O gigante enterrado

O gigante enterrado Kazuo Ishiguro




Resenhas - O Gigante Enterrado


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Paulo 11/08/2020

Com uma leveza digna de um artista da pena, Kazuo Ishiguro nos leva a questionar sobre o quanto seríamos capazes de sacrificar para obtermos a verdadeira paz. Seríamos capazes de realizar um ato de absoluta covardia, de terror inimaginável para obtermos séculos de paz duradoura? Seríamos capazes de conviver com nossos próprios espíritos? Estaríamos verdadeiramente em paz? Ele brinca com essas e outras questões em uma narrativa que parece ser lenta, mas que quando você se dá conta está completamente absorvido pelas questões existenciais que cercam Axl, Beatrice, Edwin, Wistan e Sir Gawain. A narrativa dessas pessoas se interconecta em uma rede povoada por ogros e dragões em uma Inglaterra pós-arturiana.

Nossa história começa em uma vila com um doce casal de idosos chamados Axl e Beatrice. Depois de adiarem a viagem por muitos anos, eles decidem finalmente ir visitar seu filho (ao qual eles tem poucas recordações) que eles sabem viver em uma vila não muito distante de onde eles moram. Tendo uma forte sensibilidade, Axl percebe uma estranha névoa que paira nas ilhas e está entorpecendo a memória das pessoas de alguma maneira que ele não sabe explicar. Algo está sendo escondido de todos, inclusive deles mesmos. Ao pegar a estrada, eles decidem primeiro se aconselhar com um famoso monge local para descansar e medicar sua esposa Beatrice e no caminho eles acabam se encontrando com Wistan e o jovem Edwin. O cavaleiro bretão Wistan está em uma missão para derrotar a dragoa Querig que vive na montanha próximo da vila para onde Axl e Beatrice pretendem ir. É aí que o cavaleiro decide escoltar o casal de idosos e nossa aventura começa.

A escrita de Ishiguro é extremamente delicada e sutil. Muitas vezes eu me pegava imaginando o autor escrevendo sua narrativa com o bico da pena de tão delicada que é sua forma de escrever. A narrativa é em terceira pessoa e partimos de dois núcleos principais: ora a partir de Axl e Beatrice, ora a partir de Edwin. Fico imaginando que esse é o tipo de história que não vai agradar a todos porque ela tem um nível de desenvolvimento bem lento. Ishiguro não tem a menor pressa em mover suas peças. O leitor demora a perceber aonde ele quer chegar. Não se preocupem: existe um sentido último e uma enorme surpresa na jornada de Axl e na de Wistan e uma importante história a ser contada.

A relação entre Axl e Beatrice é um dos pontos altos da narrativa. Como Ishiguro consegue nos mostrar bem a relação entre ambos. Isso sem ser água com açúcar. Percebemos que ambos se amam de verdade e que tem os seus momentos de amor e devoção e aqueles em que eles discordam. Isso vai do tempo de amadurecimento da união de um casal. Mesmo pequenos gestos confirmam isso: eles sempre andarem juntos ou a preocupação constante de Axl com o conforto de Beatrice ou o receio de Beatrice com a presença de Axl. E assim, não há nenhum grande mistério na história do casal: a história deles é uma aventura em busca de seu filho. Nada além disso. Só que teremos grandes surpresas nesse trajeto.

Muito já se foi dito sobre se o romance é ou não uma fantasia. O próprio autor não gosta de ter o seu romance vinculado ao gênero. Para mim é uma fantasia sim. A diferença é que o elemento fantástico não é uma ferramenta da narrativa, e sim um estado presente na narrativa. É a mesma sensação que temos quando lemos Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez ou Como Água para Chocolate, de Laura Esquivel. Então a todo o momento temos a presença da névoa que de alguma maneira afeta a memória de toda a população das ilhas britânicas ou a dragoa Querig que permanece como o grande vilão a ser abatido ou os ogros que atacam camponeses incautos. Mas, a aventura não se move em função disso. Se eu pudesse ser mais ousado, Ishiguro usa a fantasia quase como uma alegoria para aquilo que ele tem a dizer. Por exemplo, os ogros são uma alegoria para a extrema violência que assolavam as estradas durante a Idade Média. Os camponeses eram mortos a todo o momento e precisavam andar em caravanas. Bandoleiros eram pessoas sem identidade definida quase como se fossem ogros ou brutos. A dragoa Querig está presente por conta do seu bafo de névoa que encobre a ilha do qual falarei a seguir. Ou seja, é sim uma fantasia.

