Ivandro Menezes 19/01/2021
Ladeira do Pelourinho 68
Suor é o terceiro romance de Jorge Amado, publicado em 1934. O romance, ambientado num cortiço situado num casarão colonial na Ladeira do Pelourinho, 68, narra a vida de homens e mulheres marcados, unidos e sufocados pela miséria. Vidas em ruínas, em fragmentos de felicidade, dor, carências, fome e esperança.
A cada capítulo somos apresentados aos pretos, prostitutas, artistas, ambulantes, mendigos, lavadeiras, moleques, estivadores e toda sorte de gente, vinda de lá e acolá.
O suor corre a pele pela ausência de janelas nos quartinho do sótão, no chamegos a cinco mil réis com as prostitutas, nas brigas entre moradores, nas mulheres lavando roupa no pátio do K. T. Espero. O suor das pretas vendendo acarajé, dos homens no porto, das putas na ladeira do Tabuão.
A opressão fervilha, o capitalismo arreganha a sua boca imensa e vai sugando os resquícios de vida daquela gente, mas sem passar incólume aos panfletos comunistas que começam a se espalhar e semeiam neles o desejo de revolução, de mudança e de conquista de direitos.
Suor ainda não apresenta um autor ainda inexperiente, mas certo de seus propósito de convicto do papel político da literatura. A paredes, escada, quartos representam o pouco espaço, de intimidade, possibilidade e dignidade dos marginalizados. Ele não consagra um protagonista, mas elege a coletividade como o protagonista do romance.
É inevitável a lembrança de O cortiço, de Aluízio Azevedo. Os dois romances guardam semelhanças. Dialoga entre si, anunciam a tragédia e revelam a beleza, a pulsão, a potência dos marginalizados que movem as engrenagens invisíveis que a fazem a cidade funcionar.