A Psicanálise dos Contos de Fadas

A Psicanálise dos Contos de Fadas Bruno Bettelheim




Resenhas - A Psicanálise dos Contos de Fadas


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martinho.bia 09/03/2024

O conteúdo do livro têm muitos conceitos e pressupostos da psicologia e psicanálise se o leitor não tiver conhecimento sobre o assunto a leitura fica muito massante e enfadonho. Porém, é um livro direcionado a todos que têm interesse na abordagem da psicologia infantil.
Fábbio Xavier 13/03/2024minha estante
Deve ser top




Claire Scorzi 08/02/2009

Quase Perfeito
Só não dou 5 estrelas por causa de alguns escorregões de Bettelheim, certos surtos de "psicologice", quando ele cisma de interpretar e ver significados até nos mínimos detalhes de algumas histórias infantis, como "A gata borralheira", por exemplo, e soa ridículo. Excluídos esses casos, o livro é simplesmente ótimo; gostoso de ler para leigos como eu, e repleto de considerações psicológicas que fazem sentido. A parte final intitulada "O ciclo do noivo-animal" é 10 e já valeria o livro inteiro: é nela que Bettelheim analisa contos como "A bela e a fera" e "O príncipe sapo"; suas explicações são interessantíssimas! Digno de releitura.
Tito 23/06/2010minha estante
Esse eu acabei abandonando logo nos primeiros capítulos. Ou melhor, deixando para um outro momento, pois me pareceu bastante interessante...


Andreza 07/07/2013minha estante
Concordo, é realmente gostoso de ler,até para quem não é da área.


Jéssica Marise 23/04/2015minha estante
Vocês com esses comentários estão me instigando! Estou estudando psicologia e estou MUITO interessada!
P.S.: Se puderem me dar mais dicas de Psicanálise Infantil estarei toda ouvidos!


Ana 26/04/2015minha estante
Concordo com os "escorregões". Mas deveria ser uma leitura obrigatória para psicólogos, professores e até mesmo os pais.


Meire.Alves 11/03/2020minha estante
Concordo, em alguns momentos o exagero da análise de pequenos detalhes o torna cansativo e até faz com que se perca a credibilidade. No entanto a parte final é demais! Vale o livro todo!




Martony.Demes 17/07/2022

Um livro que interpreta e analisa diversos pontos de contos de fadas
O livro é bem interessante. Ele faz análise e interpretação minuciosa de diversos contos de fadas e pontos intrínsecos que a gente até deixa passar despercebido mesmo como adulto.

Ele faz (diversas) análises psicanalistas que eu jamais ia nem imaginar. Algumas eu fiquei até assim desconfiado. Achei um pouco exagerado mas como é sob ponto de vista de um especialista eu aceitei!

Os pontos negativos é que achei um pouco cansativo pois em certos contos ele faz vários giros, mesmo que helicoidais ascendestes, fica um pouco chato.

Eu indico esse livro mais para psicólogos, psiquiatras, pedagogos, psicanalistas e estudantes dessa área. Para quem não é da área, como eu, fica mais so por curiosidade!

Talvez eu tenha que reler alguma das análises para relembrar pois é muita interpretação!

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Thauany 28/04/2022

Era uma vez...
O principal ponto desta obra é enaltecer que as crianças também possuem sentimentos, medos, aflições e até traumas que dentro da sua maturidade adquirida até ali fazem todo o sentido e os adultos não devem subjulgar estas ansiedades e que se bem trabalhados os contos de fadas podem sim ajudar a trabalhar o subconsciente e trazer experiências positivas para as crianças.
Ps. Sempre soube que "A Bela e a Fera" era o melhor conto e agora posso falar com propriedade.
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sonia 11/01/2014

POR QUE LER CONTOS DE FADAS ?

