neo 29/09/2013Dizer que eu estava ansiosa para ler O Olho do Mundo é pouco. Desde que decidi dar uma pausa na minha história para ler livros de fantasia e, desse modo, conhecer a área, o nome (pseudônimo, na verdade) de Robert Jordan começou a pipocar em todos os cantos, assim como o de sua série, A Roda do Tempo. Soube bem no início desse ano que uma editora minúscula e desconhecida tinha publicado o livro há um tempinho, mas desanimei para comprar o primeiro e o segundo volume por pensar que nunca iriam trazer o resto da série pro Brasil. Então, comecei a ler em inglês a passos de tartaruga, mas parei assim que soube que a Intrínseca iria publicar novamente O Olho do Mundo. Comprei-o mais rápido possível assim que ele saiu, e aqui estou eu para (finalmente) contar o que achei.
Eu adoro essas fantasias mais antigas, para falar a verdade. As novas geralmente deixam um pouco a desejar na construção de mundo e uma boa parte se torna uma adaptação do universo de O Senhor dos Anéis. Não que O Olho do Mundo não tenha algumas semelhanças com os trabalhos de Tolkien (notei várias), mas, apesar de possuir o mesmo clima, até que consegue se diferenciar bem e ter um espírito próprio.
Uma coisa da qual gostei mesmo foi da “mitologia” do mundo em que a história se situa. Pelo que eu entendi, a Roda do Tempo tem sete Eras, que giram e são “remodeladas” cada vez que completam o ciclo, tecendo o Padrão. A fonte de magia é chamada de Fonte Verdadeira, e é dividida em duas, a parte feminina, saidar, e a masculina, saidin, e aqueles que conseguem usar o Poder são chamados de Aes Sedai. Até a Era das Lendas, tudo funcionava muito bem, mas havia o Tenebroso, o Pai das Mentiras, o Pastor da Noite, ou, simplesmente, Shai’tan, o Destruidor, que ameaçava a Luz. Foi Lews Therin Telamon, o Dragão e um Aes Sedai, quem o aprisionou em Shayol Ghul, além da Praga, e assim salvou a humanidade. Porém, Shai’tan conseguiu macular a parte masculina do Poder, saidin, e levou todos os homens Aes Sedai à loucura. Tomados pela insanidade, esses homens levaram a destruição à todos os cantos e causaram a Ruptura do Mundo. Lews Therin, o Dragão, foi o pior e mais poderoso entre eles.
A história de O Olho do Mundo se passa três mil anos após esse período, que ficou conhecido como Tempo da Loucura. Atualmente só existem Aes Sedai mulheres, que vivem em Tar Valon, e são as únicas capazes de “amansar” os homens que podem usar o Poder, impedindo-os de causar outra Ruptura. E é nesse mundo que vivem nossos personagens principais, Rand, Mat e Perrin.
Uma coisa que me frustrou muito durante a leitura desse primeiro volume foi a falta de respostas. Chegamos ao último capítulo sem saber muita coisa sobre os três personagens principais (dá pra imaginar uma coisa ou outra, mas não há nada concreto) e uma boa parte do meio se arrastou sem uma revelaçãozinha sequer. Mas estou disposta a perdoar isso, já que O Olho do Mundo é o primeiro de catorze livros, então estou encarando-o mais como uma introdução mesmo. Nenhum personagem, infelizmente, conseguiu me prender de verdade. No máximo o Rand, o Lan ou o Mat, mas como já ouvi que eles melhoram e crescem muito nos próximos volumes, estou tranquila quanto a essa parte.
Outra coisa que me incomodou foi o Ba’alzamon, Shai’tan ou, simplesmente, o Tenebroso, o vilão da história. Ele não me convenceu nem um pouquinho sequer. Nem uma vírgula. Todas as suas aparições não me causaram nada além de enfado, mas enfim, é melhor torcer para que isso mude nos próximos livros. A escrita de Jordan é muito boa, superior a muitas que vejo por aí, mas eu esperava mais detalhes e mais descrições. Mas isso é mais questão de gosto do que de qualidade, então prossigamos.
Fazendo uma pequena observação, muitos dizem que George Martin é o “Tolkien americano”. Eu discordo em gênero, número e grau, já que acho que As Crônicas de Gelo e Fogo não são nem um pouco semelhantes a O Senhor dos Anéis. Se for para escolher alguém para ser o “Tolkien americano”, eu voto no Robert Jordan.
Indico O Olho do Mundo para quem gosta de um bom livro de fantasia, que apesar de grosso não possui tantas descrições e detalhes assim, tendo uma leitura fácil e personagens que prometem muito para os próximos volumes. Também peço que encare esse livro como uma introdução, já que a parte realmente boa, aparentemente, está por vir. Nota [7,5/10].
Ah, ia me esquecendo: encomendei esse livro na Cultura, e ele chegou meio acabadinho. Só deixando minha frustração com a livraria em algum lugar. Ok, peguei o frete mais barato que existia (pagar 30 reais de frete em um livro que custa quase 50 não rola, né?), mas ele veio riscado atrás e com o plástico (aquele bem fininho que fica descascando) já saindo nas pontas. Até a serpente da capa não está tão dourada quanto na imagem aí de cima.
Enfim, se for possível prefiram comprar na livraria física para evitar isso. Meh.
Mas para não ser injusta com a Intrínseca eu tenho que falar que a edição está perfeita. As páginas são excelentes, as gravuras no início de cada capítulo são lindas e não encontrei erro nenhum no texto. Nesse quesito a editora está de parabéns, sério. É um livro tão bonito que dá vontade de ficar com ele em tudo quanto é canto.
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