Fabio Martins 02/03/2016
Ninguém escreve ao Coronel
A contribuição de Gabriel García Márquez ao mundo literário é indiscutível. Ele foi um dos precursores do realismo mágico e conquistou uma legião de fãs ao longo dos tempos com suas obras fantásticas, dotadas de um humanismo próximo e ao mesmo tempo muito distante da realidade, além, claro, de sua descrição cirúrgica do modo de vida latino-americano. O reconhecimento chegou em 1982, com o Prêmio Nobel de Literatura.
Ninguém escreve ao Coronel, publicado em 1961, não é uma obra tão elaborada como Cem anos de solidão ou O amor nos tempos do cólera, mas tem suas virtudes. O autor apresenta sua narrativa única – que ficaria muito conhecida em obras posteriores –, como se fosse um bom velhinho contando uma história aos netos. O texto é leve, sem compromisso e segue em um ritmo calmo, adequado justamente a uma cidadezinha interiorana de meados do Século 20, como a retratada no livro.
Na trama, o Coronel reformado do exército e sua esposa vivem em uma penúria extrema, principalmente após a morte do filho do casal, Agustín, um ano antes. O que os acalenta é a promessa de pensão do governo aos veteranos, porém, passados 15 anos, o dinheiro nunca chegou. Mesmo assim, às sextas-feiras o Coronel renova a sua esperança e espera a lancha do correio aparecer na ânsia de receber a recompensa que lhe haviam prometido.
Enquanto a tão sonhada carta não aparece, o Coronel segue sua rotina pacata, preocupado com a alimentação do galo deixado pelo filho, já que o período das rinhas se aproxima e o animal tem que manter-se saudável até lá. Para desespero de sua esposa, o galo se alimenta melhor do que eles, e essa discussão é um dos pontos centrais da obra.
Assim como a mulher, o leitor se sente angustiado perante a inércia do protagonista em tomar alguma atitude, mesmo vivendo em uma situação de necessidade e com pouca perspectiva de mudança. Um ponto curioso da história são as citações de Aureliano Buendía e da cidade de Macondo, que foram eternizados anos depois na obra-prima de Márquez, Cem anos de solidão.
Ninguém escreve ao Coronel é um livro curto e rápido de ser lido, podendo agradar tanto aos fãs que já conhecem o autor quanto àqueles que pretendem conhecer seu estilo literário peculiar.
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