Villette

Villette Charlotte Brontë




Resenhas - Villette


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Natalia Noce 19/08/2020

Sem sombra de duvidas Charlotte Brontë fez de Villette um livro denso e de certa forma mais difícil de ser lido, mas isso não destrói a maestria de sua obra. Com personagens muito bem descritos e totalmente tridimensionais, reflexões sobre a dificuldade de uma mulher sozinha para se sustentar em uma sociedade que mulheres deveriam ficar em casa, não ter pensamentos próprios e nem uma grande educação, além de mostrar as diferenças de tratamento recebidas pelas diversas classes sociais e uma grande discussão sobre tolerância religiosa o livro deixa de ser um simples romance e passa ser uma obra revolucionária para sua época e com lições que podemos usar até os dias de hoje.

Pequenas coisas me incomodaram tanto na edição que eu li (a de capa dura) quanto na forma em que a história foi escrita. Vamos falar primeiro da edição: por mais que ela seja linda, a lombada aberta me causou bastante nervoso e me impossibilitou de ler na maioria das posições que eu prefiro devido a capa na parte frontal não estar presa ao resto do livro e mesmo sendo o objetivo deixar o livro totalmente aberto na página que esta sendo lida isso não acontece e durante toda a leitura tive que ficar segurando. A lombada aberta também coloca um estresse na parte de trás da capa por ser o único lugar em que o miolo esta preso, tornado bem sensivel a rasgos. Outra coisa na edição que fez com que a leitura não fosse tão fluida foi o fato de todas as traduções das falas em francês estarem em um glossário na parte final do livro e esse ir e vir acabava desanimando bastante o prosseguimento da leitura, acho que esses pontos como notas de rodapé seriam mais interessantes. Agora vamos para o que me incomodou na história, que foram só duas coisinhas, a primeira é que personagem Lucy muitas vezes começa a viajar em seus próprios pensamentos de forma tão filosofica que às vezes (ok... muitas vezes) eu pecisava voltar e reler porque nao tinha conseguido entender nada do que ela estava querendo dizer o que fez eu demorar mais a ler o livro e a segunda é a enorme quantidade de coincidências que ocorrem durante a narrativa, o que faz todo o enredo ser bem menos crível.
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laysa 14/07/2023

Depois de mais de três meses consegui finalmente terminar esse livro. Confesso que por ler Jane Eyre esperava nada menos do que aquilo, entretanto não gostei muito de Villette. A personagem não me cativou e tão pouco me causou revolta, assim o problema foi essa Lucy Snowe era uma figurante na história... sempre sem saber o que falar ou pensando e não falando.... enfim, pensei em desistir diversas vezes. A única coisa que me acalentou foi o final. Um final feliz, como as mulheres dessa época mereciam.
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Lari 19/04/2022

Um absurdo de bom,mas difícil
Que livro deliciosamente diferente! É meu primeiro livro da Charlotte Brontë, e simplesmente adorei. Realmente cada irmã tem um estilo único e separado das demais.
A escrita de Charlotte é sensível e desde do começo complexa, digo isso não apenas pelos diversos trechos não traduzidos,principalmente do francês, por exigência da própria autora, e só por essa amostragem podemos ter ideia de como essa escritora era tenaz; sua escrita é praticamente indireta, não temos uma visão "real" dos personagens,locais ou acontecimentos, ficamos completamente rendidos aos sabores e desabores de Lucy, sua visão de mundo, suas descrições variantes dos personagens e seu ponto de vista dos locais.
Em uma hora odiamos um personagem, porque Lucy o odeia, em outra o amamos,por que ela o ama e assim seguimos. Logo, essa não é uma história sobre Villette e sim sobre Lucy.
Achei fantástico a abordagem dada em 1850 (mais ou menos) sobre saúde mental, obviamente,não nesses termos e nem com a complexidade que temos nos dias de hoje,mas há menções durante todo o livro.
Diversos temas são abordados, diversos mesmo,mas os que mais me chamaram atenção e que preciso relatar aqui como motivos que valem a leitura são os seguintes: temos uma verdadeira briga contra a igreja católica, principalmente no sentido de obediência dos seus fiéis, já que Lucy é protestante; há um pé na busca por igualdade de gênero, tudo dentro da época,claro; temos um relato claro de uma ligeira aversão de casamentos com grandes diferenças de idade e sem amor ; e claro, muitas críticas ao amor que só nasce após o conhecimento da conta bancária do amado ou da amada.
É um livro difícil, complexo e que exige uma leitura contínua das entrelinhas, mas que vale cada palavra, cada letra.
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Gabi 12/02/2022