A infância é um período de alegria, brincadeiras e sonhos. Certo ? Por um lado, sim. Mas há um outro aspecto. A infância é também um longo período de sofrimento, frustrações e humilhações.
Que tal ter setenta centímetros de altura em um mundo onde os adultos parecem ter dez metros ? Sentir - se um anão entre gigantes ? Derrubar leite na toalha, migalhas no sofá, molho de tomate na roupa nova; sentir as calças molhadas porque não se foi suficientemente rápido para correr ao banheiro... e ouvir os inevitáveis : Desastrado!, Porco!, Outra vez?, Você só serve para dar trabalho!, Eu já não te falei mais de mil vezes..., Você não toma jeito, mesmo!.
Esta situação já é bastante constrangedora, mas às vezes existem outras complicações - irmãos mais bonitos ou que parecem perfeitos, e as dolorosas comparações: Veja seu irmão. Por que você não faz como ele?, Olha só como seu irmão é caprichoso, Ele é tão corajoso, não chorou no dentista.
Deixemos de lado as situações dolorosas da vida - orfandade, pais alcoólatras ou espancadores. Fiquemos com a infância normal em lares estáveis, com filhos desejados e pais amorosos. Fazem parte da infância normal sentimentos perturbadores e terríveis, tanto que muitos adultos preferem esquecê - los ao crescer.
Por exemplo, o MEDO. A criança é um ser frágil que depende totalmente de outro para comer, abrigar - se, manter se aquecida e limpa. Imaginemos por um instante. Não poder andar sozinho. Não poder comer sozinho. Pior - não conhecer o mundo e suas regras. É profundo e total o DESAMPARO da criança.
Quando a criança começa a falar e a pensar, depara - se com o problema mais doloroso da infância, que, mal resolvido, comprometerá todo a sua vida futura : a questão do valor pessoal. Como pode a criança afirmar - se em um mundo onde ela não conhece, não sabe e não compreende a maior parte das coisas? E onde lhe dizem o tempo inteiro : isso não é assunto de criança, isto você vai saber mais tarde, quando você casar, passa, quando você crescer eu explico. Frases que a criança traduz como : ninguém me leva a sério. É a REJEIÇÃO.
A criança faz progressos que são encarados sem muito entusiasmo pelos adultos, embora estas conquistas sejam obtidas através de muito trabalho - aprender a ler, aprender a andar, para citar as mais óbvias, exige imenso esforço e persistência por parte da criança, e no entanto poucas vezes são recebidas com entusiasmo : Que maravilha, meu filho!. Muitas conquistas importantes são ignoradas, deixando a criança com a impressão de que só uma pessoa muito boba poderia achar que fez alguma coisa de notável, afinal, todo mundo lê, anda, come sozinho e mantém - se limpo - todo mundo menos ela, a criança.
Quando você crescer, para o pensamento infantil quer dizer nunca. A criança é toda agora.
Há no entanto um jeito de falar diretamente à alma da criança, dar - lhe consolo, esperança e, o mais importante, a fórmula para deixar de ser bobo e virar rei. Adivinharam ? Sim, é o conto de fadas.
Típicas, por exemplo, são as histórias dos três irmãos, dos quais o mais novo é bobo, humilhado pelos irmãos, e sai pelo mundo abençoado pela mãe, sem dinheiro, e por ser bondoso com um animalzinho ou velhinho que encontra pelo caminho, é recompensado e descobre um segredo que o leva a um tesouro.
Estas histórias de aparência simples contém um complexo simbolismo que não é a intenção deste artigo desenvolver. (Os interessados procurem ler A Psicanálise dos Contos de Fadas, de Bruno Bettelheim, Ed. Paz e Terra).
O que nos interessa aqui é encarar o desejo dos pais de protegerem a criança dos sentimentos maus e da violência, procurando para elas leituras neutras, sem emoções, ou, o que é pior, suavizando as histórias : O Lobo Mau não comeu o porquinho, não, o porquinho fugiu; O caçador não matou o Lobo, só bateu no bumbum dele.
A emoção da criança é primitiva e selvagem, do tipo tudo ou nada. A criança ama ou odeia com todo o seu coração. Seu medo, simbolizado pelo Lobo Mau, só pode ser destruído pela morte. Sua imaturidade, simbolizada pelo porquinho que fez a casinha de palha, também. Só a morte pode acabar com o perigo que ameaça a criança : seu próprio medo, sua própria ignorância e outros sentimentos ruins, disfarçados de bichinhos. Nestas histórias, a morte não é violência; é o símbolo da transformação que torna a criança mais madura, mais sábia, mais corajosa. Deixe o seu filho gritar de alegria porque o Lobo
Mau morreu. Isto não quer dizer que seu filho seja um nazista sanguinário em potencial. Quer dizer apenas que seu filho venceu o medo.
A seu modo mágico, os contos de fadas contam para a criança que ela traz em seu coração a chave da felicidade, é só acreditar em si e esperar pelo momento certo. Os contos de fadas também lhe dizem que ela não é a única a sofrer, lá está o pobre Tolo a ser humilhado pelos irmãos e desacreditado pelos pais - e a criança sente-se compreendida.
Se queremos trazer alegria à vida de nossos filhos, devemos começar por reconhecer a dor, a aceitá - la e a encará - la _ a dor profunda de ser desamparado, impotente e ignorante; o medo e a vergonha por sentir - se inferior . Então podemos começar a contar a nossos filhos como vencer a dor e encontrar o caminho da realização e da felicidade, um caminho longo e difícil que as histórias de fadas tornam atraente e encantador.
Vamos encher de sonhos a infância. Afinal, é como diz o ditado : Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.
Kinha 27/07/2023minha estante
Perfeito, ótimo comentário, aliás o melhor.




Rebeca 11/09/2021

Boa leitura
O autor explica, principalmente, a síndrome de Édipo e tira a ideia fixada e pré concebida de que o mito se resume no amor dele pela mãe e ponto. Também põe um olhar clínico sobre os contos. Muito explicativo, bem desenvolvido e com escrita fluída.
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Fabi Miranda 19/06/2021

Por ser professora e uma leitora apaixonada por contos de fadas estava com muita expectativa para ler esse livro. Foi o título que me chamou atenção e não sosseguei enquanto não comprei.
A falta de familiaridade com a psicanálise tornou a leitura demorada, culpa minha é claro. Mas termino a leitura impressionada com a riqueza de sentido dos contos e quão complexos podem ser. Acho uma leitura super válida para quem trabalha com criança.
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Jesebhelly 17/07/2023

