Valéria Cristina 11/08/2023
Mia Couto é inigualável
Considerado um dos 1001 livros para se ler antes de morrer, Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, faz jus a esse rol.
Em sua prosa inconfundível, Mia Couto conta-nos a história de Marianinho que, depois da morte de seu avô Dito Mariano, volta para a ilha de Luar-do-Chão. Incumbido pelo falecido para celebrar o funeral, o moço reencontra-se com a família.
Nesse reencontro, e ao tempo em que a narrativa se desenrola, ele percebe que o avô não está “totalmente” morto e que a morte dele não é definitiva. Parece que o velho se recusa a morrer. Ao tentar desvendar a circunstância, Mariano depara-se com diversos segredos familiares, inclusive alguns que dizem respeito a ele próprio. A origem de sua mãe, seu nascimento, os amores do avô, os tios com suas manias e maneirices começam a se fazer sentido para o jovem.
Uma história repleta de mistérios como a morte de Juca Sabão, a terra que se fecha e não permite ser cavoucada, bem como sonhos fantásticos, premonições e amores secretos. Tudo isso permeia essa história lírica onde a crítica à exploração inescrupulosa dos recursos naturais, das pessoas e dos lugares, bem como os conflitos entre as tradições e os novos costumes pós-colonial se mostram contundentes.
Um livro excepciona e poético!
Além de ser considerado um dos escritores mais importantes de Moçambique, ele é o escritor moçambicano mais traduzido. Em muitas das suas obras, Mia Couto tenta recriar a língua portuguesa com uma influência moçambicana, utilizando o léxico de várias regiões do país e produzindo um novo modelo de narrativa africana. Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance, publicado em 1992, ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros africanos do século XX por um júri criado pela Feira do Livro do Zimbabué. Em 2007, foi entrevistado pela revista Isto É. Presentemente é empregado como biólogo no Parque Transfronteiriço do Limpopo.