. E que bom que o livro consegue causar essa estranheza na leitura, porque é justamente o efeito da linguagem aplicada pelo Javier Marías funcionando. O discurso da protagonista parece deslocado do real porque é ficcional, saca? Ninguém pensa e fala tanto como a María Dolz do livro. E isso é fantástico! Só num livro esse discurso - que parece um grande ensaio sobre a vida, a morte, a dúvida, a ausência, o luto - funciona, saca? Agora... claro que ele não vai agradar todo mundo, mas o que ele faz nesse livro, pra mim, é fantástico!


Marilia Verdussen 09/05/2022minha estante
sabe se os outros livros del3 são assim?


Alê | @alexandrejjr 09/05/2022minha estante
Infelizmente são, Marília. "Coração tão branco", que é um livro estupendo, também é cercado de digressões e "ensaios" filosofico-literários que ele traz através dos pensamentos das personagens. Aliás, é algo que as personagens dele fazem muito: pensam, pensam e pensam. Não é muito o teu estilo esse?


Marilia Verdussen 10/05/2022minha estante
tô tentando pensar que livro parecido eu não curti como esse. Mas não me veem nenhum na cabeça...


Alê | @alexandrejjr 28/06/2022minha estante
É que são os raros os livros nesse estilo mesmo, Marília. Eu fui corrigir uns errinhos e retirar algumas coisas que estavam sobrando na resenha e percebi que no meu texto eu destaco essa questão de não saber "com quais autores eu o associei".


De Guerra 21/08/2022minha estante
Eu adorei esse livro! Que construção incrível.


Alê | @alexandrejjr 09/09/2022minha estante
Eu gosto muito dele também, Denise. Infelizmente, sei que não é para todos os paladares literários, o que me entristece um pouco, pois queria que ele fosse mais acessível. Acontece. Mas sempre que eu posso eu indico para as pessoas e peço paciência com as digressões. Às vezes funciona, às vezes não.


Carmen Sílvia 09/05/2023minha estante
Fiquei curiosa! Vou ler!




Alan Furiati 30/04/2022

Um assassinato aparentemente aleatório gradualmente revela motivações mais profundas.
A protagonista, María Dolz, uma mulher que gosta de cultivar hábitos, busca pelo que a complete na vida dos outros que admira a distância e quando a perfeição da vida dos outros se quebra ela busca em si mesma as partes que faltam no que pouco antes ela idealizava. É um elegante mistério de assassinato, mas esta investigação está em busca de responder perguntas muito mais complexas do que apenas as das razões para o crime. Para compreender o rumo que a investigação adquire é preciso compreender quem investiga e quem oferece as respostas ou novas pistas.
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*Carina* 14/10/2012

Os enamoramentos
“O que aconteceu é o de menos. É um romance, e o que acontece neles não tem importância, a gente esquece, uma vez terminados. O interessante são as possibilidades e ideias que nos inoculam e trazem através de seus casos imaginários (...)”

Essa afirmação, aparentemente estranha, se prova absolutamente real ao ler “Os Enamoramentos”, de Javier Marías. Já li vários livros dele, de muitos não lembro a história, mas a sensação depois de cada um é a mesma: inquietação, curiosidade, vontade de ler mais, de estudar mais, de viver mais. Claro que histórias são importantes num romance, e em “Os Enamoramentos” temos vários elementos de uma grande história: um casal aparentemente perfeito, uma morte súbita e violenta, um personagem que não é o que parece à primeira vista. Porém, o que me prendeu ao livro foi mais do que isso. Foi o que senti durante e depois da leitura. Porque há livros que nos fazem esquecer a vida, viajar, fantasiar. E há livros, como “Os Enamoramentos”, que nos fazem ler nossas próprias vidas, reconhecer nossos sentimentos, descobrir um pouco mais sobre quem somos, e sentir que não estamos sozinhos. Afinal, quem é que nunca se apaixonou? Ou melhor, se enamorou, que segundo Javier são coisas diferentes. O enamoramento do qual ele fala no livro é “(...) sentir um fraco, verdadeiro fraco por alguém, e que esse alguém produza em nós essa fraqueza, que nos torne fracos. Isso é o determinante, que nos impeça de ser objetivos e nos desarme perpetuamente e nos leve a nos render em todas as contendas (...)”.
Se você já sentiu isso, certamente vai se identificar com as “burrices” que Javier descreve, aquelas que só fazemos quando estamos desarmados - e desamados. Os questionamentos e afirmações que ele faz acerca do caráter mutável dos nossos sentimentos, e da impossibilidade de averiguar com acuidade as palavras e intenções do outro, traduzem algo que faz parte do nosso dia a dia sem que nos demos conta, mas basta ele falar para que percebamos como aquilo é real.
Li a história de María, Miguel, Luisa e Javier traçando paralelos com a minha própria história o tempo inteiro. E é isso, mais do que qualquer coisa, que torna “Os Enamoramentos” um grande livro. É um livro que é capaz de contar uma história que não é só aquela que está escrita, mas é mais ainda aquela que lemos, e aquela que se inscreve em nós.
DIRCE 08/02/2014minha estante
Você descreveu como ninguém as consequências das leituras de Marias - "...vontade de ler mais, de estudar mais, de viver mais." é justamento isso.
Abraços.