Uma leitura surpreendente e um grande mergulho nas profundas da psicanálise, Bruno conseguiu fazer associações impressionantes e certeiras em relação aos contos de fadas e sempre enfatizou a importância dos contos de fadas nas nossas vidas e nos ensinos de uma criança.
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Paty 28/07/2021

E viveram felizes para sempre
O livro aborda os aspéctos psicológicos dos contos de fadas, e como estes influenciam no desenvolvimento da criança. O livro pode ser um pouco cansativo as vezes, por abordar temas complexos, mas é bastante interessante as associações das história infantis, com os aspectos inconscientes.
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Amanda 21/06/2021

Muitíssimo interessante, me fez enxergar muitos contos de uma forma bem diferente. Achei que algumas análises foram um tanto exageradas, mas no geral fazem muito sentido! A primeira parte do livro é mais monótona, chega até a ser cansativa de ler, mas depois da página 250 fica bem legal!
Demorei 3 meses para ler, não é um livro de histórias, é literalmente um livro de análises, precisando ser lido com atenção. Recomendo muito, principalmente para pais.
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Carla.Parreira 21/10/2023

A psicanálise dos contos de fadas
?
Eis um resumo geral da leitura em si: A criança ?divide? as pessoas que a rodeiam em boas e em más. ?Divide-se? a ela própria quando não se assume como culpada de coisas que fez e que a desgostam: chega a afirmar que não foi ela quem fez isto ou aquilo (que realmente fez). Num mundo já de si perfeitamente antagônico, ela intuitivamente ?divide? tudo em bom e mau, para assim encontrar o seu equilíbrio. E, no entanto, quantas vezes se inquieta: porque será, ela própria, obediente e teimosa, boa e má, valente e medrosa, uma contradição viva?
A maturidade psicológica consiste na aquisição de uma segura compreensão do que pode ou deve ser o sentido da nossa vida. E esta realização é o resultado final de uma longa evolução: em cada estádio procuramos, e temos de encontrar, um mínimo de sentido, adequado à forma como o nosso espírito e a nossa compreensão já evoluíram. Os contos de fadas são portadores de mensagens importantes para o psiquismo consciente, pré-consciente ou inconsciente, qualquer que seja o nível em que funcionem. Lidando com problemas humanos universais, especialmente com os que preocupam o espírito da criança, as histórias falam ao seu ego nascente, encorajando o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, aliviam tensões pré-conscientes ou inconscientes.
A psicanálise foi criada para habilitar o homem a aceitar a natureza problemática da sua vida sem ser vencido por ela e sem se entregar à fuga sistemática. É esta exatamente a mensagem que os contos de fadas trazem à criança, de múltiplas formas: que a luta contra graves dificuldades na vida é inevitável, faz parte intrínseca da existência humana, mas se o homem com coragem e determinação enfrentar as dificuldades, muitas vezes inesperadas e injustas, acabará por dominar todos os obstáculos e sair vitorioso. Os temas dos contos de fadas não são sintomas neuróticos, algo que importa compreendermos de forma racional, para mais depressa nos vermos livres deles. Esses temas são sentidos como autênticas maravilhas pela criança, porque através deles se sente compreendida e apreciada no seu âmago, nos seus sentimentos, nas suas esperanças e angústias, sem que seja preciso trazer tudo isso à superfície para ser investigado à luz crua de uma racionalidade que ainda está para além da compreensão infantil. Os contos de fadas enriquecem a vida da criança e apresentam-se com uma qualidade de encantamento, exatamente porque ela não sabe como é que as histórias produziram em si semelhante prodígio.
O objetivo dos contos de fadas não é dar informação útil sobre o mundo exterior, mas sim sobre os processos psicológicos interiores que têm lugar num indivíduo. A história ilustrada perde muito do conteúdo pessoal que poderia trazer à criança que lhe aplicasse somente as suas próprias associações visuais, em vez das de quem as desenhou. Quando todos os devaneios da criança se personalizam numa fada bondosa, todos os seus desejos destrutivos numa bruxa má, todos os seus receios num lobo voraz, todas as ciências da sua consciência num homem sábio encontrado numa aventura, toda a sua zanga ciumenta nalgum animal que dê bicadas nos olhos dos seus rivais detestados ? então a criança pode finalmente começar a pôr ordem nas suas tendências contraditórias. Iniciado este fato, a criança será cada vez menos submergida por um caos incontrolável.
Ao contrário disso, se contarem a uma criança histórias ?verdadeiras como a realidade? (o que quer dizer falsas para partes importantes da sua realidade interior), ela pode concluir que muito dessa realidade interior é inaceitável para os seus pais. Assim, há muita criança que se afasta da sua vida interior, e isso a depaupera. Consequentemente, ela pode depois, já adolescente e, fora da ascendência emocional dos seus pais, vir a detestar o mundo racional e escapar-se completamente para um mundo de fantasia, como que para se desforrar do que perdeu na infância. Quando for mais velha, isso poderá implicar numa severa quebra com a realidade, com todas as perigosas consequências para o indivíduo e para a sociedade. Ou, menos seriamente, a pessoa poderá continuar esta clausura do seu ?eu? interior toda a sua vida, e não se sentir nunca plenamente satisfeita com o mundo, porque, alienada dos processos inconscientes, ela não pode usá-los para enriquecer a sua vida na realidade das coisas. A vida deixa então de ser ?um prazer? ou ?uma espécie de privilégio excêntrico?. Com tal separação, o que quer que aconteça na realidade deixa de oferecer satisfação apropriada às necessidades inconscientes. O resultado é que a pessoa sente sempre que a sua vida é incompleta.
