Amanda 08/05/2018Quem está no Controle?Segundo livro da trilogia Comando Sul, Autoridade começa após o fracasso da 12ª Expedição à Área X. As integrantes do grupo foram aleatoriamente encontradas em locais com algum significado para elas, exceto pela bióloga, que apareceu em um terreno baldio, e a psicóloga, que não foi localizada de forma alguma.
Enquanto Aniquilação apresentou um formato de diário com relatos metódicos e levemente impessoais pela visão da bióloga durante a expedição, contando sobre seus achados e suspeitas, sobre sua obsessão com a Torre, ou túnel, ou simplesmente anomalia topográfica, em cima da qual gira toda a tensão da história, e sobre as bizarrices que ela encontrava pela Área X, Autoridade muda radicalmente o foco para Controle, um burocrata consultor colocado no coração do Comando Sul para tentar descobrir o que raios está escapando a todo mundo. Controle tem a missão impossível de consertar o que nem se sabe se está quebrado em uma agência à beira do colapso e de uma iminente falência.
Essa virada na história, tenho certeza, assustou muita gente e as notas baixas de reviews só provam esse ponto. Fomos literalmente tirados da ação para um escritório com suas pilhas de relatórios e angústias administrativas impalatáveis. O dia a dia de Controle é terrivelmente maçante! Mas vamos dando uma chance para ele porque se ele está atrás de respostas, bom, nós também estamos.
Em defesa do Controle, o personagem é bem construído. Isso é um fato inegável. O tanto que VanderMeer economizou na construção das personagens de Aniquilação (ainda que propositalmente), ele esbanjou em Controle com traços marcantes, trejeitos, vivacidade e a completa falibilidade a que qualquer ser humano está sujeito. Cada emoção que Controle sente é perceptível, passando da vergonha ao pânico. Esse é o ponto primordial de Autoridade e, sinceramente, palmas para o autor por esse aspecto.
Pelos restante do livro... nem tanto. Eu considero um livro de 384 páginas de curto para médio, mas em Autoridade essa foi uma quantidade exacerbada de páginas. O livro parecia não acabar nunca! Não precisamos de vários capítulos descrevendo rotina; ainda que haja mudanças sutis que marcam pontos interessantes, continua sendo rotina. Os pontos que queremos ler, toda a investigação sobre a Área X, os mistérios deixados em aberto em Aniquilação, tudo isso demora demais a ser apresentado. O autor escreve com o pé no freio o tempo todo, o que infelizmente só causou solavancos na narrativa.
Sobre as perguntas e respostas, eu compreendo completamente que a proposta de VanderMeer é perguntar e nos fazer pirar com teorias, possibilidades com múltiplas interpretações e sinceramente eu adoro isso. Defendo Aniquilação até a morte por isso. E Autoridade segue pelo mesmo caminho. Só conseguimos vislumbres de respostas, como se olhássemos para um enorme panorama através de um buraco de fechadura. Tudo é muito sujeito a perspectivas, especulações e interpretações. E, se por um lado isso é ótimo porque continuamos na vibe de Aniquilação, por outra pode se tornar um pouco cansativo quando não sentimos real progresso nesses questionamentos.
Não posso dizer que cheguei a me sentir decepcionada, estaria mentindo. A experiência com Autoridade foi o que eu buscava: uma narrativa densa, cheia de detalhes, perturbadora, interpretativa. Mas faltou, e isso é lamentável. Faltou envolvimento, faltou pegada nesse livro. Ainda assim, é uma boa leitura se você gosta de desafios, de quebrar a cabeça e não aceita enredos fáceis.