A queda do céu

A queda do céu Davi Kopenawa




Resenhas - A Queda do Céu


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Barbara.Luiza 24/06/2021

O dia da resistência dos povos indígenas é celebrado hoje, mas não cabe em um dia, nem em um mês, nem em 768 páginas os mais de 500 anos de luta de tantos povos por seu território e sobrevivência, indissociáveis um do outro.

O que temos aos acompanhar a vida de Davi Kopenawa é um fragmento do macrocosmo socio-espiritual de apenas uma das tantas etnias que, mesmo depois de tanto genocídio, ocupam e povoam o país.

As peles de imagens, como eles chamam as folhas, podem não ter o mesmo efeito da passagem oral de histórias e estórias ancestrais, mas Bruce Albert (o etnografo/antropólogo responsável pela transcrição em francês de um relato concedido a ele na língua dos yanomami) consegue captar o máximo que o silêncio poderia captar.

É com a dança dos xapiri, as epidemias xawara, o ritual do sopro, as caças que se rendem aos caçadores que adentramos no universo de Kopenawa.

Quando fechamos as páginas, porém, é sobre nós e a nossa relação com a mercadoria, a nossa relação com a destruição e a falta de futuro.

Quem só tem olhos para a mercadoria não tem tempo de sonhar, quem destrói o planeta é porque não sonha. E esses somos nós, os brancos e a sanha da acumulação que nos rodeia. A fumaça em nosso peito para que não consigamos ver além de nós mesmos e o ouro que brilha, como garimpeiros da pós-modernidade.

Dessa jornada que foi percorrida na companhia de mulheres incríveis eu pude sair com a certeza de que meu peito tem muito menos fumaça que a de tantos outros brancos, mas o que eu quero não é a expiação de uma culpa burguesa.

Ainda há muita luta, por vida, território e preservação dessas culturas que estão na mira de um genocida desde o dia de sua pose no Palácio do Planalto. Nós não podemos seguir cúmplices!
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Ana 13/04/2021

Livro que todos deveriam ler ao menos uma vez na vida
Esse livro é de uma magnitude quase inexplicável, deveria ser leitura obrigatória para todos ao menos uma vez na vida, especialmente nós, não-indígenas e tão acostumados à visão de mundo Ocidental-moderna, capitalizada, secularizada, antropocêntrica, etc., que precisamos de muita autocrítica e exercício de alteridade constante. Há muito que aprender através dos relatos de Davi Kopenawa e o trabalho minucioso e cuidadoso feito por Bruce Albert para repassá-los. Essa obra é praticamente um presente para que possamos adentrar um pouco na cosmologia Yanomami e refletir sobre assuntos tão urgentes e necessários não só à sobrevivência dos povos indígenas, mas de toda a humanidade, sob uma ótica outra que não a hegemônica, vista e reforçada diariamente. A verdade é que resumir aqui a importância desse livro é tarefa impossível, mas realmente espero que cada vez mais pessoas conheçam e falem sobre A Queda do Céu, tratem com seriedade as denúncias e relatos dos povos indígenas, entendam e respeitem suas culturas e também engajem em apoio às suas lutas. A floresta está viva, e lutar para mantê-la viva é uma tarefa à qual todos nós somos chamados.
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FeFa 18/03/2021

Um livro para todos lerem
Sou dessas que lê prefácio, notas, postscriptum. Tudo mesmo.
Ao terminar de ler, fiquei um bom tempo atordoada com o soco no estômago do anexo, O massacre de Haximu.