Ananda Sampaio 20/11/2014minha estante
Carina, linda sua resenha e descrição! Faz tempo que paquero com esse livro, mas depois de ler seu testemunho vou comprá-lo. Creio que a Literatura (porque quase nada escrito pode ser chamado assim) é uma possibilidade infinita de vivermos muito do já vivemos e muito do que jamais viveríamos. Visto que, a vida é limitada e só vivemos uma de cada vez, não é mesmo? Livros assim nos proporcionam uma riqueza interior muito satisfatória. Muitas vezes saímos meio alquebrados, mas em extrema contemplação pela riqueza da vida. Bjos!!




Mah Mac Dowell 03/09/2021

Infelizmente o livro não funcionou comigo. Não gostei da história, da narrativa e nem dos personagens.
Acredito que a narrativa com parágrafos muito longos, e quase sem diálogo, acabaram deixando a leitura um pouco cansativa.
Não consegui me conectar ao livro.
Alê | @alexandrejjr 03/09/2021minha estante
É um livro complicado pra quem não está habituado a esse estilo, que também é empregado pelo Saramago, de certa forma. Dá sempre um dó ver que alguém não gosta de um livro muito querido por um leitor, mas a beleza da literatura tá aí, dessas diferenças. ?


Mah Mac Dowell 03/09/2021minha estante
Pior que já li os livros de Saramago e gostei muito. Só acho que esse não funcionou pra mim. Mas é isso, gosto cada um tem o seu né




Biblioteca Álvaro Guerra 11/09/2023

O romance atesta o talento de Javier Marías para envolver o leitor em suas fabulações, ao mesmo tempo que revela passo a passo as armadilhas de toda ficção. O desejo íntimo de acreditar naquilo que é narrado, bem como o impulso de preencher com a própria fantasia o que se ignora: talvez seja o tema central desse romance primoroso.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535921533
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jota 25/11/2013

Poucas emoções e muitas digressões
Pelo menos até certo ponto (e lá já se tinham ido mais de cento e tantas páginas), Os Enamoramentos não me pareceu ser um livro tão envolvente assim quanto eu imaginava que fosse. Os personagens têm sentimentos, emoções, dúvidas, uma tragédia acontece mas nos inteiramos dela sem que o mundo caia sobre nossas cabeças. Ao contrário do que às vezes acontece com determinados personagens pelos quais nos "enamoramos" e ficamos aflitos quando eles se encontram em perigo ou são mandados para o espaço por algum malfeitor. Nada disso ocorre muito aqui.

Com essa observação não quero dizer que o livro não seja bem escrito, que as histórias que vão sendo contadas por María, editora de livros espanhola, não sejam interessantes (ou que suas observações não sejam curiosas, etc.), que os personagens sejam banais, etc., claro que não. Talvez seja apenas o jeito de escrever de Javier Marías que pode ter me causado essa impressão, não sei: é a primeira vez que leio uma obra dele. E também pode ser a última.