Finalmente...
Sinceramente, nem eu acredito que terminei.
Uma leitura difícil, densa, mas o final fez valer a pena.
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João Vitor 17/01/2021

Villette, o u?ltimo romance escrito por Charlotte Bronte?, foi minha primeira leitura de 2021. O livro tem uma atmosfera bem diferente de Jane Eyre, outro livro da autora que gostei muito. Lucy Snowe, nossa protagonista, e? misteriosa e observadora, nada escapa de seus olhos. Me apeguei e me irritei com os outros personagens da obra, principalmente com M. Paul, que eu tinha uma relação de amor e ódio.
Ao meu ver, Lucy tinha va?rias crises depressivas, e Charlotte conseguiu descreve?-las muito bem, sem deixar expli?cito o que realmente estava acontecendo com a protagonista. E? um livro sobre a solida?o, algo que a protagonista (e no?s mesmos) pode tentar fugir, escapar, mas muitas vezes a fuga e? longa e sem escapato?ria.
Recomendo muiti?ssimo o livro, e me arrisco dizer que gostei mais de Villette do que de Jane Eyre.
Quero ler tudo que essa mulher escreveu!!!
Daniela.Godinho 17/01/2021minha estante
Gostei bastante de sua resenha, é inderesante você dizer que gostou mais de Villete que Jane Eyre. Todos colocam JE como a obra prima da autora, até agora foi o único livro que li dela, e gostei bastante.


João Vitor 17/01/2021minha estante
Daniela, recomendo muito Villette!!! A escrita da Charlotte está mais reflexiva (as vezes filosófica) que em Jane Eyre. Eu senti também que ela experimentou e ousou mais na escrita. Tem uma cena que a protagonista está sobre influência de opiáceos e o capítulo inteiro a gente consegue perceber ela perturbada e narrando os fatos totalmente alterada, a Charlotte foi genial kkkkkkk Sinto que vou precisar reler o livro pra pegar mais coisas que deixei passar. Se um dia você ler, vou querer saber a sua opinião!


Daniela.Godinho 17/01/2021minha estante
Nunca imaginei a Charlotte escrevendo uma cena assim que loucur, vejo poucas pessoas falando de Villette fico feliz de você ter tido tão boa experiência. Eu lerei com certeza, não sei quando, mas lerei sim e falo contigo :)




Lucas.Gomes 05/05/2021

"Se a vida é uma guerra, parecia ser meu destino combatê-la"
?Não há nada como encarar tudo o que você faz com uma expectativa modesta: isso mantém a mente e o corpo tranquilos; enquanto as noções extravagantes podem levar ambos a um estado febril.?
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Laís 25/01/2021

Emocionante do início ao fim...não tenho palavras para descrever esse livro.
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Arieska 12/10/2022

Villette
Cada vez que termino uma obra escrita por uma Brontë, tenho mais certeza de que Charlotte é minha favorita entre as irmãs. Essa obra é um calhamaço, 856 páginas que eu queria vencer logo, mas pela curiosidade e não pelo cansaço.
Nossa heroína Lucy Snowe teve durante sua vida muitas dificuldades, muitos "adeus" repentinos, muitos revezes, e em todos eles deu o exemplo da paciência, da cristandade, de fé no futuro. Em quantos momentos eu me senti agoniada, meu coração acelerou de raiva e ela se manteve em paz. Quantos momentos eu me via gritando e retrucando caso estivesse em sua situação, e ela mais uma vez dava o exemplo da superioridade que somente a consciência tranquila permite. Quantos personagens mesquinhos, egoístas e odiáveis passaram pela vida dela sem que ela se abalasse.
Vejo nessa obra um ensinamento de conduta, de razão e lógica: muitas vezes nossos sentidos nos enganam, sempre há algo palpável e sensato que explica o que parece ser sobrenatural.
Indico muito essa obra, que a meu ver merecia tantas adaptações quanto a sua colega "Jane Eyre". Quem sabe a BBC ou outra empresa não decide nos presentear com algo assim no futuro.
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Renata 29/07/2020

perdão, brontë, mas villette não deu pra mim
tenho uma convicção interna de que, excluídas aquelas obras realmente ruins, livro é coisa de momento. bom, esse não era meu momento pra ler villette.

