Lopes 06/08/2018
O sabor do fantástico
“Doze contos peregrinos”, de Gabriel García Márquez, são contos que emulam cheiros, pequenas doses de fragrâncias florais que seus personagens exalam. A beleza tende a se construir a partir de uma junção de situações e desenho linguístico da qual o autor é mestre. Sua excitação principal é desvendar quais fantasias a mais poderiam surgir para o leitor, por meio de sua expectativa. O universo latino sempre está em movimento, porém existem características básicas como a natureza, o ar, temperatura, dentre outras, das quais o autor sabe extrair sua essência artística. E não necessariamente sua fórmula é a descrição. “Doze contos peregrinos”, pretende sintetizar em poucos reflexos os adjetivos que formam as pessoas contidas nos contos. E cada um possui um cheiro, geralmente de flores ou terra. Fantasiar-se de lavanda, copo-de-leite ou orquídea, por exemplo, revela, principalmente, a melancolia e o peso da vida e seu destino. O espírito acompanha a fé na vida, e de que ela e seus desejos são princípios que servem de suportes para se sentir calorosamente bonito para alguém. Em cada espaço existem belezas e feiúras, e no fantástico ambos são formações dolorosamente poéticas, pequenos ensaios de delicados carinhos que ao tear personagens em seus destinos, transformam-se jardins literários. Para morte seguimos sem deixar de nos surpreender com cada esquema seu. Do amor e ou tesão ouve-se o suspiro e gemido com o qual os personagens precisam ser resilientes. Ler Gabo é renascer em cada história, é se perder da realidade, mesmo indo de encontro a ela, é também sacrificar os olhos em razão das belas flores no jardim.