Naty 19/02/2017
Um livro legal, com traços de regionalismo e com histórias interessantes, mas, para mim, não foi tocante o suficiente.
Essa foi uma leitura que fiz de um dos livros obrigatórios da UNEB. Esse livro é composto por 6 contos: A moça dos pãezinhos de queijo, O largo de Branco, Um avô muito velho, Um corpo sem nome, os enforcados e a pedra.
Vou explanar cada conto separadamente, mas, antes disso, quero deixar minha opinião sobre esse livro como um todo. é uma pena, mas, diferentemente do que sento lendo o Desterro dos Mortos, achei O Largo da Palma um livro que até tentou me emocionar ou me fazer refletir sobre algumas coisas, mas, não sei exatamente o poruê, não conseguiu deixar em mim saudades e nem mesmo uma vontade de reler.
Essa foi, para mim, uma daquelas obras que você lê hoje e depois esquece. Não tocou no intímo, não revolucionou minha vida.
Sei que o autor é capaz o suficiente de construir histórias agradáveis e bem desenvolvidas tanto em realação aos personagens quanto em relação ao meio em que se passa quanto em relação a intertextualidade que ela aplica a si mesma já que todos os contos se passam no Largo da Palma.
1- A moça dos pãezinhos de queijo
Nesse conto, o autor começa descrevendo quase que sinestesicamente o cenário e, em terceira pessoa, nos conta a história de um homem mudo que conhece e passa a amar a moça dos pãezinhos de queijo. No desenrolar da história, as pessoas são contra o relacionamento entre eles de ambos os lados. O pai de Gustavo não gosta da ideia porque acha que a mulher quer o dinheiro dele e a mãe de Célia não gosta porque ele é mudo.
O autor, no entanto, demonstra, para os atentos, que ele ainda pode ser curado desse mal. A irmã de Gustavo até tenta, tanto de maneiras místicas quanto através de médicos, curar o irmão, mas o que o cura é o amor.
Não gostei muito do fato de esse conto me relembrar uma síndrome que eu acho que muitos livros aderem que é: Síndrome da Bela e a Fera. Interessante é perceber que os acometidos por isso colocam a mulher como a possuidora do amor que cura e que, mesmo sofrendo, regenera o seu companheiro. Me desculpe, mas, mesmo achando isso lindo, a ideia de amor entre homem e mulher como resgate e regeneração não é uma ideia com a qual eu corroboro.
"Gustavo sente que o amor e o beijo de Célia podem gerar o milagre."
"A mãe, logo termina de contar o dinheiro, percebe que Célia não é a mesma"
"Uma doida, apenas uma doida, se deixaria fascinar e seduzir por um mudo."
"o pai não ocultava a decepção de ter um filho, quando não inválido, praticamente inútil"
-O Largo de Branco
Essa segunda história também é concebida em primeira pessoa e, como as outras, se passa no Largo da Palma. Ela narra a história de uma mulher que foi deixada por seu segundo "marido" e se sente triste pelas escolhas erradas e pelas dificuldades as quais passa. O autor, então, escreve flashbacks de sua história e, só aí, fica claro tudo que ocorreu.
Num certo dia, ela recebe uma carta que é o seu resgate. Seu primeiro marido quer falar com ela. E, alí, como num passe de mágica, ele a recebe com um buquê e ela volta a sua antiga casa.
Percebo aí que esse autor é adepto ao romantismo, pois, novamente, o amor verdadeiro vai e resgata essa "alma perdida". O conto é bem tocante e são apresentadas razões, mesmo que incabíveis, para o que ela fez. Seu ex-marido era um médico que cuidou muito de um de seus famliares e acabou se apegando a ela. No entanto, ele vivia para os outros, para o hospital e ela se sentia menosprezada. Esse fato é bem atual e interessante, pois, no mundo atual, isso não se aplica somente aos médicos, mas a várias pessoas que se envolvem tanto com seus afazeres e acabam esquecendo quem está ao seu lado.
3-Um avô muito velho
Esse conto é escrito em primeia pessoa e narra a história do velho Loio o qual tem muito apego à sua neta. Ele, após ela crescer, começa a meditar no transcorrer de sua vida tanto amorosa como familiar e é aí que nós ficamos conhecendo mais desse homem. Apóa algum tempo, a menina se torna professora e é aí que algo muito ruim acontece e o avô que tanto a ama, cumprindo a profecia de uma namorada dele, mata a sua neta para que esta não sofra mais com aquelas dores.
"Vê-la assim inchada e com o crânio fraturado, a gemer ou a gritar, doia tanto que desejava tornar-se cego e surdo"
4-Um corpo sem nome
Esse foi o conto que mais gostei. Ele caminha por diversas reflexões: sofre a falta de paz, a pobreza e o descaso aos necessitados. Sua narrativa é em primera pessoa e o personagem principal, o qual não se indentifica, marco do fato de que se sente um invisível social assim como a mulher sobre a qual ele aborda durante o conto.
Ele vê uma mulher morrendo e seus braços e acompanha o caso do início até o fim das investigações e até o enterro dela como uma desconhecida, "a morta do Largo da Palma".
No meio disso tudo, o autor faz um flash back do que o ocorreu em um bordel em que uma mulher semelhante àquela seria expulsa do local por não ter mais atrativos físicos e ele a resgata da expulsão ao aceita-la. Ele não a salva completamente, mas demonstra bondade e a tira duma situação bem constrangedora.
A correlação que ele faze da primeira com a segunda mulher é muito grande o que leva o leitor a imaginar que são as mesmas pessoas. Ao nos depararmos com o fim dessa mulher percebemos que esta apenas pratica sua anterior afirmação: "A morte deve ser melhor que a vida...porque não há medo e nem fome"
O narrador chega a exalta-la de certa forma já que no fim escreve: "Em delírio, já criatura de um mundo que não o nosso, entre cores e luzes, a morte não a matou porque morreu fora do corpo". O que ele quer dizer é que a morte foi a válvula de escape daquela mulher, sua liberdade de um mundo opressor.
5-Os enforcados
Esse conto é uma crítica, de forma quase que direta, à tendência humana de focar em fatos ruins. Até mesmo o cego que ali vivia estava no momento do enforcamento. Esse texto é construído em terceira pessoa e nos joga em um contexto histórico distante, ano de 1798, um ano tomado pelas ideias da revolução francesa.
Para mim, o foco é essa crítica além da marginalização social dos deficiente além da opressão governamental da época. Tudo isso de forma sintética e, para mim, ideias foram mutas, mas não foram bem desenvolvidas.
6-A pedra
Esse conto me lembrou da obra Quincas Borba já que, em ambos, os protagonistas ganham fortunas e, por utilizalas de maneira indevida, acabam na pior. Beneficiam, beneficiam, beneficiam , erram, errram, erram e depois se perguntam: Cadê o dinheiro. No caso desse homem, ele era garimpeiro, achou uma pedra preciosa que o enriqueceu, ele comprou uma venda para sua mulher, a traiu, perdeu tudo e ainda pedeu ela e a venda.
Concluo, depois dessa ampla abordagem, dizendo que não achei um foco temático do livro, mas novelas istintas com propósitos distintos. O conto que mais gostei e recomendo fou o "Um corpo sem nome", obra que me lembrou, pelo enredo, de uma parte de Os Miseráveis.