Vitória 12/06/2022
Acho que esse comentário vai ser movido pelo mais puro ódio que se instalou em mim depois de concluir essa leitura, mas antes tenho que fazer algumas considerações. Em primeiro lugar, esse livro me foi recomendado pelo Pedro Pacífico (o tal bookster). Segui esse cara durante algum tempo (hoje, graças aos céus, não sigo mais) e via que de vez em quando a gente gostava dos mesmos livros, mas nunca tinha lido algo por causa de uma indicação dele. O cara é completamente obcecado por equador, vi ele dizer o quanto esse livro era perfeito diversas vezes e, por ter achado ele por 10 reais no sebo, acabei pegando pra ler. Agora nunca mais caio na cilada de ler algo indicado por esse homem. A segunda história é um pouco mais interessante. Como já disse, comprei esse livro num sebo da minha cidade. Assim que iniciei a leitura, achei algumas palavras estranhas mas, como o autor é português, pensei que a editora só não tinha traduzido o texto, e não me importei tanto com isso, afinal eu conseguia entender tudo perfeitamente. Mas eis que, durante a leitura, encontrei uma passagem dentro do livro. Como uma boa fofoqueira, coloquei o nome das cidades no Google, e descobri que as duas eram cidades portuguesas. Depois percebi que a editora do livro não era daqui, mas sim de Portugal (não tinha notado antes porque a capa é igual à brasileira). Ou seja, o tal livro atravessou a porcaria do oceano só pra me fazer passar raiva.
Vou começar pelos positivos, que talvez seja apenas um. A escrita do autor é muito boa, e a leitura, mesmo com toda a raiva que eu estava sentindo por causa de coisas que ainda vou tratar aqui, voou. Só tinha tido a experiência de ler livros em português de Portugal quando li um livro do Saramago, e achei que por ter pouca experiência com isso o meu ritmo poderia ser prejudicado, mas isso não aconteceu. Nas primeiras 200 páginas, eu até cheguei a ficar verdadeiramente interessada na história, mas depois acabei concluindo o livro só porque eu gosto de impor sofrimento a mim mesma e não consigo abandonar histórias pela metade.
Agora vamos aos absurdos presentes nessa porcaria. Já disse que o autor é português e, como toda boa brasileira, eu nasci com o ódio aos portugueses naturalmente presente em mim. Confesso que isso é algo fácil de ser superado, vide meu amor pelo Saramago, mas esse cara aqui só fez eu me lembrar e reforçar ainda mais a minha revolta. O protagonista é um português que é nomeado pelo rei como governador de uma colônia Africana de Portugal pra investigar e, muito provavelmente, acabar com o trabalho escravo no local (na época isso já era crime, a história se passa no início do século XX). Até aí tudo bem, o cara se mostra a frente do seu tempo em alguns aspectos, os problemas começam quando ele chega na colônia. Ele insiste em falar a cada 5 páginas que o trabalho escravo do povo africano é errado porque somos todos iguais, mas no parágrafo seguinte faz questão de dizer como eles eram "selvagens", e como a colonização era necessária para "civilizar" essa gente.
Sinceramente, nem quero continuar falando sobre essa bomba, acho que isso só vau servir pra me deixar com ainda mais raiva. Sei que ainda pode chegar gente pra cima de mim e dizer "mas esse livro foi escrito em outro tempo, eles tinham pensamentos diferentes", e eu respondo: 20 anos atrás não é outro tempo, a colonização já era errada há 500 anos quando ela se iniciou por aqui, e muita gente percebia isso. O problema é que o bonito não quis descer do seu confortável trono de habitante de país colonizador pra perceber isso. E o infeliz ainda teve a ousadia de falar nos agradecimentos de toda a extensa pesquisa que ele teve que fazer pra escrever esse livro. Sei bem que tipo de pesquisa foi essa. Nunca mais leio nada desse cara, e a partir de hoje faço questão de não ouvir mais uma palavra que saia da boca do bookster, porque uma pessoa que não critica uma narrativa dessas só pode concordar com ela.