O autor gosta de brincar com como a memória pode ser dobrada ou entorpecida. Em O Gigante Enterrado, uma névoa poderosa está sendo usada para encobrir um acontecimento terrível do passado. A partir desta narrativa da memória surgem dois problemas a ser resolvidos pelos personagens: queremos nos lembrar de tudo o que foi esquecido, mesmo que seja algo horrível; e por que reviver memórias passadas se elas desenterrarão feridas que já poderiam ter sido cicatrizadas. O primeiro caso é algo mais íntimo e pessoal e tem a ver com um amadurecimento próprio, uma auto-análise que fazemos bem mais adiante. A gente aceita aquilo que já aconteceu e tratamos como parte daquilo que forma o nosso todo. Tudo é parte de nossa experiência pessoal; acertos e erros. Já o segundo caso cai em um ponto de toque mais complexo. Por exemplo: e se pudéssemos apagar magicamente o que foi feito com os judeus durante o Holocausto? Houvesse uma forma mágica ou um artefato qualquer que apagasse apenas isso da memória de todos? Seríamos capazes de reverter o processo? Reviver toda a dor novamente? É nessa encruzilhada que os personagens vão se situar no final da narrativa, mas em uma situação distinta.

Uma das partes que eu mais gostei também na narrativa se passou no monastério. Temos toda uma rede de intrigas acontecendo ali dentro com monges e padres estranhos que não sabemos se são apenas bondosos ou escondem alguma coisa. De repente aparece um instrumento de tortura com uma máscara e ferros pontiagudos. Me lembrou bastante os momentos investigativos passados em O Nome da Rosa, de Umberto Eco. A forma como Ishiguro coloca os personagens e a ambientação é muito boa e consegue envolver os leitores em algo que não te dá pistas exatas sobre o que está acontecendo. A gente sabe que alguma coisa está errada só não sabe o que e de onde é. Achei isso fascinante.

Preciso escrever também um parágrafo sobre Sir Gawain, um dos últimos remanescentes da corte do rei Arhur. Um homem alquebrado pelo tempo e pelas guerras montado em seu cavalo Horácio e partindo em uma última missão em busca da dragoa Querig. Assim como Wistan. A percepção que eu tive é que Gawain tem uma participação quase quixotesca em O Gigante Enterrado, embora seu papel tenha sido mais dramático do que cômico. Digamos que Gawain represente um legado de tempos passados e difíceis e que tiveram que ser resolvidos com medidas extremas. Nesse sentido Wistan e Gawain representam imagens espelhadas embora com idades diferentes. Tem dois capítulos no livro que Ishiguro nomeia Devaneios de Sir Gawain que são extremamente melancólicos e nos mostram um pouco do que se passa na mente do nobre cavaleiro. Ele precisou conviver com a culpa de ter feito as ações sob o comando de Arthur, um homem justo e de ter sobrevivido a tudo. Nem sempre ações justas significam boas ações. Talvez essa seja a maior lição deixada pela imagem de Gawain.

O Gigante Enterrado é um belíssimo livro, de um lirismo inacreditável e é compreensível o fato de ele ter sido tão premiado como foi. É um daqueles livros que ou você ama ou você odeia. Para mim, foi uma ótima leitura. Ishiguro me mostrou por que é um dos grandes da literatura mundial e fico feliz que essa tenha sido a minha porta de entrada em seus escritos. Mal vejo a hora de pegar outro de seus trabalhos.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
edu basílio 19/09/2020minha estante
excelentes suas reflexões! :-)