e por que não deu pra mim? simplesmente porque a história é chata (ou pelo menos eu assim a achei)! a escrita é extremamente descritiva, a história não tem nenhuma grande emoção e a mocinha é uma grande bobona. kk

ok, sei que devo dar o desconto do tempo - naquela época as mulheres não podiam fazer muita coisa etc, mas mesmo assim... lucy snowe não faz NADA! não tem um momento de brilhantismo. não levanta a voz nenhuma vez sem que fique "com os nervos abalados".

cadê um pouquinho da rebeldia de uma lizzie bennett? ou um pouquinho da sagacidade de uma emma? nada, nadinha. lucy parece ser uma mera coadjuvante em sua própria história.

no posfácio, escrito pela doutora em letras lilian correa, há o seguinte: "villette traz um mundo à parte, visto nas entrelinhas, talvez fora do alcance daqueles que desconhecem o universo romântico inglês, repleto de peculiaridades". bom, o livro pode ser maravilhoso pra quem estuda o universo romântico inglês, mas pra mim, leitora comum, foi bem enfadonho.
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Ana 05/05/2020

Essa leitura se alterna entre gostosa e de difícil entendimento pelo caráter extremamente poético de algumas passagens.

Apesar de alguns acontecimentos terem me deixado totalmente confusa, no geral me senti inspirada pela personalidade da Lucy diante de tanto sofrimento. Várias vezes me vi chorando porque em várias medidas as dores dela também foram as minhas.

O livro explora muito a carga opressiva da negligência, o peso de ser uma "ninguém", o que me tocou muito.
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Karina 17/05/2022

Devagar
Villette é um livro de ritmo lento, devagar quase parando. Lucy não é uma protagonista perfeitinha. Tem ciúmes, explode, tem medo... E o melhor: é feminista. Numa época em que as mulheres eram meros acessórios e posses, Lucy luta para ser independente.

Em Villette ela constrói uma vida para si como professora, faz planos para o futuro. E como o mundo é um ovo, reencontra muota gente.

Shippei com o professor mesmo, esse bad boy das antigas hahaha mas o bom era que Lucy respondia à altura (ou caía em lágrimas, a pobre).

Mas aquele final ??? queria a volta e o felizes para sempre. Se tiver naufragado... Te mato dona Brontë, te mato.
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Monica Sobrinho 07/02/2022

Demorei bastante para terminar, a história demorou para me conquistar, mas eu gostei. De todos os livros das irmãs Brontë, foi o que mais demorou para me prender. A história é boa, gostei muito de acompanhar a história e o crescimento da personagem (Lucy), para mim o romance ficou um pouco confuso, mas não tirou o brilho da história.
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Tamires 06/12/2016

Villette
“Villette é, de muitas formas, um romance delicado e deliciosamente difícil. Tudo o que diz respeito à sua heroína, Lucy Snowe, é encoberto por uma névoa de inacessibilidade e uma certa escuridão que sustenta a narrativa. Lucy se muda para a cidade fictícia de Villette, onde será professora de inglês em um internato. Ali, será confrontada pelos traumas do passado enquanto completa seu percurso de heroína, com os dissabores e conquistas de uma mulher vitoriana, mas eternamente atual. Uma obra-prima de Charlotte Brontë.” (sinopse)

Villete é um romance escrito por Charlotte Brontë, publicado originalmente em 1853, que narra a vida de Lucy Snowe, uma jovem de poucos recursos que sai da Inglaterra com destino a cidade de Villette e acaba tornando-se professora de inglês em um internato.

A história começa em uma visita de férias que a protagonista faz a casa de sua madrinha, a Sra. Bretton. Pelo olhar de Lucy Snowe, conhecemos a casa dos Bretton's e a pequena Polly, filha de um amigo da família. A menina desenvolve uma forte relação de amizade com jovem Graham Bretton, na época com 16 anos. A visita de Polly durou poucas semanas e também Lucy deixaria a casa da madrinha em breve.