Somos mais do que os nossos corpos, mentes, emoções, necessidades, desejos e sonhos pessoais. Temos uma natureza superior e transcendente e fazemos parte de uma espécie que está paulatinamente a evoluir no sentido da totalidade. A criança pequena não está separada desse eu transcendente, mas o adolescente, em busca do conhecimento racional e intelectual do mundo, acaba por se distanciar da sua natureza espiritual. As imagens mentais dirigidas dão aos adolescentes uma oportunidade valiosa de sanar esta dicotomia entre mente e coração. A primeira coisa que devemos fazer é ouvir ou ler os contos, deixando que as imagens e as sensações surjam livremente, como se estivéssemos a sonhar. Neste estágio, é importante não tentarmos interpretar o sentido da história ou dos símbolos. Temos de experimentar interiormente o que os personagens vivem e sentem, a fim de que o poder do conto e das suas imagens possa atingir o seu pleno desenvolvimento. As crianças sabem predispor-se instintivamente à escuta dos contos. Os adultos sentem uma maior dificuldade, por causa das barreiras mentais e dos juízos de valor que abafam frequentemente a emoção. Temos de nos colocar em sintonia com o conteúdo da história e seguir atentamente as mínimas peripécias, mesmo que nos pareçam incompreensíveis. Antes de estudar detalhadamente as regras precisas que os contos nos ensinam, é bom saborear a sua magia e abordá-los com um coração de criança. Esta abordagem exige humildade da parte do ouvinte ou do leitor e é um ato de fé face à porção de verdade que a história traz até nós.
Para ler um conto sob o ponto de vista da psicologia analítica junguiana, é necessário levar em conta que todas as personagens são uma só ? o protagonista diante de todos os aspectos da sua psique e o caminho frequentemente difícil para alcançar a individuação. É a história de nós mesmos a caminho de nós mesmos. Enquanto que a fantasia é irreal, os bons sentimentos que nos oferece sobre nós próprios e o nosso futuro são reais e estes bons sentimentos efetivos são aquilo de que precisamos para nos apoiar. O conto de fadas não nos fala de uma solução feliz que se atingiu sem qualquer esforço. As mais variadas histórias falam todas de certo problema que só se resolve quando o herói ou a heroína se submetem a provas e a sofrimentos. Isto significa que a criança não ultrapassará a sua crise até estar pronta para evoluir por meio de um combate e até que seja capaz de reconhecer, de forma ampla, o seu problema, e tenha assim atingido a maturidade.
O crescimento implica mudança. Pode parecer paradoxal que, para fortalecer a nossa identidade, devamos estar disponíveis para aceitar a mudança, mas é igualmente paradoxal que a nossa identidade se dilua quando a tentamos fortalecer evitando qualquer alteração na nossa aparência exterior. Atrás de cada objeto experimentado por nós, por mais inanimado que seja, há, de certa forma, uma consciência viva. O universo em que se vive somos nós que o fazemos: metamorfoseamos uma realidade que aparentemente é estática e animamo-la com o nosso imaginário. E o que é que acontece? Olhar para uma porta que é um objeto inanimado é uma coisa. Outra coisa é sonhar com uma porta que se abre e dá acesso a um elemento irracional e simbólico: a porta que me leva para outro mundo, para uma realidade diferente. Há elementos de caráter mágico-religioso nos nossos sonhos, que correspondem um pouco a essas portas que se abrem no conto de fadas, a esses seres pequeninos que servem de guias nas nossas aventuras.
Apenas na idade adulta podemos obter uma compreensão inteligente do significado da própria existência neste mundo a partir da própria experiência nele vivida. Infelizmente, muitos pais querem que as mentes dos filhos funcionem como as suas ? como se uma compreensão madura sobre nós mesmos e o mundo, e nossas ideias sobre o significado da vida não tivessem que se desenvolver tão lentamente quanto nossos corpos e mentes. Nos contos de fadas a menina edípica vê na mãe a madrasta ou feiticeira que impedem o amante (pai) de encontrar a princesa (ela própria enquanto filha). O menino edípico, por sua vez, que se sente ameaçado por seu pai devido ao desejo de substituí-lo nas atenções da mãe, projeta o pai no papel de monstro ameaçador.
Enquanto que o menino edípico não deseja qualquer criança que interfira no completo envolvimento da mãe com ele, as coisas são diferentes para a menina edípica. Ela realmente deseja dar a seu pai o presente amoroso de ser mãe de seus filhos. É difícil determinar se isto é uma expressão de sua necessidade de competir com a mãe a este respeito, ou uma leve antecipação da sua futura maternidade. Este desejo de dar um filho ao pai não significa ter relações sexuais com ele ? a menina, como o menino, não pensa nestes termos concretos. Ela sabe que os filhos são o que liga o homem do modo mais intenso à mulher. Esta é a razão pela qual, nas estórias que lidam simbolicamente com os desejos edípicos, com os problemas e esforços de uma menina, os filhos são mencionados ocasionalmente como parte do final feliz.
Assim, tanto as meninas como os meninos edípicos, graças ao conto de fadas, podem ter o melhor dos dois mundos: podem gozar plenamente as satisfações edípicas na fantasia e na vida real, manter boas relações com os dois pais. Para o menino edípico, se a mãe o decepciona, existe a princesa do conto de fadas no fundo de sua mente ? aquela mulher maravilhosa do futuro que compensará todas as labutas presentes, e cuja lembrança torna mais fácil suportar estes esforços. Se o pai dá menos atenção à filha do que ela deseja, ela pode suportar esta adversidade porque chegará um príncipe a quem ela preferirá mais que todos os outros rivais. Como tudo ocorre numa terra-do-nunca, a criança não precisa se sentir culpada ou ansiosa de projetar o pai no papel de um dragão ou de um gigante malvado, ou a mãe no papel de uma madrasta ou bruxa miserável.