Mas ficou claro que ele entende um bocado de alma feminina, ou então de personagens femininas, caso da narradora e protagonista María Dolz. Você se esquece completamente que o autor é um homem e vai seguindo María e sua narrativa para aonde o pensamento dela vai caminhando. Mesmo porque, se não fizer isso, pode acabar se perdendo numa das inúmeras reflexões, divagações ou digressões da personagem e quando ela volta ao ponto anterior você pode mesmo nem se lembrar do que havia lido antes. Suas divagações são tantas que a própria María, falando de outro personagem, Javier, a certa altura (página 261) o acusa, dizendo para si própria, que ele “(...) tinha se sentido tentado a fazer digressões de suas digressões (...)”. Pois é, isso só pode ser encarado como ironia, não?

Somente quando ocorre um crime e a trama assume ares de uma história policial (isso vai ocorrer apenas lá pela metade do livro, por volta da página 150, por aí), a narrativa parece tornar-se mais interessante. Não temos tanta certeza assim de que as coisas aconteceram como María nos vai contando, ainda mais que ela adiciona àquilo que ouviu e leu sobre esse crime mais um punhado de digressões.

María não consegue segurar seu pensamento e assim, de digressão em digressão, a coisa vai até o final, com a sombra da subjetividade pairando sobre tudo. A subjetividade em María (ou nas pessoas, de um modo geral) é causada pelos “enamoramentos” (ou oscilações em seus estados de espírito); o enamoramento é algo assim que está além do amor - um sentimento que, como tal, não nos cabe explicar, apenas sentir. Palavras de María, ou de Marías, o autor.

Se fosse para resumir bem resumido a obra, espremê-la, poderia se dizer que num dia tal (o do aniversário da vítima) numa rua de Madri ocorre um assassinato em circunstâncias um tanto estranhas. Há duas versões para a morte de Miguel: a que María ouviu parcialmente e completou com o que leu nos jornais mais suas inúmeras digressões, e a versão de Javier (amigo íntimo do morto), por quem ela parece ou quer enamorar-se, pelo menos a princípio, mas que depois já não lhe parece ser alguém totalmente confiável.

Quem está contando a verdade: María ou Javier? Com qual das duas versões devemos ficar? Ou nenhuma delas seria verdadeira? Embasando isso tudo está o tema central do livro: a presença incômoda dos mortos na vida dos que permaneceram. Tema que o liga diretamente ao livro de Balzac, O Coronel Chabert, que acompanha a edição especial da Companhia das Letras, e que deve ser lido antes. Se bem que a história de Balzac, uma novela curta, está praticamente contada inteira dentro de Os Enamoramentos.

Apesar do título, Os Enamoramentos parece ser um livro que tem muito mais a dizer a nossa cabeça do que ao nosso coração. Não consegui me "enamorar" inteiramente por ele...

Lido entre 15 e 24/11/2013.
Laura 20/01/2015minha estante
Jota, lendo sua resenha me dei conta dos motivos pelos quais não gostei deste livro. As digressões foram excessivas, não me foi uma leitura prazerável, infelizmente. Claro que o argumento central do autor é interessante, mas quase 350 paginas nesse mesmo assunto, achei cansativo. Não li o texto de Balzac tão citado no livro, e vejo agora que esta falta pode ter sido mais problemática ainda, não conseguindo comparar a compreensão de um texto com o outro. Finalmente, como mulher, não acho que o autor entenda taaanto assim da alma feminina, a personagem que ele cria é complexa, mas parece que lhe falta auto conhecimento...
Também não consegui me "enamorar" muito por ele...


Paulo Sousa 10/09/2022minha estante
Tou nele, agora?


Paulo Sousa 10/09/2022minha estante
Vixe, agora, depois de ler a sua resenha, tenho de pedir que não desista do Marías: vai para ?O homem sentimental?, ou ?Coração tão branco?, ou ?Berta Isla?, que é o que achei melhor dos três.


jota 11/09/2022minha estante
Paulo: dei uma nota 4 para o livro, o que significa que gostei do romance apesar de algumas ressalvas. E só peço aos deuses uma vida longa e saudável (já que não se pode ter duas) para poder ler até mesmo aqueles autores que eu "jurei" nunca mais ler.