The 22/05/2016

Capa linda e é isso...
Já tinha visto pessoas dizendo que largaram esse livro...mas eu insisti. Primeiro a capa é maravilhosa, as fontes, a textura e tudo mais, e claro, as folhas azuis...
Alx e Beatrice são um casal de idosos cujas lembranças encontram-se nubladas em razão de uma névoa que tem efeito sobre todo o território da Inglaterra, pós-Arthur, medieval. Os velhinhos, que vivem em uma aldeia, decidem um dia partir para uma viagem em busca do filho que crêem não ver a muito tempo, no meio dessa jornada encontrarão outros personagens e se verão em situações que ajudarão a trazer coisas a suas mentes e explicar seus esquecimentos.
Enfim, Alx e Beatrice são um casal de velhinhos com os quais a gente simpatiza, sem dúvida o livro tem um simbolismo que escapa ao leitor menos atento, mas mesmo assim, não é empolgante. A verdade é que as histórias e alguns diálogos soam realmente superficiais, falso mesmo, forçado se preferir...Não existe um foco, um desenvolvimento completo dos personagens, fica uma mistureba de histórias, e a linearidade que é a espinha dorsal da coisa é muito básica. A fantasia fica por conta de ogros, fadas e esse tipo de ser fantástico, mas nada muito além. O ritmo também é lento, os capítulos são grandes. Não se perde de todo porque existem mensagens importantes sobre as memórias, os sentimentos, a guerra, a paz, o amor e a morte, por isso e pelo trabalho gráfico, além dos simpáticos velhinhos ficam as estrelas.
Toda leitura vale a pena, mas não nutra enormes expectativas, vi que tem pessoas que amaram, eu entendi os simbolismos mas não rolou pra mim, não consegui achar o máximo, então se num está rolando pra você, provável que vá acabar na mesma vibe...
Helder 05/02/2017minha estante
Resenha perfeita. Acabei na mesma vibe. Simbolismos não me cativaram nem um pouco. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas Paulo Coelho consegue dizer muito mais com suas metáforas rasas. Livro sem objetivo.




PS Amo Leitura 11/04/2016

Razoável
Nesse livro nós vamos conhecer a história de Beatrice e Axl, um casal de idosos que estão à procura de seu filho mesmo não lembrando de sua aparência e nem quando foi a última vez que tiveram contato com ele. Tudo que eles possuem são vagas lembranças sobre ele.

Mas por quê eles não se lembram de nada? Há uma névoa dissipando por todo o povoado o que traz o esquecimento: ninguém é capaz de lembrar de acontecimentos passados e até mesmo os mais recentes são esquecidos. Apenas alguns bons acontecimentos vivem intactos na memória.

Mesmo com suas vagas lembranças, o casal decide sair em busca de seu filho e procuram uma forma de descobrir o que é essa névoa e o que é capaz de destruí-la. Será que as poucas lembranças são capazes de fazer ambos superarem essa jornada? Será que quando conseguirem descobrir como dissipar a névoa e as lembranças voltarem, ambos ainda irão se amar mesmo com as antigas lembranças?

Durante sua viagem eles se deparam com personagens intrigantes como Winstan, que parece ser a resposta para o fim da névoa que rouba as memórias, Edwin, o menino que carrega uma maldição e que pode ser a promessa de um futuro, além de Sir Gawain, último remanescente da Távola Redonda e sobrinho do Rei Arthur. Cada personagem tem um papel fundamental na jornada dos protagonistas.

Eu li muitos comentários positivos sobre esse livro e quando ganhei o sorteio da Companhia das Letras, não pensei duas vezes em escolher este livro. Porém, não me agradou muito. Garanto que esse é um livro que não é capaz de agradar todos os tipos de leitores.

O que me fez interagir mais com o livro foi que essa "névoa de esquecimento" fez com que eu me esquecesse de certos acontecimentos também, pois Kazuo escreveu de uma forma que você pensasse: "mas como isso aconteceu?". E a forma como Beatrice e Axl compartilhavam o seu amor.

Por mais que eu achei o contexto incrível (e quem não acharia interessante essa tal de névoa?!), ao mesmo tempo achei a história muito cansativa. Cada capítulo com mais de 20 páginas o que deixou tudo mais lento e a narrativa não me conquistou muito. A história não flui naturalmente, não é uma leitura fácil. É como a viagem que eles faziam: a pé. Para fazer com que o leitor vivesse assim como eles estavam vivendo. Mas, infelizmente, o livro não me conquistou tanto quanto eu esperava.

