Dessa Piccinini 02/02/2015Um livro impossível de largar, com trama divertida e deliciosamente sombrio.JK você realmente escreveu isso? Foi tão sangrento, nojento, violento que foi uma deliciosa surpresa saber que veio de uma das minhas escritoras prediletas. O bicho da seda é um clássico livro policial, com sua caça de pistas, investigação, entrevistas de suspeitos e tudo que tem direito. Mas diferente de um livro policial comum, também possui uma trama pessoal de seus personagens muito bem desenvolvida. Strike e Robin possuem sim seus problemas pessoais e eles são bem mostrados e explorados no livro.
É difícil escolher algo que mais me atraiu durante a leitura - frenética e quase direta - de O bicho da seda. Como da última vez que li Robert Galbraith, eu sentia falta de um livro que me puxasse e me prendesse em uma teia de letras e mistério até o final, e, nesse calor infernal de verão, foi com O bicho da seda que consegui finalmente entrar de cabeça mais uma vez em um livro.
Pois bem, é necessário que eu cite aqui meu total amor por Robin, a assistente e parceira de Strike, principalmente nesse livro. Robin já havia atraído meu olhar no livro anterior, mas teve um papel de destaque, até sendo fundamental para a captura do assassino em O bicho da seda. Ela se mostrou pronta para aprender e disposta a sacrifícios em nome da profissão que, secretamente, sempre admirou. Mesmo que isso a coloque contra Matt, seu noivo, em um dos grandes plots do livro. Matt parece um clássico machista que prefere ter a vida interessante do casal e não consegue aceitar que Robin coloque a vida em risco para solucionar assassinatos. Não preciso dizer o quanto eu acho Matt um pé no saco e espero que Robin de um pé na bunda do noivo. E, perto do fim, temos um reviravolta que começa a mostrar que Robin não está aí para ser interesse amoroso de ninguém e muito menos um rostinho bonito. Espero grandes coisas dessa garota.
Em balanceamento de Robin, Strike, que não havia me encantado tanto assim, até pelo motivo de deixar o enredo do livro anterior muito confuso, se mostrou um personagem muito mais carismático e provou que Galbraith tem um excelente jogo preparado para o crescimento de seus personagens principais. Strike sempre tem um amigo no lugar certo, um truque na manga ou apenas boa sorte para completar o desafio de solucionar o assassinato de Quine. E, como ele mesmo diz sobre si no livro, ele consegue pensar fora da caixa, tem tendência para o estranho e isso apenas me fez amá-lo mais.
Quase como uma laranja no bolo, o mundo e as circunstancias estranhas no assassinado de Quine são incrivelmente brutais e deliciosas. Não querendo dar spoiler algum aqui, mas que maneira para assassinar alguém mais terrivelmente violenta. E deliciosamente sombria. Eu gosto de um bom assassinato, dá uma perspectiva divertida ao livro e esse não ficou para trás. Você sentia a sombra pairando no ar, a brutalidade, o ódio. E, no topo de tudo isso, temos Bombyx Mori.
Ah Bombyx Mori, um livro que de tando ouvir falar eu quase tive vontade de ler - se não fosse as referências nojentas e o peso sexual exagerado que parecia a marca registrada de Quine. - Como Lula Landry, o Bombyx Mori paira sob todos os personagens, a espreita, pronto para revelar todos os segredos sujos daquele grupo de pessoas. Quine não pesou a mão na hora de retratar todas as suas desavenças, de sua mulher à sua amante, ninguém teve sossego e quanto mais se proibia o Bombyx Mori, mais eu queria que Galbraith nos contasse mais.
Ao todo, eu soube quem era o assassino porque li, sem querer, uma frase na última página, quando estava fechando o livro no ônibus. Mas o como e o porque foram o suficiente para me surpreender e arrisco dizer que o quem, caso você não se dê um spoiler, também é surpreendente. Um excelente romance policial que eu, diferente da última vez, não consegui colocar defeito. Eu espero ansiosamente para o próximo livro do detetive Comoram Strike e aplaudo Robert Galbraith por sua genialidade em O bicho da seda.
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http://www.diariodeseriador.tv/2015/02/cnerd-resenha-o-bicho-da-seda.html