Dudi 20/11/2019Faltou tempero no sal da vida!Quando eu comprei esse livro eu estava muito curiosa, eu havia lido diversas coisas positivas, mas ainda assim não sabia bem o que esperar – só sabia que a expectativa estava alta. Quando o livro chegou, eu me assustei um pouco: ele era muito fininho. Até esse momento, era tudo preconceito meu, por achar que um livro fino não poderia ser tão bom, ou se desenvolver tão bem. Quando eu comecei a ler eu achei interessante, a abertura do livro me despertou certa curiosidade, mas conforme e a leitura prosseguia, eu me vi decepcionada, e levei quase duas semanas para ler um livro de cem páginas, com uma fonte gigante e um espaçamento maior ainda.
Quando a autora inicia o livro, ela fala um pouco de como ele surgiu, de que ele seria uma enumeração de coisas boas, que a vida dela poderia não ter tido tantos tormentos e ser muito diferente da vida de outras pessoas pelas diversas possibilidades que ela teve, mas que ainda assim ele raramente abriria para a vida privada dela, e que esse material seria uma coletânea das pequenas coisas do nosso dia-a-dia, da nossa vivência, que seria dariam esse sal a vida. Até esse momento eu não estava tão empolgada, mas é no trecho seguinte que a autora me captura e fez crescer a expectativa em mim. Ela começa a escrever essa carta em resposta a um cartão que recebeu, de um senhor muito esforçado e dedicado ao trabalho, que sente estar “roubando suas férias”. Ela começa então a falar, diante da expectativa de vida dos franceses, quanto tempo gastamos com higiene, com trabalho, dormindo, com tratamento de saúde, transporte, comendo, realizando serviços domésticos, entre outros, e de que o tempo nosso para lazer, se divertir, ir ao teatro, cinema, ler um bom livro, viajar, criar, namorar é de apenas 1h30 por dia durante o período considerado economicamente ativo da vida. Então você se da conta de que é preciso aproveitar e valorizar esse pouco tempo que se tem, e fazer o que se ama, o que se gosta.
Passado esse trecho que me conquistou, ela inicia o restante do livro com datas e geralmente um parágrafo que se estende até quatro folhas no qual ela escreve sem pausas sobre coisas que acredita ser o “sal da vida”. Acontece que eu achei um livro muito pessoal, e muito significativo para a autora, que sabe o quanto cada uma daquelas pequenas coisas tem peso em sua vida. Por mais que ela tenha dito que sua vida privada não estaria presente, ela está sim ali. E como eu disse anteriormente, ela teve uma vida privilegiada, por conta disso, as inúmeras referências a países e culturas diferentes soam irreais para alguns. Além disso, ela faz muita referência a autores, obras literárias, atores, filmes que eu não conheço, portanto havia passagens longas que não faziam qualquer sentido para mim.
Houve um ou dois momentos em que ao ler algo que ela escreveu eu fiz uma ligação com vivências pessoais minhas. Ela falava de bater corda na infância e eu me lembrei como brincava com elástico no colégio. Fora isso, o texto dela foi apenas uma coletânea extensa de vivências da autora. Portanto quanto você se depara com trechos como (abri o livro de forma aleatória e copiei): “ganhar um pote de marrom-glacê, ter visto Edwige Fuillère e Jean Marais, que poderia ter ficado ridículo num culote de camurça e suspensórios, mas que não ficou, em Águia com Duas Cabeças, de Cocteau, no Teatro Hébertot, ter colhido narcisos no interior da França, ter sentido o cheiro forte de um bode, ter contemplado durante horas as duas cromolitografias clássicas de Idades da Vida (...)”, eu ficada enfadada, e segui a leitura por pura obrigação.
Talvez, se o leitor tiver uma vida parecida com a autora ele consiga fazer mais associações com a sua própria vida, e relembrar coisas até então esquecidas, e viver momentos de nostalgia. Mas para mim, foi apenas uma leitura vazia, finalizada por obrigação.