Alguns anos depois desta visita, anos esses que Lucy não revela muito do que se passou, mas permite-nos saber que sua situação financeira não é das melhores, ela começa a trabalhar como dama de companhia da Srta. Marchmont, uma rica, porém reumática senhora.

“E, assim, dois quartos quentes e fechados se tornaram meu mundo; e uma senhora idosa e inválida, minha patroa, minha amiga, tudo para mim. Atendê-la era meu dever; sua dor, meu sofrimento; seu alívio, minha esperança; sua raiva, minha punição; sua apreciação, minha recompensa. Esqueci que havia campos, bosques, rios, mares, um céu sempre cambiante além da gelosia embaçada de seu quarto de inválida; eu quase me sentia contente por esquecer isso.” (p. 74)

Contudo, o destino reservara algo diferente para Lucy: com o falecimento da Srta. Marchmont, ela se vê obrigada a procurar uma outra colocação. A jovem, então, seguiu para Londres e, de lá, para Villette, no reino (de língua francesa) de Labassecour. Seus caminhos levaram-na ao pensionato de Madame Beck, onde, a princípio, ela ficaria responsável pelos cuidados com as filhas da Madame, mas depois acabou assumindo o posto de professora de inglês na escola.

“Digo novamente: Madame era uma grande mulher, e muito capaz. Aquela escola proporcionava a seus poderes uma esfera muito limitada; ela deveria ter conduzido uma nação: deveria ter sido líder de uma turbulenta assembleia legislativa. Ninguém poderia tê-la desencorajado, ninguém irritava seus nervos, exauria sua paciência ou ultrapassava a sua astúcia. Em sua pessoa, ela poderia ter abarcado os deveres de um primeiro-ministro e de um superintendente de polícia. Sábia, firme, desconfiada; sigilosa, astuta, desapaixonada; vigilante e inescrutável; perspicaz e insensível; e, além disso, perfeitamente decorosa; o que mais poderia ser desejado?” (p. 136)

Villette seria uma versão ficcional da cidade de Bruxelas, na Bélgica, onde a autora estudou com sua irmã Emily. Todo o romance tem elementos que indicam ser um relato autobiográfico de Charlotte Brontë e de posse desta informação o leitor torna-se ainda mais próximo da heroína Lucy Snowe, em seus devaneios e sofrimentos. As protagonistas de Charlotte Brontë, como eu tenho visto até agora, são mulheres a frente de seu tempo, como a autora mesma foi. Elas iam à luta, buscavam o seu sustento da forma que era possível, e tal atitude é exemplo para nós ainda nos dias de hoje.

“Não há nada como encarar tudo o que você faz com uma expectativa modesta: isso mantém a mente e o corpo tranquilos; enquanto as noções extravagantes podem levar ambos a um estado febril.” (p. 87)

No pensionato conhecemos também Dr. John, que ajudou Lucy em sua chegada a Villette e por quem ela nutriu sentimentos controversos, diria quase um amor platônico; Ginevra Fanshawe, um projeto de coquete que se diverte em um jogo de sedução envolvendo Dr. John e De Hamal, dentre outros. O personagem mais carismático e meu favorito neste romance é M. Paul Emanuel, que é um dos poucos, senão o único, a travar diálogos interessantes e estimulantes com Lucy. Ele é responsável pelas melhores cenas do livro e será muito importante na vida da nossa heroína.

Villette é de leitura mais lenta que Jane Eyre, romance mais conhecido da autora. Durante páginas e mais páginas a história de Lucy Snowe parece não avançar quase nada. Era o mar calmo na superfície com um turbilhão de sentimentos nas profundezas. Ainda assim, sabendo, como já foi dito, que trata-se de uma autobiografia de Charlotte Brontë, embora não com o compromisso de ser integralmente fiel a realidade, a motivação para prosseguir vinha até nos momentos em que desistir para retomar a leitura em outro momento apresentava-se como opção. Quando entendi o ritmo do romance a leitura fluiu melhor. Saber mais sobre uma mulher que mesmo com todas as adversidades e tristezas foi capaz de criar histórias que emocionam até os dias de hoje é recompensador. Charlotte Brontë é Lucy Snowe e Lucy Snowe é um pouquinho de cada uma de nós, mulheres.