Resenha feita no blog PS Amo Leitura.

site: http://psamoleitura.blogspot.com.br/2016/04/resenha-o-gigante-enterrado.html
Carmen 26/04/2016minha estante
Achei bem "difícil" a leitura por achar demorada, com esses capítulos longos que você disse... Não mudou minha vida, foi apenas um livro com uma linguagem diferente que li, não me acrescentou nada




Pipoco 19/01/2018

Decidi pela leitura do livro após sua premiação com o Nobel. Não é, definitivamente, o tipo de enredo que me atrai em um livro. No entanto, temos aí uma escrita belíssima e bastante metafórica que perpassa algumas questões pelas quais me interesso: memória, afetividade, espaço, pertencimento e relacionamento. Confesso, porém, alguma dificuldade com leituras fantasiosas, o que por vezes me deixava confuso, mas não seria justo se falasse que se trata de um livro ruim: pelo contrário, a escrita é belíssima e a narrativa é muito agradável.
Luciana Lamblet 20/01/2018minha estante
Quero começar com "Os vestígios dos dias"




PorEssasPáginas 30/09/2015

Resenha: O Gigante Enterrado - Por Essas Páginas
Imaginei que O Gigante Enterrado não seria uma leitura fácil para mim: ele tinha toda a cara de um livro que sairia da minha zona de conforto, e realmente sai. Alta fantasia, com muita descrição e escrita poética: tudo isso pode ser lindo, mas não é exatamente minha praia. Além disso, dos livros de autores japoneses, venho de uma decepção literária/um livro que quase estou abandonando, que é Battle Royale (longa história). Mesmo assim, não resisti e quis ler O Gigante Enterrado: a trama me instigou e a edição da Companhia das Letras é simplesmente primorosa. Ainda bem que insisti: o livro é nada menos que belíssimo, uma história de amor emocionante sobre a importância das memórias, mesmo as mais dolorosas.

O Gigante Enterrado é mais do que uma história de alta fantasia e foi isso que me conquistou; é um livro sobre, essencialmente, amor, perdão e lembranças. Em uma terra devastada pela guerra, em meio a uma paz frágil após a morte do rei Arthur, povoada por trolls, ogros, dragões e outros seres fantásticos, esse simpático casal de idosos, Axl e Beatrice, resolve fazer uma viagem difícil e audaciosa em busca da aldeia do seu filho, que há muito não encontram. Para completa, há essa névoa misteriosa que encobre as memórias das pessoas, sejam elas felizes, tristes, de amor ou de rancor. E é isso que mais aflige o casal: a perda de suas lembranças mais preciosas. Sua jornada, portanto, não é apenas em busca do filho, mas em busca de si mesmos.

Ler esse livro é como montar um quebra-cabeças; há peças por todo canto, nas mais diversas vozes. E não pense que o autor facilita as coisas para você e faz com que todas se encaixem por si mesmas: essa é a sua função, leitor, enquanto descobre essa história junto com os próprios personagens. A impressão que dá é que tudo passa num devaneio, como se a névoa do livro também afetasse o leitor.

Os personagens são extremamente ricos, tanto em personalidade quanto em carga emocional; além de Axl e Beatrice, conhecemos, junto com eles, outros personagens que cruzam sua jornada: um guerreiro, Wistan; um menino cheio de segredos, Edwin; um cavaleiro do próprio Arthur, tão idoso quanto o casal, sir Gawain. Todos eles trazem sua própria voz e riqueza à trama, que é contada em primeira, segunda e terceira pessoa, com vários narradores. Como disse, um verdadeiro quebra-cabeças.

É claro que, como não é uma leitura das mais confortáveis para mim, demorei um pouco para terminar de ler o livro e emperrei em algumas partes, que eram bastante descritivas ou poéticas, com diálogos cheios de palavras floreadas. Porém, sei bem que, nesse caso, o livro não poderia ser escrito de outra maneira; é isso que o torna ainda mais bonito, e mesmo que não seja minha zona de conforto, apreciei a leitura.

