Dominique 07/03/2013Uma garrafa no mar de Gaza - Valérie ZenattiUma garrafa no mar de Gaza emociona ao relatar as experiências de jovens que aprendem desde muito cedo a ser maduros, agir como adultos. Em Gaza não há infância, contrastando fortemente com Jerusalém, onde as crianças e os jovens levam uma vida normal e até feliz, se não fosse pelos atentados ocorrentes.
Tal não consegue compreender como dois povos podem se odiar tanto e destruir tantas vidas por motivos tolos, que poderiam ser resolvidos através da conversa, trazendo paz para seus habitantes e até sonha em ambos os povos serem um dia amigos, poder conviver pacificamente um ao lado do outro, sem rivalidades, atritos, mortes. Gazaman, a princípio é arredio, intragável e parece ter um prazer real de menosprezar a menina israelense que sonha com a paz e que possui o objetivo de ser sua amiga, mas aos poucos, ele deixa-se dominar pelas palavras de Tal, a ver o conflito pelos olhos da jovem e sente-se na obrigação de relatar o outro lado da moeda, a vida como realmente acontece em Gaza.
"Mas é assim: nascemos no lugar em que a terra queima, em que os jovens se sentem velhos muito cedo, onde é quase um milagre alguém morrer de morte natural".
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Toda a conversa é tratada através de emails, Tal tem liberdade de navegar em sua casa, mas Gazaman tem que ter cuidado, pois ser for surpreendido se correspondendo com uma israelense pode ser morto, logo, sentimos em suas palavras a tensão, o cuidado e o medo de falar demais, o medo de morrer.
Valérie Zenatti criou uma história linda, comovente e envolvente. Os personagens são profundos, maduros, inteligentes, seus diálogos ricos e bem construídos. Seu único pecado foi escrever um livro tão pequeno, apenas 128 páginas, chegamos ao final com um gostinho de quero mais, o desejo de saber o destino daqueles personagens que em tão pouco tempo nos conquistaram e se fizeram ser amados pela sua humanidade e incrível sabedoria.
Outro fator positivo foi a história ser bastante original, sem clichês. Confesso que esperei momentos mirabolantes, encontros impossíveis, um final fora da realidade. Mas, novamente, Valérie Zenatti surpreendeu ao escrever uma história profunda, inteligente e acima de tudo coerente, beirando quase a realidade. Aliás, gostaria muito de saber se realmente em Gaza tem computadores com acesso a internet e a jogos americanos. Veja bem, como ocidental, cresci sabendo que os grupos terroristas desse território são avessos a modernidade, tecnologia e produtos americanos, logo, fiquei na dúvida. Fora esse detalhe que para ser respondido precisa de uma intensa pesquisa, a história pareceu-me bastante coerente.
Esse livro pode ser apreciado por jovens e adultos, desde que se tenha um conhecimento mínimo do conflito Israel / Palestina, durante a história explica-se naturalmente os fatores que os levaram a guerrear, contextualizando assim os fatos históricos justificando o presente. Perfeito e encantador, eu recomendo a leitura!
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