Dri Ornellas 22/06/2020

Eu não lembro como cheguei ao livro Os enamoramentos, de Javier Marias (provavelmente foi ao ler sobre sua famosa trilogia Seu rosto amanhã), mas lembro que assim que o comprei, peguei para ler sem colocar na lista de espera, mas, apesar do ânimo para a primeira leitura (acho que em 2012 ou 2013), ela foi muito arrastada, não por culpa da história em si, mas porque a leitura estava sendo um pouco pesada - agora, não faço ideia porque a leitura foi assim para mim, mas devo ter demorado uns 3 meses para finalizar esse livro, na época - o que me fazia várias vezes colocar o livro em espera ou o intercalar com outros livros. As pausas acabaram tornando a leitura ainda mais maçante por esse não ser um livro para ser lido com grandes hiatos: a história pede ritmo, se você se distancia pode acabar perdendo a ligação com os personagens - ou a pouca ligação, no meu caso - isso porque o livro tem pouca ação e diálogos, acontecendo na base de falas longas e devaneios mais longos ainda. E é nesses devaneios que mora a peculiaridade do livro de Javier Marías, pois são eles que criam toda a vida dos personagens.

Maria Dolz é uma editora que detesta trabalhar com escritores e publicar livros, o que se torna um contraponto interessante na narrativa: uma editora que despreza o universo criador de ficção. Maria sempre toma café da manhã na mesma cafeteria perto do trabalho e, ao longo dos anos, passou a observar um casal à distância. Um dia, o marido que faz parte desse casal é assassinado por um morador de rua e é com esse infortúnio que se inicia o desenrolar da história. Maria se envolve com um amigo do casal desfeito e, ao nos contar os acontecimentos, cria conjecturas tão bem articuladas que nós, leitores, ficamos confusos e nos perdemos entre o que é real de fato e o que é narração dela. Não chega ser algo machadiano como o que acontece com Bentinho porque aqui, ao final de uma longa explanação, a própria personagem contrasta as suas dúvidas ou hipóteses com a realidade, transformando a leitura em um exercício ficcional: Os enamoramentos um livro de ficção com várias ficções em seu interior (inclusive faz várias alusões a Balzac e Shakespeare) e possui várias passagens metalinguísticas: "'É um romance, e o que acontece neles não tem importância, a gente esquece, uma vez terminados' Talvez pensasse que com os fatos reais não acontecia assim, com os da nossa vida. Provavelmente é certo para quem os vive, mas não para os demais. Tudo se transforma em relato e acaba pairando na mesma esfera, e mal se diferencia então o acontecido do inventado. Tudo acaba sendo narrativo e portanto soando igual, fictício mesmo que seja verdade."

Essa foi uma releitura muito menos impactante do que a primeira, apesar de continuar considerando um ótimo livro: história original, uma escrita incrível e os devaneios metalinguísticos são um grande diferencial, mas não consegui me empatizar e envolver com a protagonista. Pode ser que essa tenha sido mesmo a intenção do autor, usar a personagem para nos contar e explicar a (ficção da) história, não para ser a heroína.
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Fabiana.S 21/04/2024

Fulanas...
Ser uma "fulana", um passatempo, estar de passagem na vida de alguém que é especial para si.

Aceitar migalhas de afeto, companhia e calor na esperança dos sentimentos do outro mudarem em algum momento, para quem sabe assim, virar a Mulher escolhida.

"Porque me submeto a isso?"
Javier Marias escreveu com maestria sobre os sentimentos de muitas mulheres.

" Há Homens que desde o início deixam tudo bem claro sem que ninguém peça:
'Vou avisando que não vai haver mais do que há entre você e mim. E se você aspirar a outra coisa é melhor acabarmos já'. Ou então: 'Você não é a única nem pretenda ser. Se busca exclusividade, errou de endereço.
Tenha em mente que somos um para o outro: companhia provisória, entretenimento e sexo. No máximo, camaradagem e afeto contido".

Os enamoramentos entrou na lista dos favoritos, com louvor :)



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Heloiche 05/01/2021

Leitura que nao me conquistou
Essa leitura foi para mim uma prova de resistência. Quase 400 páginas. Há muito aprendi a abandonar livros que não me agradam sem dó nem piedade. Mas nesse persisti, depois que uma leitora que respeito, ter dito ser esse o livro da vida dela.
O autor consegue fazer digressões de cerca de 10 páginas. No meio de um diálogo, surge uma pergunta e aquela tensão para saber a resposta. Mas, aí vem trechos de Shakespeare, Balzac, .... de páginas e páginas.
Nunca li nada desse autor, e vou demorar a tomar coragem de ler outro.
Tiago 12/04/2022minha estante
Concordo plenamente. A escrita dele é muito bonita e o plot da história muito interessante. Porém essas digressões gigantescas são um teste de paciência, quebram totalmente o ritmo do livro. Dá para dizer sem medo que é prolixo.




