Matheus Nunes 26/05/2023
"Nossa vida não é um sonho, mas deveria tornar-se um, e talvez será." O Nonsense pré Alice no País das Maravilhas e o que eu encontrei por lá.
Phantastes é a tentativa do escritor escocês George MacDonald de criar um romance fantástico por excelência. E com isso eu não me refiro apenas a excelência na escrita ou no desenvolvimento da historia, porque por um lado há sim uma excelência na forma como esse livro é escrito e em como o protagonista Anodos passa ao leitor de seus relatos uma descrição poética e convincente daquilo que ele esta passando. Já a excelência no desenvolvimento da historia isso quase sempre não acontece em diversas das aventuras que o protagonista persegue. Há um forte teor onírico em toda essa historia, onde as coisas se confundem e o que estava sendo relatado quase nunca encontra um desfecho, não no padrão clássico de uma aventura fantástica. O autor é muito breve em esclarecer ao seu leitor que não se trata de uma historia comum, e que no Reino das Fadas para qual somos levados a realidade quase sempre se confunde com a magica das coisas.
"Como você sabe, o Reino das Fadas é cheio de esquisitices e toda a sorte de coisas incrivelmente ridículas que um homem é obrigado a encontrar e tratar como existências reais, embora, durante todo o tempo, ele se sinta um tolo por isso."
Bom, é no mínimo reconfortante encontrar uma frase assim logo perto do final do livro, é aquele toque delicado do MacDonald em nosso ombro avisando que a Phantastes reconhece a sua própria estranheza. A obra sabe que é estranha, e seu autor não foge em nenhum momento disso. Durante a leitura eu não deixei de fazer algumas comparações, no começo do livro toda a falta de logica e linearidade me lembrou do pouco que li de Ulisses, do James Joyce (inclusive eu insisto na minha ideia de que esse livro é para a literatura de fantasia o que o livro do Joyce é para a literatura em geral...), e do desenho 'Over the Garden Wall', onde acontece uma serie quase que interminável de coisas bizarras e sem um sentido aparente e onde os protagonistas apenas seguem sem questionarem muito a logica de tudo aquilo, talvez, pelo bem da própria sanidade. E para encerrar e não ficar muito distante do nosso Brasil nessas comparações, o mais perto deste livro que a nossa literatura produz (e que eu conheço) é o conto fantástico Demônios, do Aluísio Azevedo. É quase o mesmo sentimento constante de estranheza.
Conclusão: É um bom livro, apesar de tudo. Mas devo dizer que nem Alice no País das Maravilhas sofreu tanto com o nonsense como o jovem Anodos sofre aqui, mas ambos não se importariam muito com isso pois a aventura para eles é o essencial.