spoiler visualizarlsrcch 09/09/2022
Interessantíssimo.
“Quanto mais numerosos foram os obstáculos legais e materiais vencidos pelas mulheres, mais rígidas, pesadas e cruéis foram as imagens da beleza feminina a nós impostas.” (WOLF, 2018, p. 16).
Em “O Mito da Beleza”, Naomi Wolf aborda a existência de uma relação entre a conquista de direitos das mulheres e seus problemas com autoimagem. A ditadura da beleza seria uma forma remanescente de exercer sobre as mulheres o controle que a legalidade já não consegue mais; a forma mais recente de manipulação que o patriarcado encontrou para “manter-lhes na linha”.
A beleza se torna moeda de troca, aquilo único que as mulheres têm a oferecer, um sistema monetário e político, determinado por instituições masculinas e pelo poder institucional dos homens.
“As qualidades que um determinado período considera belas nas mulheres são apenas símbolos do comportamento feminino que aquele período julga ser desejável. O mito da beleza de fato sempre determina o comportamento, não a aparência.” (WOLF, 2018, p. 20).
O mito encoraja a competição feminina, que impede a união entre as mulheres. Faz alegoria a estratégia política de “dividir e conquistar”, implementada em diversos impérios ao longo da história humana, que consiste em separar um grupo maior de pessoas em grupos menores e, consequentemente, mais frágeis, suscetíveis ao poder do “inimigo”. A mulher ideal é a jovem inocente, que não tem poder ou controle sobre si mesma, e que não mantém vínculos fortes com seus pares.
Com as novas tecnologias, foi possível reproduzir a imagem de como deveria ser a mulher ideal. Daí em diante, mulheres passaram a ser bombardeadas com fotografias, anúncios, pinturas, cartões-postais, gravuras, etc, de “belas” mulheres.
A ordem social sente a necessidade de se defender evitando a realidade das mulheres, de seus corpos e rostos reais, em valor de imagens forjadas, para manter a economia e a estrutura de poder vigentes funcionando da forma desejada.
“As economias ocidentais são agora inteiramente dependentes da continuidade dos baixos salários pagos às mulheres. Uma ideologia que fizesse com que sentíssemos que temos menos valor tornou-se urgente e necessária para se contrapor à forma pela qual o feminismo começava a fazer com que nos valorizássemos mais” (WOLF, 2018, p. 24).
Quando as mulheres passaram a ingressar o mercado de trabalho de forma significativa, o mito da beleza foi refinado de forma a legitimar a discriminação das mulheres em seus empregos.
Historicamente, as mulheres trabalham muito mais que os homens, até duas vezes mais. Além do trabalho remunerado, ainda são as maiores responsáveis pelos afazeres domésticos. Elas representam também mais da metade da população do mundo. Ainda assim, com todos os empecilhos colocados em seus caminhos, as mulheres conseguem se sobressair e conquistar poder.
“No Quênia, com recursos agrícolas desiguais, as mulheres colheram o mesmo que os homens. Com recursos iguais, elas produziram maiores colheitas com maior eficiência.” (WOLF, 2018, p. 29). Dadas as oportunidades às mulheres, elas se sobressaem, pois estão acostumadas a trabalharem o dobro por menos. O sistema vigente tem medo da força feminina, e, para minar suas tentativas de ascensão, utilizam de estratégias diversas: o mito da beleza, a crença de que o trabalho doméstico não era de fato um trabalho, o não fornecimento de creches para que as mães trabalhadoras tenham onde deixar seus filhos durante a jornada de trabalho, etc.
As mulheres assumem jornada tripla, pois, ao mesmo tempo que assumem a carreira profissional, são também donas de casa e profissionais da beleza, devendo mantê-la a todo custo.