O livro em si é excelente, linguagem acessível, sem esteriotipar nem remover a forma de falar do xamã Davi Kopenawa. Momentos de dar esperanças, momentos que dão raiva, e muitas reflexões sobre nós, o "povo da mercadoria".
É um livro que me dá vontade de convencer todos de leem, mesmo sabendo que seu tamanho assusta as pessoas para quererem ler. Ele é extenso mesmo, demorei meses para terminar, mas super valeu a pena.
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Matheus Monteiro 30/01/2021

Um livro de uma importância indescrítivel
"A Queda do Céu" é talvez um dos livros mais importantes que eu já li. O relato não apenas da vida de uma pessoa, como de um povo, o livro não só é uma importante obra para se entender a complexidade cultural do povo Yanomami como também a relação conflituosa com os não- indígenas, e o papel desses como agentes colonizadores. Um livro que muda a perspectiva do outro, trazendo reflexões e críticas a colonização, etnocídio, e até mesmo ao modo de vida dos não-indígenas brancos a partir das reflexões de Davi ao longo de sua vida. Não tem como dizer o quão importante é esse livro e todas as questões que ele traz, acompanhar o relato de vida de Davi é por vezes fascinante nessa troca cultural, como doloroso ao ver as violências cometidas por não-indígenas para com seu povo (e com outros povos também). Um livro que deveria ser obrigatório para todos os não- indígenas lerem e compreenderem questões de vital urgência nesse país chamado Brasil.
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Bela 22/01/2021

A Queda do Céu - Davi Kopenawa e Bruce Albert
A Queda do Céu, assim como apresenta o subtítulo de sua capa, é o relato de um Xamã yanomami, reunindo assim as palavras de Davi Kopenawa sobre a sua trajetória para se tornar um xamã, os anos de seu trabalho na Funai e as percepções dele e de sua cultura sobre questões ambientais, políticas e culturais.

“Vocês não me conhecem e nunca me viram. Vivem numa terra distante. Por isso quero que conheçam o que os nossos antigos me ensinaram.”

Em extensos capítulos, fotografias, textos de apoio e notas, o livro apresenta a cultura, a rotina e as visões de mundo dos yanomami, bem como as palavras dos xamãs que servem de alerta para aqueles que ainda se recusam a compreender o que já é óbvio: a destruição das florestas acabará não apenas com ela, mas com todos nós.

Minha Opinião
Conheci A Queda do Céu no primeiro semestre da faculdade quando uma professora mencionou o livro em uma palestra. Em seguida, várias vezes vi a referência ao livro seja em seminários, listas de indicação de obras da literatura indígena ou sendo citado como referência em algum texto, artigo ou livro. Foi só um tempo depois que decidi que o leria, principalmente influenciada pelo projeto para ler literatura indígena que foi organizado em abril pela Mayra, do All About That Book. Não tenho o costume de ler livros de não-ficção, mas A Queda do Céu foi uma interessante descoberta.

O livro é dividido em três partes, além de possuir as páginas iniciais dedicadas a introduções escritas por teóricos e as páginas finais voltadas para as notas e os anexos, escritos por Bruce Albert, o etnólogo que coletou os depoimentos de Kopenawa. As três partes do livro se interligam, mas cada uma possui um ritmo diferente no fluxo dos relatos. Davi Kopenawa relata todas as suas experiências como uma criança que cresceu numa região isolada e que foi depois vítima da presença de homens brancos que provocaram um surto de doenças no local, matando vários membros da sua comunidade. Ele então mora por um período numa região cercada por missionários, relatando essa experiência principalmente na segunda parte do livro.

É só quando adulto que Kopenawa vai trabalhar na Funai e passa a interagir de fato com os homens brancos. Essa trajetória é descrita com bastante ênfase em cima de momentos tanto de troca cultural quanto de cruéis amostras do preconceito que afetava a vida de Kopenawa ali. Além disso, conhecemos histórias angustiantes de homens brancos que tentavam invadir a região, que casavam com mulheres indígenas e as abandonavam grávidas ou que simplesmente levavam doenças para essas comunidades e depois iam embora, deixando um rastro de mortos para trás.


