spoiler visualizarpowderjinx 14/09/2023
Pensei que era romance, mas me enganei completamente
Liane Moriarty definitivamente sabe como nos deixar intrigados. Comecei o livro sem muita expectativa, mas definitivamente terminei com elas superadas. Li o início para metade desse livro como se uma amiga estivesse me contando uma fofoca depois de muito tempo sem saber de sua vida, mas no momento em que comecei a juntar os pontos, se tornou muito mais como um documentário, pode-se dizer assim. O Segredo do Meu Marido te faz refletir sobre a vida, sobre tudo que poderia ter acontecido caso tomássemos alguma decisão diferente. Contada a partir do ponto de vista da vida de três mulheres que não poderiam ser mais diferentes e distantes da realidade uma da outra, a história liga com maestria o destino de todas elas. Acho que muitas coisas que ocorreram, não eram esperadas, mas creio que isso seja o objetivo de um bom suspense, certo? Nos surpreender. Já vi em alguns lugares, e também algumas pessoas o colocarem como um romance, mas esse definitivamente não é o foco. Na verdade, é o completo oposto e, não deve ser lido esperando por uma linda história de amor, ou por a superação de um casamento fadado ao fracasso. Pelo contrário, este livro nos mostra como a vida de outra possa ser insignificante até que diretamente se cruze com a nossa e é um claro exemplo de efeito borboleta; onde uma ação simples pode desencadear uma enorme tragédia. Foi meu primeiro contato com a autora, o qual estive adiando desde que ganhei o livro, deixando-o esquecido na prateleira porque não tinha grandes esperanças para ele. Devo dizer que me arrependo de não ter lido antes, e que definitivamente deve-se dar uma chance à narrativa fluida e envolvente que Liane Moriarty nos entrega. A autora com toda certeza faz um bom trabalho quando o assunto é causar emoções mistas e claro, nos fazer pensar, ao fim do livro: O que teria acontecido se eu fizesse algo diferente? É isso que Rachel, Cecilia e Tess nos fazem pensar nisso o tempo todo.
Opinião com spoiler:
Cecilia, Rachel e Tess não poderiam ser mais diferentes, entretanto todas elas estão passando por algo que as incomoda no momento. Rachel perdeu a filha, que foi assassinada, Tess acaba de saber que seu marido e sua prima se apaixonaram (e eles mesmos quem contaram a ela) e Cecilia acha uma carta deixada por seu marido, mas só pode abri-la na ocasião de sua morte, tendo assim que conviver com a dúvida do que ela pode conter. Ela tenta distrair sua cabeça com as banalidades das filhas Esther (que está com um hiperfoco no muro de Berlim), Isabel (que está crescendo rápido demais para seu gosto) e Polly que adora segredos, festas de piratas e acha que está apaixonada por seu professor de educação física. De certa forma, as três acabam cruzando seus caminhos de maneira irreversível; quando Cecilia lê a carta e descobre que seu marido confessa nela o assassinato de Janie Crowley, filha de Rachel, seu mundo vira de cabeça pra baixo, ainda mais com a necessidade de tomar uma decisão: entregar seu marido à polícia e assim trazer paz à Rachel, ou nunca mais falar sobre o assunto e salvar seu casamento e sua família, mantendo assim as filhas tendo um pai presente? Rachel tem quase certeza de que o professor de educação física da escola em que trabalha é o assassino de sua filha, e alimenta por ele um ódio fervoroso. Tess volta para sua cidade natal com o objetivo de se afastar do marido e cuidar da mãe que machucou o tornozelo, e acaba encontrando com um ex-namorado de adolescência, Connor Whitby. Cecilia tenta de todas as formas segurar as pontas para que nada em sua vida perfeita desmorone. Todas estão ligadas por duas pessoas, que até pouco tempo sequer imaginavam que seriam tão significantes para uma como era para a outra. Admito que descobrir que o marido de Cecilia na verdade nunca fora o assassino de Janie Crowley e que tudo foi uma infeliz coincidência foi bem fácil, antes mesmo do final, pois algumas coisas apontavam para isso. No entanto, não esperava que as coisas fossem virar de cabeça para baixo tão drasticamente como no momento em que Rachel atropela uma das filhas de Cecilia, na tentativa de matar Connor Whitby como forma de se vingar por achar que ele era o responsável pela morte de sua querida filha. Tudo isso porque Polly, filha mais nova de Cecilia pedalava sua bicicleta com determinação, disposta a chamar a atenção do professor de educação física por quem nutria uma paixonite infantil. Connor sequer estaria ali, se não tivesse seu compromisso com Tess cancelado. De certa forma, uma única pessoa liga as três e faz com que todo o enredo aconteça. É isso que nos faz a todo momento pensar, como tudo poderia ter sido se acontecesse de forma diferente, com palavras diferentes, com verdades diferentes. Se segredos não fossem escondidos, as coisas seriam melhores ou piores? Não dá para saber, pois já foi feito e não tem como mudar o passado. O livro nos passa essa lição de forma sutil, de modo a nos inspirar a seguir nossas vidas independente de arrependimentos passados, que não podem ser mudados e é graças a ele que estamos no rumo tomado atualmente.