Assim, a criança obtém o melhor dos dois mundos, que é o que necessita para se transformar num adulto seguro. Em fantasia, a menina pode vencer a (mãe) madrasta, cujos esforços para impedir sua felicidade com o príncipe fracassam; o menino pode matar o monstro e obter o que deseja numa terra distante. Ao mesmo tempo, tanto o menino quanto a menina podem manter em casa o pai real como protetor e a mãe real que fornece todos os cuidados e satisfações de que a criança necessita. Como fica claro todo o tempo que a matança do dragão e o casamento com a princesa prisioneira, ou o encontro com o príncipe encantado e a punição da bruxa malvada ocorrem em tempos e países longínquos, a criança normal nunca os mistura com a realidade. Alguns pais temem que os filhos sejam arrebatados pela fantasia; que, expostos aos contos de fadas, passem a acreditar em mágica. Mas toda criança acredita em mágica, e deixa de fazê-lo ao crescer (com exceção dos que foram muito decepcionados com a realidade para poder confiar nas suas recompensas). Há crianças com distúrbios que nunca ouviram estórias de fadas, mas que colocam num ventilador ou motor elétrico mais mágica e poder destrutivo do que qualquer estória de fadas impõe ao personagem mais poderoso e execrável.
Se uma criança, por qualquer razão, é incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, estabelece-se uma parada no desenvolvimento. O exemplo extremo pode ser encontrado no comportamento da criança que sofre de autismo infantil. Ela não fez nada ou intermitentemente irrompe numa explosão temperamental grave, mas em qualquer caso insiste que nada deve ser alterado no seu ambiente e nas condições de sua vida. Tudo isto é a consequência de sua incapacidade completa de imaginar qualquer mudança para melhor. Sabemos que, quanto mais infelizes e desesperados estamos, tanto mais necessitamos de ser capazes de envolvermo-nos em fantasias otimistas. Mas estas não estão à nossa disposição nestes períodos. Então, mais do que em qualquer outra ocasião, necessitamos de outros que nos levantem com sua esperança por nós e nosso futuro. Nenhum conto de fadas por si só fará isto pela criança; como a criança autista nos faz lembrar, necessitamos primeiro que nossos pais instilem esperança em nós. Embora a fantasia seja irreal, os bons sentimentos que ela nos dá sobre nós mesmos e nosso futuro são reais, e estes bons sentimentos reais são o de que necessitamos para sustentar-nos. Pessoas esquizofrênicas geralmente não conseguem estabelecer contato com a realidade porque não querem perder o mundo imaginário, o qual, independente de ser bom ou ruim, defende a todo custo.
Repetidamente nos contos de fadas uma relação insatisfatória com um dos pais ? como é invariavelmente uma relação edípica ? é substituída, como o elo de Cinderela com um pai fraco e ineficaz, por uma relação feliz com o parceiro conjugal salvador. A ansiedade da criança quanto ao fracasso se centra na ideia de que, se falhar, será rejeitada, abandonada e totalmente destruída. Assim, só uma estória na qual um ogro, ou outra personagem malvada, ameace o herói de destruição, se ele falhar em mostrar-se o bastante forte para enfrentar o usurpador, está correta, de acordo com a visão psicológica da criança quanto às consequências de seu fracasso. Não há maior ameaça na vida do que ser abandonado e ficar completamente sozinho. A psicanálise chama isto ? o maior medo do homem ? de ansiedade de separação; e quanto mais novos somos, mais excruciante nossa ansiedade quando nos sentimos abandonados, pois a criança nova realmente perece se não for adequadamente protegida e cuidada. Por conseguinte, o consolo fundamental é o de que nunca será abandonada.
Os contos de fadas falam à mente inconsciente e são vivenciados quando nos dizem algo importante, independente do sexo dos protagonistas ou do nosso. Nos contos onde pessoas são transformadas em animais por causa de um feitiço ou punição, isso encera a ideia-tabu do sexo animalizado. Vale notar que na maioria dos contos ocidentais a fera é masculina e só pode ser desencantada pelo amor de uma mulher. Podemos presumir que os inventores destes contos achavam que, para se conseguir uma união feliz, cabe à mulher vencer sua visão do sexo como repugnante e animalesco. Há também contos ocidentais em que a mulher, por feitiço, transforma-se em animal, e então cabe ao homem desencantá-la através do amor e coragem firme. Mas em praticamente todos os exemplos de noiva-animal não há nada de repugnante ou perigoso na sua forma animal, ao contrário, elas são encantadoras. O ensino básico é: enquanto um dos parceiros sentir repulsa pelo sexo, o outro não poderá apreciá-lo; enquanto um deles encará-lo como algo animalesco, o outro permanecerá parcialmente um animal diante de si mesmo e para o parceiro. Em outro nível tais estórias dizem que não podemos esperar que nossos primeiros contatos eróticos sejam agradáveis, pois são demasiado difíceis e estão cercados de ansiedade. Mas se prosseguirmos, apesar de uma repugnância temporária, permitindo que o outro se torne sempre mais íntimo, em algum momento vivenciaremos um choque feliz de reconhecimento quando a intimidade completa revelar a verdadeira beleza da sexualidade.
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Ana Maria 23/04/2021