Ivan de Melo 17/12/2020

Javier Marías, a primeira pessoa e a inconveniente presença dos mortos em "Os Enamoramentos"
Em 2020 conheci a escrita de Javier Marías, um dos nomes destacados da literatura espanhola contemporânea, com “Os Enamoramentos”. Terminei a leitura do livro ainda em fevereiro com a felicidade de já poder marcá-lo na lista de melhores leituras de um ano que mal havia começado.

“Os Enamoramentos” é um romance de 2011 e sua história é narrada em primeira pessoa por María Dolz, uma mulher que se diz comum e que cultiva pequenos hábitos para o seu prazer, dentre eles o de tomar café todas as manhãs antes de seu expediente enquanto admira, à distância, um casal que lhe parece perfeito em todos os sentidos. Sem conhecer os detalhes mais pessoais de seus observados, Dolz passa os dias imaginando cenários de sua vida privada, mas essa rotina é profundamente alterada quando o homem do casal é morto e Dolz deixa seu papel de espectadora passiva para se imiscuir na vida da nova viúva. Este movimento inesperado faz com que a protagonista seja envolvida em uma trama mais densa do que ela imaginava e que envolve paixão, traição e assassinato.

O autor constroi aqui uma das mais intrincadas narrativas em primeira pessoa que já li com sua protagonista moldando o que conta a partir de seu estado de espírito, de seus receios e “achismos” que procuram explicar a situação em que se encontra, o que a torna em diversos momentos pouco confiável. Esta relação estabelece uma espécie de jogo em direção ao leitor que deve acompanhar tudo com um pé atrás da porta, contornando (ou não) as intenções de quem conta essa história.

Como se não bastasse o raciocínio de sua narradora, Marías introduz nesta obra um diálogo com outros títulos da literatura, a saber: “Macbeth” de William Shakespeare, “Os Três Mosqueteiros” de Victor Hugo e “O Coronel Chabert” de Honoré de Balzac. Essas obras, que se fazem presentes em diálogos muito bem afinados, constroem uma complexa teia que se liga a “Os Enamoramentos” a partir de um tema que todas têm em comum: a inconveniente presença dos mortos.

Difícil dizer qualquer coisa sobre este livro que não seja um “vá lê-la agora mesmo”. Marías escreveu um daqueles livros que prendem o leitor do início ao fim de suas páginas pelo magnetismo do desdobrar da intriga em que Dolz se vê envolvida, tudo isso num ritmo progressivo e eletrizante que provavelmente te deixará na beirada do assento em alguns momentos. Já posso dizer que quero ler tudo o que Javier Marías escreveu.



site: https://ivandemelos.medium.com/penso-sobre-javier-mar%C3%ADas-a-primeira-pessoa-e-a-inconveniente-presen%C3%A7a-dos-mortos-em-os-366dcdb3ef7b
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mariiroma 22/01/2013

A primeira coisa que você precisa saber sobre Os enamoramentos, é que não é um romance. Bem, não é apenas um romance. O livro é dividido em quatro partes, e cada parte narra um estágio diferente da relação de María, a personagem principal, com Javier; dois nomes que, coincidentemente ou não, compõem o nome do autor, Javier Marías. María se enamora por Javier que é enamorado por Luisa que é enamorada por Miguel, seu marido que morre tragicamente. Apesar do quadrado romântico, o livro é muito menos sobre a história apresentada e mais sobre as reflexões de María sobre os acontecimentos, suas divagações.

María Dolz é uma mulher solitária que não gosta muito de seu emprego em uma editora em Madri; todo dia, como forma de juntar forças para encarar mais uma jornada de trabalho, ela toma café-da-manhã em uma cafeteria, onde observa um casal, um homem e uma mulher obviamente casados, que estão sempre rindo e sorrindo e felizes. Mas Miguel é brutamente assassinado por um flanelinha no meio da rua, no dia de seu aniversário, e a vida de Luisa muda completamente. A vida de María também.