Aos poucos as linhas tênues de lembranças se desenrolam e o leitor começa a compreender o livro de fato, mas não ouso dizer que entendi completamente as intenções do autor. Não é um livro fácil de ler, certamente, mas o todo dele compensa: o final, então, me levou às lágrimas, uma metáfora extremamente bela e emocionante. Não é um livro para se ler de uma tacada só, mas para ser saboreado, lentamente, como uma refeição refinada, daquelas que você fará poucas vezes na vida.

site: http://poressaspaginas.com/resenha-o-gigante-enterrado
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ElisaCazorla 21/09/2015

Como seria o presente se não houvesse passado?
De uma trama singela e cuja metáfora mais importante - sobre o amor e a morte - é bem clara logo no início, este livro é repleto de muitas outras metáforas e simbologia que nem todos os leitores conseguem apreender. Ishiguro discorre sobre a construção da memória coletiva, da atribuição de significado e levanta questões sobre a importância das memórias e suas influências nas ações que tomamos e na pessoa que somos a partir das lembranças que temos ou, talvez mais importante, daquelas que não temos mais. Essa dinâmica ultrapassa as relações pessoas e amorosas e alcança as dinâmicas sociais dentro de toda a comunidade e como as pessoas de um determinado local se relacionam com outros grupos e com seus líderes e seu passado. Uma das questões mais importantes que o livro levanta é: o que aconteceria com o presente sem a capacidade de esquecer detalhes do passado? "Será que não é melhor que algumas coisas permaneçam encobertas?"
Livro delicado, sombrio e triste - muito triste. O autor é muito habilidoso em nos fazer sentir cercados pela névoa, como se estivéssemos sonhando. Um livro que precisa de uma leitura cuidadosa para que as metáforas mais bonitas não se percam pelo caminho.
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Caroline 18/10/2015

"Vamos ver livremente o caminho que trilhamos juntos, seja ele escuro ou ensolarado."
"O Gigante Enterrado" de Ishiguro é, essencialmente, uma história de amor verdadeiro. Não é sobre romance. Não é sobre felizes para sempre. É sobre a verdade presente em um amor de uma vida inteira. Axl e Beatrice são um casal de velhinhos, extremamente sábios e carinhosos um com outro, aparentemente, vivem o casamento de amor e simplicidade sonhado por todos. Ao longo da história, vamos descobrindo que a relação não é o conto de fadas que aparenta e que o amor entre os dois é um sobrevivente de uma relação real: cheias de desentendimentos, discordâncias, cotidiano, dias felizes e infelizes. Ambientado em um mundo mágico, os diálogos, personagens, caricaturas e enlaces são tão reais quanto nós mesmos. É inspirador e cheio de referências, entremeado de lições valiosas!
Recomendo uma leitura mais reflexiva!
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San 17/09/2015

Memória, amor e culpa
O Gigante Enterrado se passa na Inglaterra alguns anos após a guerra em que o lendário Rei Arthur lutou para defender o território bretão da invasão dos saxões. Nessa região recai uma névoa que faz seus habitantes esquecerem o passado, alguns esquecem até acontecimentos do dia anterior. Acredito que seja por este motivo que o primeiro capítulo é um pouco desconexo e confuso, como as memórias perdidas na névoa, a narrativa começa aos poucos, costurando os retalhos da vida do casal idoso, Axl e Beatrice que esqueceram como se conheceram, como chegaram na aldeia em que vivem e do rosto do filho deles.

Com alguns fragmentos de lembranças Axl e Beatrice resolvem partir em uma viagem para visitar o filho, a partir daí a narrativa assume uma linearidade confortável onde outros personagens vão surgindo aos poucos, primeiro um guerreiro, depois um garoto ferido, então soldados, um cavaleiro, monges sinistros, barqueiros, fadas, um bode e uma dragoa. O que gostei sobre a construção dos personagens é como cada um deles representa um ponto de vista diferente sobre o conflito que entrelaçou seus caminhos e motiva seus atos, portanto, não são necessariamente vilão ou herói, cada um deles apenas possui suas qualidades, e são movidos por seus propósitos pessoais.

