Ivy (De repente, no último livro) 27/08/2019
Resenha do blog "De repente, no último livro"
Predestinadas era uma leitura que queria fazer desde que terminei Amaldiçoadas, a segunda parte. O final foi de romper meu coração em pedaços e eu não via a hora de descobrir como as coisas iriam se resolver.
Devo dizer que Spotswood conseguiu me manter encantada até a última página dessa trilogia, uma obra que certamente recomendo à todos, sejam fãs de históricos, sejam fãs de fantasia. Aliás, essa mescla entre romance histórico e fantasia na medida certa para alcançar diferentes tipos de leitor, é o que mais fascina certamente. Spotswood teve um cuidado enorme com a ambientação, descrevendo de maneira crível cada lugar, os costumes e a mentalidade daquelas pessoas. Me senti praticamente tragada para aquela Inglaterra um pouco sombria, marcada ainda por um passado onde o temor ao desconhecido sempre se fez presente.
Nesta terceira parte teremos ainda a inserção de um novo elemento, que trará ainda maior tensão à trama. Uma nova praga decidiu se alastrar sobre Nova Londres, as pessoas estão morrendo aos montes, e os Irmãos culpam as bruxas por criar essa terrível peste. Até o final me perguntei se isso poderia ser verdade, já que aqui conheceremos o lado ruim da magia, quando a ambição se alia ao poder e ao desejo de vingança, tudo representando por uma nova vilã, que já havia manifestado sinais de sua maldade no segundo volume, mas aqui atinge seu clímax, manipulando às outras bruxas ao seu redor para praticar verdadeiras atrocidades.
Esse suspense que se mantém sobre a origem da tal praga e se haverá uma cura pertinente prende o leitor e nos leva também a refletir bastante.
Eu adoro porque a autora escreve uma história sobre bruxas e magia mas ao memo tempo consegue tratar sobre questões sociais, visíveis ainda hoje em nosa sociedade, como a desigualdade, onde ricos conseguem ter acesso à tudo o que for necessário enquanto os mais pobres são abandonados à própria sorte. Vemos através do descaso dos Irmãos que se referem aos mais humildes como "ratazanas do rio" algo que pode nos remeter à nossa atualidade, quando vemos tão frequentemente o abuso de poder, a corrupção.
Quanto aos personagens, há uma evolução que faz o leitor se surpreender em cada página. Cath amadureceu muito, ela está mais durona, rebelde e decidida, não fica mais impondo barreiras à si mesma e perdeu completamente o medo de mostrar quem é.
Tess, apesar de ser uma fofa, não consegue alcançar o mesmo protagonismo, esperava que obtivesse um destaque bem maior do que teve, porém, ainda assim, será um personagem pelo qual nutri imenso carinho.
Maura é mesquinha, ardilosa, mas a carência latente que sente faz o leitor nutrir por ela sentimentos vários, como raiva mas também lástima. Ela age de maneira infantil, é exagerada, mas sua imprevisibilidade aguça a curiosidade do leitor em todos os seus momentos.
Há tantos outros personagens maravilhosos nessa história que não daria para citar um à um. Acho que Finn, o mocinho da trama, foi um dos melhores personagens masculinos que já li. Ele passa por tantos altos e baixos e consegue manter uma pureza e uma dignidade que ilumina a história, o amor entre Finn e Cath é tão nítido e convincente que me peguei suspirando e sofrendo por eles durante toda a trilogia.
As garotas da Irmandade também acabam se destacando muito nesta terceira e foi possivel conhecer muitas delas mais intimamente como Rilla, Alice e Elena. Todas possuem características marcantes, que as diferenciam umas das outras e achei muito apaixonante como aos poucos acabam se unindo, apesar de tantas diferenças, lutando juntas por um objetivo comum.
Eu vou sentir saudades desses personagens e da escrita gostosa de Jessica Spotswood, fará falta me sentir outra vez tragada às ruas de Nova Londres e ser testemunha das lutas e conquistas dessas garotas mágicas que, em uma época onde a mulher era reduzida à quase nada, elas nunca aceitaram simplesmente se calar e baixar a cabeça.
Apesar do tom de rebeldia, a trama é realista. Cath e as meninas todas se sentem inferiorizadas pelos homens, elas sentem raiva, querem poder lutar contra isso, mas ao mesmo tempo sentem medo, pois cresceram naquela condição e sabem que todas as grandes mudanças são em princípio dramáticas em uma grande sociedade, então, Spotswood consegue trazer à tona tudo isso de maneira exemplar, pois dá para o leitor captar os dois lados da moeda, o querer das garotas e a constatação de que a vitória, pelo menos por enquanto, pode não ser completa, já que mudar as regras do jogo em uma sociedade machista será tarefa árdua.
O livro é cheio de ação. Desde a revolta das bruxas, a perseguição incansável dos Irmãos, o aparcimento da Resistência, a ameaça da morte iminente na fogueira, e a misteriosa praga que mata Nova Londres, o leitor é o tempo todo bombardeado com informações e revelações por todos os lados em um ritmo de leitura rápido, tão rápido que por certos momentos algumas informações ficaram difíceis de absorver.
Um epílogo fez falta à história. A autora soube trazer um final digno, ela explica o destino de muitos personagens, mas depois de estar tão enfeitiçada pela história de Finn, Cath, Maura e Tess, eu esperava que houvessem algumas poucas páginas nos presenteando com o depois, com o futuro que os aguardava. Ainda assim, foi um final satisfatório para uma trilogia que foi, no mínimo, grandiosa desde as suas primeiras páginas.
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