Jéssica 15/07/2016
Incendeia-me = enrola-me.
Após a metade de Liberta-me, eu tive uma ideia bem clara do rumo que a história tomaria, já que ela passou a dar um enfoque excessivo ao triângulo amoroso, o que por si só já me deixa extremamente frustrada, pois não é o tipo de coisa que gosto de ler. No entanto, tirando essa parte do triângulo amoroso, até então, eu não tinha maiores reclamações, já que tinha muitas expectativas quanto à guerra iminente, o que me deixou curiosa, após o final de Liberta-me, pela continuação, justamente porque achava difícil os mocinhos darem a volta por cima.
Eis que eu estava errada em colocar o mínimo de expetativas que me dispus a colocar em Incendeia-me. O livro não é nada do que eu esperava, ficou bem abaixo das minhas expectativas, tão abaixo que chegou em um momento que eu me senti lendo por obrigação, apenas para terminar, para não deixar uma história inacabada.
O grande problema é que, na verdade, o livro deveria ser classificado como um romance, e não como uma distopia, como o gênero indica. Me senti enganada. Incendia-me gira em torno dos sentimentos da Juliette, que de uma hora pra outra se transformam, e praticamente não dá nenhum foque à distopia, ou seja, a questão da guerra iminente fica praticamente de segundo plano.
Foram capítulos e mais capítulos de pura enrolação. Foi aquela velha história de: "não tenho o que escrever, vou enrolar um pouco aqui". Isto me deixou muito chateada, pois acredito que poderia ter explorado muito mais os outros personagens, suas super-habilidades e todo o contexto que geralmente permeia uma distopia. No entanto, 90% do livro gira em torno do triângulo amoroso mais chato que eu já vi na minha vida. Ok, minha opinião pode ser influenciada pelo fato de que simplesmente detesto qualquer triângulo amoroso, mas o desse livro supera totalmente o meu desgosto.
Outra coisa que achei um total desrespeito, foi o que a escritora fez com o Adam. De uma hora pra outra, ele se tornou chato e irritadiço. Todas as poucas cenas em que ele de fato aparece nesse livro, é para gritar sua raiva e frustração, para descarregar um sentimento que era totalmente contrário ao que nos foi mostrado dele no primeiro livro, já que lá ele era gentil, carinhoso, se preocupava com a Juliette e tinha arriscado mais do que a própria vida por ela, pelo que eles sentiam. Ele passou anos apaixonado por ela, e de repente a autora pega esse sentimento e pisa nele, como se nunca tivesse existido, como se tivesse sido um engano. A intenção era nos passar a ideia de que eles de fato nunca haviam se amado, o que eu acho muita hipocrisia. Acho que um autor deve ser leal àquilo que ele se dispõe a contar. Ele não pode pegar um personagem e apresentá-lo de um modo só para, na página seguinte, mudar tudo, sem que haja uma construção verdadeira para aquela nova personalidade. Acredito que a intenção da autora era nos fazer detestar o Adam a um ponto que se tornasse fácil engolir o romance entre Juliette e Warner, e acho muito deselegante rebaixar tanto um personagem querido, para que o outro fique mais em evidência, para que se torne mais justificável a escolha da mocinha.
No mais, a trilogia não é ruim, só é mal explorada, já que o propósito se desvirtua completamente, mas tem ótimos personagens, como o Kenji, que é muito cativante e desde o primeiro livro deixa a história ainda mais legal. Fiquei apaixonada pelo Warner, mas não consegui engolir a facilidade com a qual Juliette aceitou todas as suas justificativas, a ponto de até pedir desculpas a ele, sendo que, muito embora a intenção dele não fosse das mais ruins, ele realmente a feriu muito. Juliette é claramente aquele tipo de personagem que aceita fácil demais o que lhe imposto, motivo pelo qual passei a gostar menos dela a cada livro, sobretudo neste último. E, mesmo a autora tendo estragado totalmente o Adam, continuo gostando dele e esperava que o desenvolvimento dele tivesse se dado de uma forma mais justa.
Assim, o final fez jus ao livro, já que foi o final mais sem noção que já li. Não sei se haverá uma continuação, mas se não houver, aquele final deixou muito a desejar, muito mais do que todo o livro deixou a desejar.