Também acompanhamos a dificuldade que era denunciar essas situações, o descaso das autoridades com o que se passava entre os habitantes nativos, o modo como se ignorava casos óbvios de corrupção que só promoviam o genocídio indígena e a morte dos animais e da floresta. É desolador acompanhar o quanto Kopenawa se entristecesse e fica com raiva dessas situações, e cada um desses momentos relatados fazem com que o leitor compreenda o porquê de ele ter se tornado a figura política que ele se tornou.

A segunda parte do livro tem um foco bem interessante na percepção dos yanomami sobre a formação do mundo. Temos com ainda mais força a presença dos Xapiri, que seriam entidades yanomami criadas por Omama, a figura central da cultura deles. Além da apresentação deles sobre como o mundo humano foi criado, tem-se ainda um extenso relato sobre como as missões cristãs interferiram na manutenção cultural dos yanomami e como Kopenawa se desfez dessa influência, que, em vários pontos, acabou nunca conquistando-o por ser passada por homens brancos que se diziam de fé, mas que praticavam tudo aquilo que diziam ser pecado.

“O dinheiro não nos protege, não enche o estômago, não faz nossa alegria. Para os brancos, é diferente. Eles não sabem sonhar com os espíritos como nós. Preferem não saber que o trabalho dos xamãs é proteger a terra, tanto para nós e nossos filhos como para eles e os seus”.

A terceira parte traz um aprofundamento na questão das causas indígenas, da luta de Kopenawa para falar aos brancos sobre os perigos que se encontram em continuar a exploração dos recursos da floresta e aborda também o processo de coleta dos relatos que iriam formar o livro. Há uma parte dedicada a falar das viagens internacionais que Kopenawa fez para falar sobre os yanomami e sua formação como xamã, o que traz um aspecto bem diferente, pois as viagens internacionais acabam abrindo espaço para que ele fale sobre as questões culturais de outros países, como as dos indígenas norte-americanos.

Mais do que uma resenha, meu interesse em falar desse livro é bem mais focado em ser uma indicação. Por ser um livro de não-ficção bastante longo, com extensas notas finais e conteúdos anexos, entendo quem tem receio de dar início a leitura. Tive sim algumas dificuldades no começo por conta da forma como a história é transmitida, pois sendo uma narração transcrita, a narrativa oral vem de forma diferente do que seria se fosse algo exclusivamente escrito. Relatos repetem-se, são redundantes em vários pontos e essa redundância foi estranha no começo da leitura, o ritmo demorou alguns capítulos para finalmente engatar.

“Os brancos se dizem inteligentes. Não o somos menos. Nossos pensamentos se expandem em todas as direções e nossas palavras são antigas e muitas. Elas vêm de nossos antepassados. Porém, não precisamos, como os brancos, de peles de imagens para impedi-las de fugir da nossa mente. Não temos de desenhá-las, como eles fazem com as suas. Nem por isso elas irão desaparecer, pois ficam gravadas dentro de nós. Por isso nossa memória é longa e forte.”


De um modo geral, A Queda do Céu não é uma leitura rápida e exige um foco para que o processo de ler seja apreciado por completo. Contudo, a partir da segunda parte, o modo de descrição dos relatos já se torna familiar e a leitura flui com maior rapidez. Além disso, os temas da segunda parte acabaram se tornando os mais interessantes e foi a minha parte favorita de ler.

É por essa razão que isso só poderia funcionar como uma indicação de leitura. Ler A Queda Do Céu é conhecer todo um universo que a nossa literatura e história ocidental canônica não disponibiliza e frequentemente apaga. É ver os efeitos cruéis e horríveis que a interferência na floresta causa, além de acompanhar episódios de injustiça que são desalentadores.

