Vitorcfab 12/01/2022
O Pistoleiro
Em um universo fictício inspirado no velho oeste, chamado de "Mundo Médio", acompanhamos Roland, o último sobrevivente de uma linhagem de pistoleiros, em uma jornada pelo deserto atrás do "Homem de Preto", uma figura misteriosa que pode saber a localização da Torre Negra, torre que pode trazer as soluções para os problemas do pistoleiro.
Sei que é difícil recomendar uma série que o primeiro livro não é muito bom, mas garanto que a Torre Negra é uma das minhas favoritas, e que esse primeiro livro não está à altura dos demais (pelo menso até o 4° livro, que foi até onde já li).
Quando li esse livro pela primeira vez, há mais de 10 anos atrás, lembro de ter gostado, mas também de ficar com uma sensação estranha, de algo incompleto. Nessa releitura, muitos anos depois e com mais bagagem literária, acredito que consegui entender os motivos com mais clareza, e vou tentar explicar.
Esse é um livro com ótimas ideias, ótimos conceitos, com um mundo fantasioso que traz inúmeras possibilidades maravilhosas, além de personagens interessantes e cheios de potencial.
Porém, tem a pior estrutura que já vi em um livro do autor, com uma história bagunçada, desconfortável, sem rumo, simples, básica e fraca. Também não parece um romance típico, com começo meio e fim, mas sim uma estrutura de um ato só, quase como um prólogo de mais de 200 páginas.
Sei que não é necessário seguir a estrutura dos 3 atos, mas acredito que a forma como King desenvolveu esse livro foi uma péssima forma de quebrar essa estrutura. Não senti que teve uma jornada, que os personagens mudaram, que houveram grandes evoluções. Isso me fez terminar o livro com uma sensação de que algo estava incompleto. Isso causa muito incômodo em vários leitores, que não se sentem com vontade de continuar a série.
Como já reli o segundo livro (e amei muito), acredito que seria melhor transformar esses dois livros em um só, fazendo do primeiro livro uma história mais coesa, com um rumo certo, que nos faz saber o que esperar da série.
Porém, mesmo com esses defeitos, ainda temos muitos acertos aqui. Os personagens são muito interessantes, principalmente Roland, que apresenta uma boa profundidade já nesse livro, ainda que muito disso seja confuso e fragmentado.
A escrita também é algo que se destaca, pois esse livro tem alguns dos trechos mais belos que já li em livros do autor, principalmente quando se dedica a descrever os cenários e a natureza, utilizando de construções de frases até poéticas.
Gostei da forma como o livro fluiu, ainda que tenha algumas pequenas ressalvas. Senti a história um pouco mais lenta em alguns momentos, principalmente em alguns flashbacks específicos, e extremamente rápida na reta final. Porém, como um todo, foi um livro fluído.
O último capítulo é com certeza a melhor parte do livro. É quando finalmente teremos o encontro do pistoleiro com o Homem de Preto, e um pedacinho bem pequeno da verdadeira história que será explorada nos demais livros.
Somos introduzidos ao conceito da Torre Negra, o que ela é, como funciona, como pode ser utilizada e os motivos de tantos tentarem encontrá-la. Mas acredite, mesmo tudo isso sendo apenas a pontinha do iceberg, já é muita coisa, com muito potencial para a série, ainda que traga mais perguntas do que respostas. Esses conceitos voltados para a parte fantasiosa são geniais, e com certeza o maior motivo que me fez seguir lendo.
--- Os Personagens ---
Roland. Um homem sério, frio, maduro, que não confia em ninguém, claramente não é uma pessoa constantemente boa e é capaz de fazer coisas horríveis. Sente falta de sua casa, sua terra natal (que foi destruída), da qual temos alguns flashbacks para nos aprofundarmos mais no personagem. Sua obsessão em caçar o Homem de Preto é um dos sentimentos que mais movem o livro, pois vê nesse homem uma forma de alcançar a Torre Negra e resolver seus problemas.
Homem de Preto. Uma figura misteriosa, da qual não sabemos as reais intenções, se é um herói, vilão ou não se encaixa nessas duas definições. Podemos ver que ele realmente demonstra alguns poderes paranormais verdadeiros, capaz até mesmo de ressuscitar os mortos, o que rende um capítulo muito interessante, macabro e cheio de mistérios.
Jake. Um garoto que não se lembra ao certo de quem é ou de onde veio. É um menino resistente, que não faz muitas perguntas e tenta ao máximo não atrapalhar Roland, se mostrando uma boa companhia. Porém, como é uma criança, terá de ser protegido por Roland em muitos momentos, e passarão a desenvolver uma forte ligação de pai e filho.