Amantes de fantasias medievais como Guerra dos Tronos e Senhor dos Anéis ficarão satisfeitos com a jornada dos personagens, descobrindo uma metáfora por trás de cada duelo, traição e criatura mítica, nada na história é apenas o que aparenta, o mérito do conto está em cada significado revelado a medida que viramos as páginas, nada está lá em vão, desde a vela que Beatrice deseja até o túmulo do gigante.

Ao longo da jornada para superar a névoa da memória, o leitor é confrontado com um dilema, você escolheria esquecer uma velha rixa para viver em paz? Ou manteria o fervor pela vingança com lembranças amargas? A resposta parece óbvia, porém conhecemos pessoas que não conseguem abandonar velhos rancores. É esta questão que enriquece essa trama sobre memória, amor e culpa.

site: http://www.encarandoasferas.com.br/2015/08/27/gigante-enterrado/
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Tereza 11/04/2016

De início pensava ser um livro que meramente fantástico, mas aos poucos fui sendo capaz de perceber que essa é uma obra muito mais rica e simbólica do que eu supunha. Acho até que é um daqueles livros que merecem ser relidos de forma mais atenta, pois sinto que deixei passar muita coisa tanto devido ao ritmo espaçado entre leituras quanto pela minha expectativa inicial.
O bacana foi ver minha avaliação da obra subir a cada atualização da evolução da leitura, então se você começou a ler agora é não está muito empolgado, siga adiante, pois ao concluir se percebe que se trata de uma obra com 'substância'.
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Deisy 27/02/2016

O gigante enterrado
O livro conta a história de um casal de  idosos, o Axl e a Beatrice, que afetados por uma névoa que faz com que os seres humanos percam as lembranças sai em busca do seu filho que há muito tempo não foi visto por eles.  Tudo se passa logo depois da queda do rei Arthur.
O escritor tentou mostrar uma Grã-Bretanha devastada pela guerra, em um mundo habitado por ogros, dragões, fadas e outras fantasias.
Para mim a história não passou disso. Eram dois velhinhos em uma caminhada que nunca chegava ao final, a narrativa seguia a lentidão e o cansaço deles. O escritor foi adicionando tantos elementos, que acabou não dando real destaque a nenhum, deixando assim o livro sem sentido e sem graça.
Acabei concluindo a leitura acreditando que o final seria arrebator, mas que acabou, também, não sendo. Fiquei muito decepcionada  de ver um livro com a capa tao bonita se tornar um dos piores que li na minha vida .
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radamiscastor 16/06/2024

Uma preciosidade
Quando peguei "O Gigante Enterrado" pra ler, não imaginava encontrar uma fantasia ambientada numa Grã-Bretanha medieval, onde uma névoa de esquecimento impede as pessoas de lembrarem do passado. A premissa me pareceu interessantíssima, mas o que realmente me cativou foram os protagonistas, Axl e Beatrice. Mesmo com a idade avançada, eles embarcam em uma jornada para reencontrar um filho há muito esquecido e, ao mesmo tempo, resgatar suas próprias memórias. Embora frágeis, eles se apoiam no amor que sentem um pelo outro pra enfrentar os desafios que surgem pelo caminho. Mas será que lembrar de tudo é sempre bom? Será que o esquecimento não é uma forma de deixar para trás dores e traumas, individuais ou coletivos, permitindo que a vida siga em frente? Às vezes, não. Às vezes, a verdade, por mais dolorosa que seja e com todas as consequências que possa trazer, precisa vir à tona. O Gigante Enterrado é um livro lindo, delicado e melancólico, que revela sua essência bem no finalzinho. Já está na minha lista de favoritos ?.
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Enrico 16/02/2016

Sob uma trama aparentemente trivial, juvenil e pouco inovadora, O Gigante Enterrado traz à reflexão temas sombrios e delicados: o amor, o ódio, a traição, a fidelidade, a guerra, a morte, a memória. Principalmente a memória. Suas potencialidades de aproximar, afastar, vingar, justificar. De fomentar o conflito, ou de apontar para uma resolução. Seja a fragilizada memória biográfica do casal de idosos que protagoniza a trama, seja a degradada memória coletiva dos grupos étnicos que a contextualizam, ela aparece mais que como tema: é um verdadeiro personagem, e não de menor importância. Um personagem cuja ausência é sentida, cujo retorno é aguardado, cujo perfil é especulado.

