Lucas Fagundes 20/02/2022
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E eu decidi, um por um, ler os mais de 35 livros de Jorge Amado, meu baiano e autor preferido, em ordem de publicação. Muitos deles foi e serão lidos pela primeira vez; outros, como esse, serão relidos.
Cacau é o segundo livro que Jorge Amado publicou. Seu lançamento ocorreu em 1933, dois anos após o lançamento de ?O País do Carnaval?, já resenhado aqui (dois posts anteriores).
Temos aqui, uma mudança de cenário em relação a ?O País do Carnaval?. Enquanto seu primeiro livro traz como cenário o Rio de Janeiro e Salvador, esse segundo se passa na região natal de Jorge: a região cacaueira do sul da Bahia.
Para entender Cacau a fundo, temos que conhecer um pouco sobre a história do plantio do fruto que dá nome ao livro. O início do plantio de cacau na Bahia data ainda do século XVII. Entretanto, o cultivo comercial do fruto em Ilhéus só vai ocorrer em meados do século XIX, com exportações para o mercado europeu e estadunidense.
Assim, não demorou para o fruto dos cacaueiros ilheenses ser o mais importante produto de exportação da Bahia, sendo, o estado, o maior produtor de cacau do mundo. Tal produção atraía, então, grandes contingentes de retirantes das secas do próprio estado e de Sergipe.
Entretanto, o plantio monocultor do cacau, que empobrecia o solo, somado, principalmente, à quebra da Bolsa de Valores de Nova York (principal importador do cacau baiano) fez com que, no final da década de 20 do século XX, surgisse a primeira das grandes crises no mercado ilheense, com perda do valor do cacau e, consequentemente, maior exploração do trabalhador da terra.
Então, é nesse panorama que iniciamos o livro. A obra vai seguir extremamente bem a contextualização histórica: temos um retirante que, buscando uma vida melhor, foge de Sergipe e se encaminha para trabalhar nas fazendas de cacau. Lá, é extensamente explorado pelo coronel na fazenda em que trabalha, recebendo créditos que poderiam ser utilizados numa espécie de mercearia da fazenda, para comprar seus alimentos e objetos pessoais (num sistema de aviamento, típico do sistema capitalista presente nos seringais brasileiros na época de ouro da Borracha, mas não incomum na região cacaueira).
Entretanto, talvez o detalhe mais importante do livro e que mais está presente nessa primeira fase da literatura de Jorge Amado vem no final da obra. Um dos trabalhadores foge da fazenda e se encaminha para o Rio de Janeiro, a capital do país na época. No Rio, tal operário fugido ouve sobre luta de classes e movimento grevista e social, e começa a escrever cartas contando sobre a importância dessas questòes para o nosso personagem principal (o retirante de Sergipe). Não devemos esquecer que, no ano anterior ao lançamento desse livro (1932), Jorge Amado tinha se filiado ao Partido Comunista do Brasil (partido pelo qual se tornaria Deputado Federal em 1946), então temas relacionados à luta operária estão bem fortes no seu imaginário e vão ser partes das suas obras nessa primeira fase de sua literatura.