O livro é muito bom e didático tratando as questões que são evocadas pelos contos de fadas nas crianças. É um ponto de vista totalmente novo e muito interessante que desperta, inclusive, muita empatia quanto aos processos infantis. A segunda parte do livro, entretanto acaba ?girando em círculos? e o autor acaba se tornando repetitivo nas análises.
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Thay262 22/02/2024

É um livro muito bom para estudar a psicanálise conceitualmente, porém é um péssimo livro para entender a prática.
Isso se dá porque, como o próprio autor pontuou, é o paciente que deve atribuir um sentido a estória (e não o analista/terapeuta/psicólogo/psicanalista).

Desta forma, o livro pode ser interessante para entender conceitos da psicanálise porque o leitor entrará em contato com eles e buscará no Google ou em seus livros acadêmicos sobre o assunto para melhor entende-los, por outro lado o autor cai no erro de querer atribuir significado para qualquer coisinha nos Contos de Fada, quando em uma técnica de análise real deveria ser a criança que dá esse significado, da forma exclusivamente dela (um exemplo do autor, aquele menino que se fixou na estória da Rapunzel vendo a maneira como ela usou os cabelos para solucionar um problema, daí ele tirou como lição que também ele poderia usar a si mesmo e elementos de seu próprio eu para resolver/sair de situações complicadas em sua vida).

Ou seja, não importa quais significados o autor/psicanalista dá para cada um dos contos, numa análise real o importante é o significado dado pelo paciente, e fim de papo. Isso se dá porque a análise é do paciente, não do psicanalista (nesse livro vemos a análise de um psicanalista sobre os contos, daí é ele quem está atribuindo significado).
Porém numa análise real é o paciente que reflete e atribuí significado para suas ações, desejos e pensamentos, não o psicanalista. Assim tiro estrelas do livro, pois achei que não deixou isso claro o suficiente.

O livro pode confundir pessoas que não estão habituadas com a psicanálise, seja de forma técnica/teórica, seja de forma prática. Por isso não indico para pais ou educadores, que poderão erroneamente tomar partes do livro como "regras absolutas". Por outro lado, se você for psicólogo, psicanalista, estudante ou entusiasta desses temas, o livro pode agradar; desde que você entenda oque falei nos primeiros parágrafos.

Mas o livro não é de todo ruim, como eu disse, é ótimo para estudar conceitos chaves da psicanálise (pois ao lê-los aqui terá de buscar/procurar maior aprofundamento neles). E também vai de encontro a ideias pertinentes sobre o imaginário infantil (mas que também pode ser ampliado para adolescentes e adultos).

Eu gostei bastante da maneira como o autor pontua como é importante a criança entrar em contato com temas como velhice e finitude (morte). Ou temas como ansiedade de separação, luto, rivalidade, bem e mau. Mostrando-nos como os contos trazem justamente essas temáticas a criança.

Hoje em dia há muitos pais que "super-protegem" os filhos e os privam desses temas, porém criança cresce, e esses temas fazem parte da vida. O autor trás a importância de não privar a criança desses temas, mas de deixa-los aprender e saber lidar com eles. Os Contos de Fada sempre abordam temas como esses, e é por isso que o autor diz que criança tem propensão a se interessar neles (mostrando que não é a criança que teme esses assuntos, mas sim o responsável da criança que teme não saber aborda-los com a criança! Vendo isso, quem você acha que precisa de análise? Adultos que não sabem lidar bem com esses temas, não saberão aborda-los, e privarão a criança deles, de modo a criar novos adultos que não sabem lidar com esses temas).

Então vemos que essas estória ajudam a criança a entender tais conceitos e como agir frente a eles, lhes ensinam resiliência e mecanismos de enfrentamento da situação, lhes ensinam que o mundo não é "uma fábrica de realização de sonhos" e que há situações ruins e pessoas más, mas que apesar de tudo ela ainda pode enfrentar isso tudo e sair vitoriosa como fez o protagonista da estória. Por isso as crianças amam Contos de Fadas. Mas não só eles, veja como muitas outras ficções também ensinam tais coisas para crianças e adolescentes!