Confesso ter ficado ressabiado ao saber que Kazuo Ishiguro havia ingressado no universo da ficção fantástica após ter lido o excelente Não me abandone jamais (cuja adaptação ao cinema foi sofrível). Mas essa nova obra, se não carrega a mesma atmosfera misteriosa, ácida e ligeiramente verossímil da anterior, não é nada desprezível e se destaca no gênero.

Antes de iniciar a leitura, desconfiei de um crítico que afirmava se tratar de um livro que permanece povoando nossos pensamentos após seu término. Depois de dois ou três capítulos, continuava me parecer uma obra bastante regular. Mas não era. Narrando com sensibilidade, descrições sofisticadas e lampejos poéticos, Ishiguro nos oferece poucos porém bem constituídos personagens que se situam nos tempos folclóricos da Grã Bretanha, em que violentas disputas políticas e o poder secular da Igreja coexistem com trolls, fadas e dragões. A exemplo do livro anterior, a trama evolui paulatinamente, como que naturalmente, revelando de modo sutil e orgânico aos personagens (e ao leitor, é claro) sua real condição no universo improvável em que habitam; condição que desconhecem a princípio. O narrador em terceira pessoa é predominantemente objetivo, mas se permite ocasionalmente evocar o leitor manifestando ciência de que este se encontra em tempos nos quais os acontecimentos são implausíveis e fabulosos. Permite-se também, em um ou outro capítulo, abrir espaço para a visão subjetiva de certos personagens, um dos quais constitui uma bonita homenagem ao Quixote de Cervantes.

Por fim, a figura metafórica do gigante que intitula a obra – e que só é devidamente compreendida nos últimos capítulos – deixa propositadamente no ar a continuação temerária dos acontecimentos narrados. Mas a qualidade da obra dá indícios de que o autor não se renderá às tentações mercadológicas de lançar uma sequência. Melhor assim.

Claro que não está no rol dos livros mais geniais e inventivos do século, talvez longe disso, mas é muito mais que algumas horas de entretenimento juvenil vazio.
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Saga Literária 02/02/2016

O Gigante Enterrado!
O Gigante Enterrado - Kazuo Ishiguro (Companhia das Letras)

Trata-se de um romance que quebra um hiato de 10 anos, do japonês, erradicado na Inglaterra. Nesta leitura somos apresentados para a Grã-Bretanha em uma terra devastada por várias guerras que aconteceram recentemente, a queda do rei Arthur e que também é assombrada por uma maldição, uma névoa que provoca o esquecimento em todos ali e essas ameaças de serem invadidos por ogros deixam os moradores inquietos e preocupados.

O Gigante Enterrado é uma brilhante história de fantasia, com dragões, trolls, gigantes e cavaleiros do rei Arthur, é também, uma história agridoce sobre memória e traição, sobre vingança e violência.

Este é um livro que trabalha com o preciosismo de nossas memórias e o lúdico das fantasias clássicas, para edificar uma alegoria sobre valores, virtudes e sentimentos, que figuram tão distantes do nosso atual. A escrita de Ishiguro é leve, não demonstra pressa em entregar os acontecimentos, eles simplesmente acontecem.

A obra possuí como discussão proposta, a relação entre a memória pessoal e a coletiva, como interferem na nossa vida, afinal de contas, quem somos nós sem nossas lembranças? Ou seria melhor esquecer o passado e e viver o presente?

Publicado em nossa fanpage em 03/09/2015
https://www.facebook.com/asagaliteraria

site: www.sagaliteraria.com.br
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Leandro Matos 20/07/2015

O Gigante Enterrado | Entre memórias e fantasias.
O romance que quebra o hiato de 10 anos, do japonês erradicado na Inglaterra, Kazuo Ishiguro é uma ode as grandes lendas fantásticas e as mais singelas características humana.

