Bárbara | @barbaraeoslivros 20/12/2021Lavar as mãos é bom, impedir o sangue correr é melhor.Este livro, nas próprias palavras de Victor Hugo, nada mais é do que uma defesa, direta ou indireta, como quiserem, da abolição da pena de morte.
É isso? um verdadeiro protesto em forma de ficção posto para fazer o leitor refletir. Inclusive, Victor Hugo, por algum tempo, deixou no ar se o livro seria de fato uma ficção por ele criada ou se seria um compilado de memórias derradeiras de um condenado a que ele teria tido acesso.
Acompanhamos os últimos momentos de homem fadado a morrer no cadafalso, a ser atingido fatalmente pela guilhotina? vivemos com ele todas as fases do luto (por si mesmo), desde a negação até a aceitação?
O condenado nos conta vagamente sua vida pregressa e não alega inocência, mas também não assume expressamente que crime cometeu, apenas sugere que feriu mortalmente alguém.
O fato de não sabermos por qual crime nosso protagonista fora condenado é proposital, o que Victor Hugo quer é colocar um conflito moral e ético ao seu leitor. O crime cometido não importa, o que importa aqui é refletir sobre a severidade e a irreversibilidade da pena.
A pena, por óbvio, passa da pessoa do condenado e acaba atingindo sua família, fadada a sofrer com a ausência do ente querido, a suportar o preconceito e a hostilidade social.
A questão, portanto, vai muito além da simples punição do indivíduo delinquente. Atinge seus familiares, inclusive crianças; bestializa a sociedade, que assiste ao espetáculo de sangue em praça pública; e coisifica o condenado que se torna mero objeto da vingança estatal.
Hoje, pode parecer infundada a discussão sobre a inadmissibilidade da pena de morte, mas na França de 1829 era um debate jacente, principalmente por acreditarem na eficácia da guilhotina.
[Miserável! Que crime cometi e que crime estou fazendo a sociedade cometer!]