A divisão muito sistemática entre "bem e mal" nos contos também ensina a criança regras morais, porque a criança se espelha no protagonista. Daí o autor explica porque uma estória infantil precisa personificar de forma objetiva "o bem" e "o mau", para não deixar dúvidas.
Achei interessante também a pontuação do livro em dizer que todos nós, inclusive as crianças, temos propensão a desejos e sentimentos "bons e maus", e que tais estórias ajudam a discernir melhor sobre tais condutas, quando olhamos os personagens e perguntamos "com quem quero parecer?". Então embora as estória infantis personifique de forma muito óbvia "quem é bom" e quem "é ruim" naquela trama, na realidade essa divisão é puramente para fins de instruir a criança quanto a conduta esperada dela, mas que na realidade todos nós estamos propensos a pensamentos/desejos de cunho positivos ou negativos, o importante é saber lidar com eles. Oque as Estórias de Fadas ensinam com perfeição.

O livro não aborda, mas isso também me fez pensar em como adolescentes estão propensos a gostar mais de Anti-Heróis, justamente porque estão nessa fase de rompimento com ideais familiares e busca pelos próprios ideais, passando por mudanças psíquicas e físicas muito grandes, sentimentos a flor da pele e rebeldia é esperado, daí o adolescente pode ver nos Anti-Heróis uma maior complexidade moral e intelectual, mais próximo do que um ser humano é verdadeiramente do que uma caricatura entre "bem e mau", que vêem nos "personagens bonzinhos" das estórias infantis. Porque nós não somos bonzinhos o tempo todo, e mesmo quando somos, podemos ter o desejo de não ser. E isso é oque adolescentes vêem nos Anti-Heróis. Talvez isso explique essa adesão adolescente a eles, mas isso é só uma fase.
Nós adultos também somos assim, podemos achar as estórias infantis "bobas" justamente porque já passamos da fase de precisar dessa divisão muito óbvia entre bem e mau. Já sabemos moralmente oque é certo e errado, bem como já sabemos que temos desejos e sentimentos diversos dentro de nós, e que cabe a nós media-los adequadamente.

E de todo modo, embora o livro fale mais de Contos de Fadas e do impacto disso no psiquismo infantil, podemos lembrar que até adultos estão propensos a gostar de personagens e se espelhar neles, tal como vemos adultos apaixonados por HQs ou filmes de heróis ou ficção e fantasia. Então estórias, sejam elas de fada ou não, tem muita relevância na vida infantil, tanto quanto na adulta. Afinal, por que lemos? Por que estamos aqui no Skoob consumindo diversas tramas, personagens e assuntos? O que aprendemos com tantos livros e personagens? Com quais temas e tipos de personagens nos identificamos mais e por quê?

Então no fim, a maior lição que tirei desse livro é como cada um, seja criança, adolescente ou adulto, se espelha em estórias fictícias, qual significado atribui pra elas e seus personagens, e qual o impacto, quais lições, disso na vida delas.

site: entulhandoideiasdiversas.blogspot.com/
Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Esse livro foi a base da minha monografia da pós-graduação que fiz. E Bettelheim tem uma escrita tão gostosa, tecendo de uma forma tão incrível sobre o gênero, que só abrilhanta ainda mais a literatura dos contos de fadas.


Thay262 22/02/2024minha estante
Jura?? Agora fiquei com vontade de ler sua monografia! Eu achei o texto muito bom, com a ótica psicanalítica freudiana. Porém, meu interesse no livro de deu porque um professor disse ter dado/indicado esse livro para os pais que atendia. Daí comecei a leitura acreditando que seria algo mais genérico, porém me surpreendi em ver muito da base da psicanálise ali, daí não sei se indicaria o livro para pais e educadores, a menos que estes já tivessem algum conhecimento prévio de psicanálise. Tem coisas no livro que acho passível de entendimento sem aprofundamento, mas outras não.


Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Eu concordo plenamente com você. Acho que indicar para pais é confuso, porque acho profundo demais, até mesmo para quem tem pouco conhecimento dos simbolismos e seus efeitos na literatura. Acho que é válido quando se explica?quando são indicadas essas oficinas de contação de histórias, que expliquem essa prática oral e o que ela proporciona na vida das crianças (e de todos nós). Concordo com a sua visão, Anne! E acho que seu jeito de ver ajuda mais do que simplesmente entregar um material desses sem preparo algum. ?
Obs.: e olha que foi uma monografia na área da Psicologia das Organizações? ?. Mas me diverti muito fazendo. Foi uma ótima experiência. Ainda te mostro essa? ??


Thay262 22/02/2024minha estante
De fato, seria super edificante ler esse livro em uma oficina de leitura, e/ou uma leitura conjunta. Pois é um livro realmente muito bom, trás muita coisa excelente para debater e refletir, daí qualquer pessoa leiga em psicanálise poderia acompanhar e, em caso de dúvidas, teria como obter maiores explicações de uma coisa ou outra. Mas é um livro muito bom mesmo, em vários pontos.
P.s: vou ler sua monografia.


