Capitu 02/03/2021
O amor como ele não é
Para quem gostou de Madame Bovary ou A mulher de 30 anos, esse livro é perfeito! Ao invés de nos encontrarmos na velha França, o cenário da vez é Lisboa! O Primo Basílio trata de um realismo português do século XIX, que visa criticar a sociedade lisboeta, a burguesia, a moral, o casamento e o tédio da mulher casada. E de certa forma, uma homenagem A Madame Bovary.
Eça de Queirós já se declara um grande fã de Flaubert e Balzac em uma carta a um amigo, e é incrível a semelhança de O Primo Basílio com Madame Bovary, o enredo parece ser até o mesmo! O que Emma e Luísa tem em comum? O desespero em escapar do tédio e da monotonia, Emma por não gostar do seu marido e Luísa pela ausência dele, ambas suprindo suas carências, conscientemente ou não nos braços dos amantes. Já o primo Basílio se parece muito com Rodolphe Boulanger, dois conquistadores profissionais, manipulando sentimentos descaradamente a troco de sexo.
Luísa é casada com Jorge, que viaja a trabalho, mas por infeliz coincidência, o primo de Luísa, Basílio, chega na cidade e começa visitar a prima todos os dias. E olha só que coisa interessante, nós brasileiros herdamos o espírito fofoqueiro dos portugueses, a vizinhança de Luísa já começa a falar horrores! Luísa é a típica mulher idealizadora, inspirada por romances, Basílio é para ela como aqueles personagens maravilhosos dos livros, recém chegado de terras estrangeiras, tinha ganhado muito dinheiro, viajado para muitos lugares, era voluptuoso e misterioso, e ainda declara seu suposto amor a ela. Para Luísa o amor naquele momento é confundido com a paixão, o impulso sexual, o desejo pelo proibido, as delícias do sexo e do que é proibido. Com o passar do tempo, na ausência do marido, Luísa lembra-se vagamente de Jorge, e começa a acha-lo comum demais, pacato demais, um homem sem mistérios, mas que sempre fora amável e gentil com ela, estando ao seu lado em seus piores momentos. Ao final do livro temos uma definição de amor verdadeiro, que Luísa contempla em seus momentos finais, de que o amor sincero é aquele que não machuca, é aquele que achamos que é pacato, sem grandes emoções, ele é algo morno, e não avassalador. E ela reconhece que o único homem que a amou de verdade foi Jorge, que ficou com ela até o seu último suspiro, que chorou por ela, que cuidou dela em todos os seus momentos difíceis e que sempre fizera o que tivesse ao seu alcance para fazê-la feliz. O amor não é feito de um super homem, ou uma super mulher, mas de pessoas simples que sabem dar ao outro o que de melhor tem em si mesmo. E o mesmo acontece com Emma em Madame Bovary, no seu leito de morte reconhece que o único homem que a amou de verdade foi Charles, mesmo não sendo um exemplo de príncipe encantado, ele esteve com ela até seu último momento.
Como esse livro é um realismo, não espere um final feliz, é mais bonito que Madame Bovary, que termina de forma miserável, mas de certa forma você vai fechar o livro e ficar indignado com a impunidade para com os injustos. Luísa paga por dois as consequências das suas escolhas. É um livro que eu super recomendo, divertido de se ler, é uma escrita muito fácil de ser compreendida, eu devorei esse livro, foi muito rápido a leitura, entra para um dos meus romances favoritos. E foi isso que aprendi com este livro, procuramos tanto por fortes emoções, buscamos desesperadamente pelo amor, mas quando ele aparece não damos valor por não ser da forma como imaginamos, ser singelo, doce e simples demais, e acabamos trocando o amor verdadeiro por uma ilusão de curta duração que pode estragar toda uma vida.