Rafael 16/06/2023
Quanto potencial é possível enxergar nos países latino americanos?
"Este livro é uma busca de chaves da história passada que contribuem para explicar o tempo presente, que também faz história, a partir do princípio que a primeira condição para mudar a realidade é conhecê-la."
Facilmente, ao analisar algumas características da nossa América, identificamos uma variedade de pontos estratégicos que poderiam servir de alavanca para impulsionar a região no cenário global. Podemos mencionar, por exemplo, o potencial turístico dos países da América Latina (AL) que apresenta, sem esforço nenhum, lindos cartões postais, que vão desde praias paradisíacas, como as do Caribe, florestas tropicais, até geleiras deslumbrantes como as encontradas na região da Patagônia. Podemos citar ainda o potencial econômico, já que a região é abundante em terras férteis, água, petróleo, minérios e é cortada por rios e banhada por dois oceanos que facilitam a circulação de bens. É possível mencionar também o potencial natural, com toda a fauna e flora encontrada nessas terras das quais fazem parte a Floresta Amazônica, a Cordilheira dos Andes, o Pantanal e o mar caribenho.
Com tanto potencial, resumido aqui em poucos exemplos, é natural que seja levantada a seguinte questão: por que a AL padece com tanto descaso, pobreza, violência, fome, analfabetismo e exclusão? Problemas esses que assolam grande parte de sua população. Esse é o ponto sensível, em que, acredito, que o autor, o uruguaio Eduardo Galeano, quer chegar. Através de um grande apanhado de fatos históricos, o livro tenta explicar como a região, ao longo do tempo, tem sido explorada pela ganância sem limites de outras nações e como o povo originário e posteriormente outros povos trazidos para região foram desumanizados e usados para a geração de riqueza alheia, fazendo com que poucos se beneficiassem (muito) com todo o potencial generosamente ofertado por essas terras.
O livro destaca ainda a submissão da AL no cenário mundial e o seu papel de inferioridade na Divisão Internacional do Trabalho, além de tratar todos os absurdos ocorridos por aqui, desde a carnificina protagonizada pelos europeus, quando chegaram à América e sua insaciável sede por riquezas naturais até as estratégias de grandes corporações estrangeiras contemporâneas para se apropriar dos recursos da região com o mínimo de investimento e o máximo de lucro.
Por fim, apesar do livro ser escrito no início da década de 70 e ter sido posteriormente atualizado no final dessa mesma década, podemos ver que (lamentavelmente) pouca coisa mudou desde então. Na minha opinião, este livro tem muito a oferecer e, mesmo entendendo as críticas do próprio autor ao seu texto, penso que a sua leitura tende a contextualizar diversos fatos e poderia servir como material complementar de conscientização dentro do processo educacional nas escolas latino americanas.
"A divisão internacional do trabalho significa que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. (...) a América Latina (...) especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do renascimento se aventuraram pelos mares e lhes cravaram os dentes na garganta."
"Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranquilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas sempre é uma ordem - a tranquilidade de que a injustiça siga sendo injustiça e a fome faminta."