Flávia Menezes 22/02/2024minha estante
Então?na verdade essas oficinas que tivemos em um centro cultural aqui, ensinavam a contar histórias. E a partir daí, ensinar a olhar a história através das metáforas e compreender a composição de um contos de fadas?como a questão dos ritos de passagem (maturidade), das morais e valores? essas coisas.
Mas um livro desses, sabe o que é bom? Em um grupinho de estudos! Dá uma boa discussão!!!! ????
Agora?esse livro, pra mim é assim: se a pessoa tem interesse em se aprofundar em algo voltado aos contos de fadas é bem interessante. Caso contrário, é uma teoria que vai soar mais confusa do que ajudar em algo. E acho isso um problema na atualidade. Porque muitas vezes a pessoa acaba consumindo muita coisa, porém sem uma compreensão aprofundada?de que isso servirá? Daí passar isso para os pais?a menos que sejam ligados a alguma área da educação ou da psicologia?o que traz de lucro? Especialmente levando em consideração que não tem como uma pessoa que nunca estudou esse tipo de conteúdo, entender. Igual tentar falar pra quem não tem nenhum conhecimento psicanalítico, sobre as teorias sexuais infantis de Freud. As pessoas precisam entender que são anos de estudo, e não é um livro que vai te dar todo um conceito! Por isso que acho sua resenha perfeita!!! Porque concordo com você em número, gênero e grau!
Obs.: depois me conta o que achou! ???


Thay262 22/02/2024minha estante
Gostei dessa ideia de oficina de contação de historias, hein. Inclusive tem um trecho nesse livro onde Bettelheim fala disso, né, dos pais que não sabem contar porque nunca tiveram quem contasse a eles, e de como é importante não só saber contar a estória mas como também se conectar a criança nesses momentos.

De todo modo, não gostei tanto do livro justamente pelo excesso de significação que ele faz dos contos, em geral prefiro ver como isso vem espontaneamente do leitor/analisando. Quando ele, o autor, entrega de bandeja esses significados, substituímos o significado primário que damos pelas noções dele como psicanalista [em geral porque vamos colocá-lo como uma figura de saber acima de nós]; mas mesmo no livro ele demonstra aqui e ali que o importante é como o leitor/ criança/ adolescente/ adulto pensa a estória. Achei mais interessante os momentos que ele conta, por exemplo, como uma paciente inverteu a estória de João e Maria, fazendo com que tivesse sido João que os salvou da bruxa. Isso mostra melhor o inconsciente trabalhando, mais do que ele fornecer por ele mesmo o significados dos contos, a tendencia é o leitor reprimir os próprios significados e aderir aqueles dados pelo autor aqui nesse livro; Um quase desserviço ao inconsciente, diga-se de passagem. Daí eu torcer o nariz quase toda vez que ele vinha inferir um significado geral para os contos em questão. Haha.

Por outro lado, o livro é muito bom para estudar conceitos da psicanálise, de fato funcionaria em grupos de estudo e debates. E por isso não consigo ver qualquer pessoa leiga pegando esse livro, nem indicaria esse livro para qualquer um, a menos que o interesse pela psicanálise já esteja arraigado de algum modo nessa pessoa[tem psicanálise no nome, então acho que funciona com um fator atrativo ou de exclusão logo de cara]; e como você disse, ninguém aprende esses conceitos do dia pra noite numa única leitura, logo para melhor se comprazer com essa leitura é bom já ter algum conhecimento prévio dos conceitos.

Vou ler sua monografia, pode deixar que te conto! Beijos e até mais!




Andrea.Rodrigues 17/01/2021

Redescobrindo sentido do "Era uma vez.."
Livro que comecei por curiosidade, mas temendo ser técnico demais. Apesar de leiga na área achei que fluiu bem.

O autor usa diferentes contos para explicar o processo de crescimento/amadurecimento, formação da personalidade/individualidade e todos os conflitos envolvidos nesse caminho. Então os contos de fada entram como um símbolo para que a criança entenda que apesar de toda dificuldade em algum momento o final feliz vai chegar; Ao mesmo tempo, deixa bem claro que é necessário superar os desafios dessa jornada de autoconhecimento a fim de que possa evoluir.

Quase próximo do fim o autor sabendo que será lido por leigos até se justifica, pois alguns pontos podem causar estranhamento, como quando fala da criança não só como um ser de pura bondade e sim como alguém já inconscientemente conflituoso, por vezes com sentimos de ódio e vingança; conflitos edipianos, entre outras coisas; então ele diz:
"Ao discuti-las temo ter ido de encontro ao conselho do poeta: Pise suavemente pois vc está pisando nos meus sonhos. Graças à influência de Freud nossos sonhos se
tornaram muito mais problemáticos para nós. Mas eles também são a estrada real para a mente inconsciente, e nos permitem formar uma visão nova e mais rica de nós mesmos e de nossa humanidade".

Enfim, se vc tem curiosidade sobre essa coisa louca que é a mente humana, recomendo. Não como uma verdade absoluta, mas como estímulo pra aprender cada vez mais sobre quem somos e porque somos como somos.
BibliodaArte 22/01/2021minha estante
Que interessante...Eu sempre achei que os contos com finais felizes fossem mais comerciais


Andrea.Rodrigues 22/01/2021minha estante
Pois é, também




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