“Seu tom é simultaneamente pessoal, profundo, altamente cultural e traz alguns indícios de feminismo, se fosse possível falar dele nesse período histórico.” (posfácio, por Lilian Cristina Corrêa)

A edição especial da Martin Claret conta com o prefácio de Lenita Maria Rimoli Esteves, uma nota da tradutora, Solange Pinheiro, e o pósfácio de Lilian Cristina Corrêa. Além do cuidado no acabamento do livro e da capa lindíssima, vê-se que a editora tem se preocupado em incluir em suas obras, sobretudo nas edições especiais, um material complementar que em muito enriquece a nossa experiência de leitura. Um ponto negativo para mim, mas que não diminui em nada o trabalho feito nesta edição, foi colocar todas as expressões em francês no final do volume. A tradutora optou por manter as expressões em francês no corpo do texto, para que este ficasse o mais próximo do original possível, mas teria sido mais confortável ter as traduções no rodapé das páginas. Contudo, entendo que isso poderia ser um problema no acabamento do livro, pois Villette segue o padrão das outras edições especiais das irmãs Brontë já publicadas pela editora, a saber: Agnes Grey, Jane Eyre e O Morro dos Ventos Uivantes.

Destaco, sem spoilers, que o final da história é bastante interessante. É um final diferente, digamos, dos que vemos em livros similares. Para os fãs de Charlotte Brontë e de uma história bem escrita, Villette é uma ótima pedida!

site: http://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-villette-de-charlotte-bronte/
Marcia 03/09/2019minha estante
Em todas as resenhas que vi desse livro, nenhuma está próxima do que entendi do final. Na versão da Pedra Azul, deu-me a impressão de que houve uma tragédia


Tamires 05/09/2019minha estante
Já faz algum tempo que li Villette, mas o que eu guardei de lembrança é que o final deixa para o leitor deduzir ou imaginar o que acontece depois. ? diferente de vários clássicos nesse sentido, por não ter um final redondo, felizes para sempre ou o oposto. Foi uma leitura mais densa, espero ler novamente no futuro e perceber mais sutilezas que eu talvez tenha deixado passar.


Marcia 19/09/2019minha estante
Mas quando ela relata sobre uma tempestade e Paul estaria a bordo de um navio, em pleno Atlântico, deu- me essa sensação




Coruja 03/11/2015

Levei quase dois meses para conseguir vencer as quase seiscentas páginas de Villette. Parte da culpa é minha: comecei o livro justo na semana da mudança de apartamento e para além do caos natural que se segue mesmo após todas as caixas terem sido desocupadas – você sempre acha alguma coisa nova para arrumar e trocar de lugar – teve férias, viagem, aniversários e confraternizações. Em suma, toda vez que eu me sentava e achava que ia conseguir avançar mais que uma ou duas páginas de vez, alguém me chamava para ajudar em alguma coisa.

Contudo, não foi só minha maneira truncada de ler o livro que atrapalhou. Villette é um livro complexo, e cheio de questões de levantam interesse, mas ao longo de pouco mais da metade do volume, quase nada parece acontecer: a narrativa de Lucy Snowe é uma longa procissão de acontecimentos que não parecem desembocar em nada. E assim é que passei uns quarenta dias para ler quatrocentas páginas, e quando a coisa afinal engatilhou, foram duas tardes para ler as últimas duzentas páginas.

A história segue Lucy, uma jovem inglesa típica, que após um longo histórico de perdas e tristezas, atravessa o canal para Labassecour – reino ficcional inspirado na Bélgica – onde acaba arranjando emprego como professora de inglês num pensionato para garotas.

Lucy é muito diferente de Jane Eyre, a personagem mais emblemática pela qual Charlotte Brontë ficou famosa. Em ambos os livros, são as protagonistas que narram a história, mas, enquanto Jane convida o leitor para perto, faz dele seu cúmplice, Lucy é oblíqua, desconfiada e parece estar sempre fugindo de fazer qualquer afirmação mais incisiva, diminuindo os acontecimentos de tal maneira que nos tornamos confusos sobre seus verdadeiros sentimentos.