O Gigante Enterrado é um livro que trabalha com o preciosismo de nossas memórias e o lúdico das fantasias clássicas, para edificar uma alegoria sobre valores, virtudes e sentimentos, que figuram tão distantes do nosso atual.

O romance inicialmente nos apresenta Axl e Beatrice, um casal de idosos que abandonam o rígido vilarejo onde vivem em busca do filho, que há muito se foi daquele lugar. No árduo caminho até o local onde acreditam que o filho esteja, eles param em outra localidade e lá descobrem que seus moradores estão amedrontados pelo desaparecimento de Edwin, um garoto que fora na verdade levado para dentro da floresta por ogros. Dessa situação surge Wistan, um guerreiro habilidoso e único capaz de resgatar o garoto.

Em meio a isso e a outros motivos, os quatro decidem seguir juntos por trilhas que ainda reservam outras desventuras e transformações. E no decorrer do livro ainda vamos nos deparar com monges, fadas, demônios, com uma névoa responsável pela perda de memória das pessoas, uma dragoa que atormenta uma cidade, um cavaleiro do Rei Arthur e seu fiel cavalo e uma eterna e justificada desavença marcada pela guerra entre bretões e saxões.

“Mas há um lugar onde nós precisamos ter muito cuidado. Você está me ouvindo, Axl? É quando a trilha passa por onde o gigante está enterrado. Para quem não conhece, parece uma colina comum, mas vou te fazer um sinal quando chegarmos lá… Não vai nos fazer nenhum bem passar por cima de um tumulo como aquele, mesmo que seja ao sol do meio-dia.”

Cada núcleo, cada personagem apresentado no romance, entendo que representa um aspecto de uma proposta maior, onde a construção narrativa do autor se apropria de fatos históricos para formatar uma historia que traz em seu cerne, aspectos inerentes a cada um de nós. Amor, medo, respeito, coragem, dúvida e tantos outros, são apenas exemplos que complementam e ilustram a obra com o real. O fantástico do romance é apenas um véu, uma névoa que também acompanha o leitor. É um livro sobre relacionamentos, sobre a relação entre pessoas em suas várias formas e facetas e principalmente, sobre como promessas são importantes.

A escrita de Ishiguro é leve, contida. Não há pressa em entregar os acontecimentos, eles simplesmente acontecem, vão tomando forma entre uma linha e outra. No que tange à literatura, há um quê de Kafka, de Pyle e Cervantes, já no lado fantástico há mais de Tolkien do que Martin em suas linhas. Sua fábula segue branda como um lago preservado pelo tempo e protegido por arvores, onde este só é perturbado, quando alguma folha cai em seu espelho d’água. Seus capítulos mantém uma constante, uma narrativa sem grandes reviravoltas ou subtramas, mas com um enredo seguro e compacto ao descrever uma fantasia que mescla o histórico com a aura fantástica que tão facilmente reconhecemos.

“Você acha possível que seja verdade aquilo que o Ivor disse sobre a névoa ontem a noite, Axl? Que Deus que está nos fazendo esquecer? … Talvez Deus esteja sentindo uma vergonha tão profunda de nós, de algo que fizemos, que ele próprio esteja querendo esquecer.

E como o estranho disse ao Ivor: se Deus não lembra, não é de espantar que nós não consigamos lembrar.

Mas o que podemos ter feito para deixar Deus tão envergonhado?

Não sei, Axl?”

O título do livro traz um significado íntimo. Um entendimento próprio sobre o quê temos de gigante que no decorrer da nossa vida precisamos enterrar, seja para esquecer; seja para guardar.

O Gigante Enterrado é uma leitura sobre o dom de esquecer e a dádiva de lembrar. Um livro que propõe ao leitor uma análise subjetiva diante daquilo que de fato prezamos em nossas vidas. Empatia, compaixão e amor a si e ao próximo são reconhecidos no final do romance, que foi verdadeiro e nos faz identificar e refletir ao fim da leitura: Viver é uma eterna alternância entre recordar e esquecer.

site: http://nerdpride.com.br/o-gigante-enterrado/
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