“O que aconteceu é o de menos. É um romance, e o que acontece neles não tem importância, a gente esquece, uma vez terminados. O interessante são as possibilidades e ideias que nos inoculam e trazem através de seus casos imaginários (...)”

Não convêm fazer um esboço da trama: como já disse e como a citação comprovou, essa história não é sobre acontecimentos, nem a narradora é a personagem principal. Tudo gira em torno da morte de Miguel, primeiro como a perda do bom café-da-manhã depois como a dor de uma viúva depois como o mistério do melhor amigo, o livro trata sobre amores e paixões mas também de morte e vida, sempre sob a perspectiva de María, nada acontece fora de seu ponto de vista. Não é importante precisar a veracidade do conto de Javier, e sim refletir sobre as questões levantadas por ele. Os limites da busca pelo amor, a força da amizade, a presença dos mortos no mundo dos vivos, a finitude do luto e infinitude da morte. Refletir também, porque não, sobre a própria função da literatura.

Com uma narrativa profunda e intimista, Javier Marías conduz seu leitor através de várias emoções, sejam estas tristeza ou medo ou ternura, sutilmente faz seu leitor filosofar sem perceber. Ao terminar o livro, o leitor é capaz de coloca-lo na estante ou perde-lo no ônibus ou empresta-lo para um amigo, mas não a tira-lo de seus pensamentos. Os enamoramentos é um livro que fica com você, e mesmo sem se lembrar da trama ou do nome da narradora, as reflexões vão permanecer.

site: http://todasasluzes.blogspot.com.br/
Julyana. 30/01/2013minha estante
Boa resenha (:


mariiroma 27/12/2014minha estante
obrigada :)




Paulo Sousa 07/11/2022

Leituras de 2022
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Os enamoramentos [2011]
Orig. Los enamoramientos
Javier Marías (?? 1951-2022)
Cia das Letras, 2012, 344p.
Trad. Eduardo Brandão
_____________________________
??O enamoramento é insignificante, em compensação sua espera é substancial.?
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A leitura de Os Enamoramentos deveria ser concluída ainda na semana logo após o lamentável desaparecimento deste mundo de Javier Marias, o grande escritor espanhol que tem me ganhado livro a livro. O que impediu foi a súbita avalanche de problemas, encargos, problemas familiares, entre um ou outro momento para respirar, tamanho o turbilhão de impeditivos que me avassalaram nas últimas semanas. Paciência: a sábia frase de João da Ega, ja no finalzinho de Os Maias, pode muito bem descrever meu eterno lapso - ?a vida que concebemos, nem sempre e a que vivemos?? (cito de orelha).
.
O livro em si tem aquele ingrediente sempre presente nos outros bons Marías que li: um traço detetivesco, cujo ar de conspiração é um chamariz para varar as madrugadas pegado na leitura; um triângulo amoroso, aqui, no caso, representado por Maria Dolz, a narradora do romance, que trabalha numa editora, que é enamorada de Javier Díaz-Varela que, por sua vez, é enamorado de Luiza Desvern, viúva de Miguel, a quem Diaz-Varela conspirou para dar cabo a fim de pode solidificar sua paixão por Luiza; e uma longa caminhada labiríntica onde o agora finado escritor nos leva a pensar no universo masculino permeado de mentiras e inconsistências que dominam suas ações e relações e o sofrimento causado a terceiros, cujo atos jamais serão devidamente punidos, ja que para tal mal não há testemunhas, senão a própria consciência do causador.
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Também de praxe são as estreitas ligações com outros autores/livros, sabiamente inseridos na trama por Marías. É o caso de ?O coronel Chabert?, de Balzac, livro inclusive lido por mim e mini-resenhado também - a cujo mote muito se assemelha a Os Enamoramentos, só que de forma invertida, no caso a tentativa de Chabert de provar que não morreu na guerra, mas está vivo da silva, ao contrário de Miguel, que decidiu ele mesmo desaparecer da existência quando descobriu ser portador de uma doença avassaladora, ainda que efetivado por mãos terceiras.
.
E assim, através da fala de Maria, vamos sendo imergidos nesse universo de motivos nada louváveis em prol de uma causa só leve e aparentemente justa. Ela, uma vez vivendo um rápido caso com Diaz-Varela, acaba interceptando uma conversa daquele com um terceiro envolvido, Ruibérriz, comparsa de Díaz-Varela, na morte de Desvern. Maria se vê enrodilhada no plano de seu amante e teme que ele, ao descobrir que seu plano foi revelado, busque meios de dissuadir Maria de denunciá-lo ou mesmo revelar a trama a Luiza, pondo tudo por agua abaixo, ou mesmo o pior, ser morta por seu amante desconfiado e nada amistoso.
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Como vês, nada demais no enredo, não fosse a pena mágica de Javier Marías quando concebeu este livro sensacional. E é uma pena, uma grande pena essa partida tão repentina que só mesmo o ensimesmamento para nos consolar, pobres leitores?
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Roberta 22/11/2012

