Charleees 27/03/2023
Se alguém me pedisse para descrever esse livro em duas palavras, seria: DEUS e LOUCURA.
Hillé, a protagonista é um ser humano atormentado, um susto que adquiriu compreensão. Chamada pelo marido Ehud, como Senhora D, D de derrelição, que quer dizer: desamparo, abandono. Hillé é uma pessoa aflita pelas muitas perguntas sem respostas que carrega.
"Enquanto o coitado (Ehud) viveu, atormentou neurônios e sentidos do afável senhor, sempre sempre o enrodilhando perguntante"
Depois da morte de Ehud, Hillé passou a habitar o vão de uma escada, tendo como companhia apenas dois peixinhos de papel que ela recorta a cada semana e os coloca no aquário (por não querer mais contato com coisas vivas). Enlouquecendo aos poucos, passa os dias trancada em casa e as poucas vezes que aparece na janela é para assustar as crianças da vizinhança odiosa usando máscaras e por vezes nua. O ápice da história, o grande momento de epifania é quando surge uma porca chagada em seu esconderijo e ela começa então a compreender por meio do acolhimento visceral do Porco-Menino.
Como disse #CaioFernandoAbreu "Ninguém sairá ileso da leitura desse romance".
É simplesmente incrível, visceral a forma como Hilda fez essa história, sem se importar com regras narrativas, ela simplesmente segue o fluxo de pensamento, por vezes não sabemos quem está falando e a releitura é quase que obrigatória.
Quem já leu #APaixaoSegundoGH de #ClariceLispector logo percebe semelhanças nas histórias: Duas mulheres isoladas (uma em seu apartamento, a outra no vão de uma escada) buscando por uma coisa que não tem nome, e por fim acaba descobrindo a tal "maravilha-sem-nome" num momento de epifania que se dar através de um animal (uma barata e um porco), mas é a forma como os personagens trilham seus caminhos, a travessia, a busca, a caminhada que os torna únicos.
Resenha de Agosto de 2015