É isso que acontece em seu relacionamento com o bom Doutor John Bretton. Ela dá a atender num suspiro que as atenções do médico tinham-na levado a devaneios românticos, e no parágrafo seguinte apaga todos os castelos no ar com uma mão descuidada, afirmando que tudo não passa de afeição inocente, fraternal. De princípio, afirma que no futuro, John a faria sofrer, e páginas adiante, é ela quem faz a ponte entre ele e a verdadeira musa do rapaz, tudo com o maior prazer e boa vontade em ver duas pessoas tão boas que se merecem, assim como todas as bênçãos com que são ambos cumulados.

Jane Eyre é um ser passional, que não esconde sua intensidade, enquanto Lucy Snowe se acomoda em sua existência e tenta reprimir a todo custo seus impulsos. E ela o consegue… exceto em alguns momentos, especialmente quando provocada pelo professor Monsieur Paul Emanuel.

Todas as melhores cenas do livro, na minha opinião, são as que apresentam Monsieur Paul – ou pelo menos tocam tangencialmente em sua existência. Ele é quase um alívio cômico em muitos pontos – por motivos que não sei explicar, a imagem dele na minha cabeça ficou igual ao do Hercule Poirot de David Suchet (até porque os dois personagens são belgas…) – mas, ao mesmo tempo, ele é um verdadeiro herói romântico: generoso e gentil, irascível e ciumento em alguns momentos, mas pronto a reconhecer suas falhas e fazer as devidas contrições, trabalhando nos bastidores para aplainar o caminho de Lucy.

Lucy me lembra muito a protagonista de Mansfield Park, Fanny Price. Ambas são, ao longo de boa parte de suas respectivas histórias, mais observadoras do mundo ao redor delas que agentes ativas de seus destinos. Mas quando afinal decidem tomar as rédeas de suas vidas, fazem-no de maneira espetacular. Lucy desafiando Madame Beck é Fanny dizendo não ao tio: elas deixam de serem peões para se tornarem jogadoras.

Como disse antes, não parece existir realmente um plot a seguir (e a ambiguidade do final quase me fez tacar o livro na parede, porque eu não queria acreditar no que era deixado implícito), mas Villette compensa muito pelo estudo psicológico feito de Lucy.

Charlotte Brontë explora bastante no romance questões de gênero, em especial os papéis impostos pela sociedade a cada sexo e também a independência feminina. Lucy não é uma mocinha protegida, tremendo diante das realidades do mundo, dependente do herói: por mais que se acomode em certos aspectos, quando é forçada pelas circunstâncias ela é capaz de tomar corajosas atitudes que rompem com o padrão da época – vide sua decisão de deixar a Inglaterra e seguir para Villette sem qualquer plano definido além de ‘procurar trabalho’ quando chegar lá. Ela é levada a essas decisões pelo desespero (ainda que tente ocultar esse sentimento), mas isso não diminui a importância de uma heroína com vontade própria e disposta a fazer o que for necessário para garantir seu sustento.

Há também o conflito cultural – Lucy não sabe francês quando chega a Villette e vai aprendendo aos poucos a linguagem. Suas origens, sua religião (ela é protestante, enquanto todos ao seu redor são católicos) e sua dificuldade com a língua forçam-na a um isolamento que a leva a determinada altura da história a um esgotamento nervoso.

O mais interessante do livro, claro, é a teoria de que mais que um romance, Villette é uma autobiografia. Charlotte foi uma criatura extraordinariamente sofrida e ela sabe muito bem emprestar esse sofrimento à personagem. Por mais que Lucy tente se reprimir, é impossível não perceber nas entrelinhas o quanto ela está cansada e esmagada por sua situação, pelas cobranças sobre seus ombros, pelas pequenas decepções que se sucedem sem parar.

Não é um livro fácil. São muitas as nuances e reflexões colocadas ao longo da história. Mas creio que valha à pena se aventurar pelos jardins e ruas de Villette, acompanhando Lucy em suas tentativas de encontrar seu lugar no mundo.

site: www.owlsroof.blogspot.com,br
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