O que há por trás de um casal feliz? Que sentimentos despertam nos outros?
Em um romance cheio de ambiguidades, o estado de enamoramento de Miguel e María após vários anos de casados é apenas o ponto de partida para finas reflexões acerca da finitude da vida, do sentido da amizade, dos limites éticos para a busca do amor.

Em constante diálogo intertextual com o Coronel Chabert, de Balzac, e com alguns aspectos de Os Três Mosqueteiros, de Dumas e Macbeth, de Shakespeare, o autor trata da permanência (ou não) dos mortos, das presenças (ou ausências) que permitimos em nossas vidas, do que fazemos para preencher nosso (permanente) vazio existencial.

Em paralelo, a história permite também pensar o papel da literatura, pois assim como María, a narradora da história, nós, consumidores de ficção,também alimentamo-nos deliberadamente de fantasia, paramos nossas vidas para sermos espectadores da vida dos outros.

Embora haja divagações em excesso em alguns capítulos iniciais, é leitura que vale a pena.
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Paula 11/01/2013

Os enamoramentos e um emaranhado de sensações
Já havia visto "Os enamoramentos" em algumas estantes e os comentários eram sempre positivos. Além disso, fui instigada pelo fato de nunca ter lido nada de Javier Marías, então posso dizer que a expectativa era relativamente alta ao começar o romance.
Veja bem, não pretendo aqui resumir a história ou mesmo resenhá-lo; vou dar minhas impressões da obra.
"Os enamoramentos" me marcou, sem dúvida. Não havia terminado o livro e já não conseguia tirá-lo da cabeça. É o tipo de leitura inquietante, por vezes amarga de tão realista e que me fez perder o sono - literalmente - quando o terminei. Não sei se é uma constante no modo do autor escrever, mas no referido romance ele abusa das divagações por meio da personagem principal. Há horas em que você se perde e se desconecta da história em si para mergulhar nos pensamentos e nas conjecturas de María, a personagem principal. Digo com certeza: impossível não se ler nesse livro. E digo isso porque todos nós já passamos se não por um enamoramento, por pequenas situações que nos exigem uma imaginação um pouco mais afiada para desvendar qualquer coisa.
Javier Marías explora a questão do limite ultrapassado que pode ser justificado pela paixão, mas não se trata só disso (aliás, quem chega à obra achando que é uma história de amor arrebatadora, engana-se profundamente). Ele caminha por questões crucias na vida humana como perda, luto, vaidade, indiferença. Tudo de forma extremamente realista. Isso, aliado a fatores que citarei adiante, me fez não gostar inteiramente da obra. Explico: o realismo me assustou. Assustou-me porque li coisas que, com minha humilde experiência de vida, ainda não vivenciei. Talvez ainda acreditasse em um mundo no qual existem pessoas insubstituíveis em nossa vida, fato que Javier Marías descredita e desacredita totalmente.
Outra questão que me inquietou e impacientou, foi a lentidão da narrativa. Tinha a impressão de que o autor esquecia a história (que era muito boa, por sinal), para dar lugar a suas "viagens" interiores. Isso me irritou um pouco, mas também acho que o final compensou.
Por fim, "Os enamoramentos" é daqueles livros que te marcam, ainda que não seja 5 estrelas (para mim, ao menos). Não tiro a maestria do autor na descrição precisa ou mesmo na história bem fundamentada e muito intrigante. Acho que dei 3 estrelas para a obra por ela ter me tirado da zona de conforto e me ter feito enxergar que o ser humano é cruel se precisar. E bom, é difícil lidar com verdades.
Recomendo.
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