O livro nos permite ver aquilo que não queremos ver quando vivemos no dia a dia, abre nossos olhos para toda uma cultura do nosso país que não conhecíamos ou não queríamos nos esforçar a conhecer. É uma lição acompanhar a jornada de Kopenawa, e a leitura de A Queda do Céu é uma indicação que todas as pessoas deveriam se abrir para experimentar algum dia.



site: https://resenhandosonhos.com/a-queda-do-ceu-davi-kopenawa-bruce-albert/
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João 18/01/2021

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A queda do céu é um livro que nos dá uma imersão total a toda cultura indígena da tribo Yanomami localizada no norte do país na fronteira com a Venezuela e arredores. A edição é rica em detalhes, com uma parte destinada somente a mapas, anexos, fotos, glossários, além de uma extensa parte ao final com notas de todos os capítulos registrados no livro. É narrado por Davi Kopenawa um xamã Yanomami, onde junto com o jornalista Bruce Albert teve a ideia de escrever esse completo livro com o propósito de levar conhecimento do seu povo ao mundo.

O livro é dividido em três partes, sendo a primeira chamada “Devir Outro”, onde tenta trazer a nós leitores vários conhecimentos sobre a cultura dos mesmos, nos situando os vários significados e crenças do seu povo, entre elas é retratada como se inicia a passagem para se tornar um Xamã, a relação dos Yanomami com o céu e a floresta, a importância dos espíritos, xapiri, dos ancestrais que perpetuam suas vidas mesmo após a passagem para o outro plano em forma de animais, entre vários conhecimentos.

Já a segunda parte se chama “A fumaça do metal”, nesta parte temos a presença do homem branco, o homem que não mora na floresta, mas que de forma desastrosa penetra na floresta abalando todo o sistema que funcionava lá em paz. Os mesmos aproveitam da inocência dos povos originários e tentam se apropriar do meio em que vivem, oferecendo esmolas ou apareciam com uma falsa salvação, alegando que toda a crença deles era algo demoníaco. Nestes capítulos são citadas as várias “missões” que ocorreram na Amazônia com o determinado fim de “salvar” os habitantes da floresta, onde abominavam toda a cultura existente, além do inicio do desmatamento desenfreado que conhecemos hoje. É citado também em vários momentos a Epidemia Xawara (a enorme onda de malária que perpetuou na década de 1970, que dizimou milhares de índios em toda a região), oriunda dos garimpeiros que tomaram o local.

“Será que os brancos da estrada vão nos fazer adoecer e morrer de novo? Se isso acontecer, desta vez não vai sobrar ninguém para juntar nossas ossadas e chorar por nós” – Trecho retirado do livro, pg. 308.

A terceira e ultima parte, tem o nome de “A queda do céu”, pegando o gancho dos acontecidos na parte anterior, Davi começou a se engajar cada vez mais por lutas em busca de direito ao povo nativo em geral, foi convidado a se juntar a FUNAI e começou a ganhar voz (depois de várias batalhas e obstáculos) em vários espaços nunca alcançado por um indígena antes. Neste capitulo ele vai relatar de forma critica a vida do homem da cidade e sua forma alienada de viver, focada em ambições, guerras, consumo e várias questões do padrão de vida do mundo moderno capitalista.

“Suas cidades estão cheias de casas em que um sem-número de mercadorias fica amontoado, mas seus grandes homens nunca as dão a ninguém. Se fossem mesmo sábios, deveriam pensar que seria bom distribuir tudo aquilo antes de começar a fabricar um monte de outras coisas, não é? Mas nunca é assim!” – Trecho retirado do livro, pg. 419.

“Os brancos de longe também não tem tanta sabedoria quanto pretendem! Não param de repetir que é ruim nos flecharmos uns aos outros por vingança. E no entanto, seus próprios antepassados eram belicosos a ponto de ir até lugares muito remotos só para saquear a terra de gente que não tinha feito nada a eles!” – Trecho retirado do livro, pg. 426.

Enfim é um baita livro para se ter uma noção do vasto mundo da tribo Yanomami de nosso país, conhecer sua cultura, seu modo de pensar, suas críticas ao modo de vida que os povos que residem nas cidades levam, e que basicamente eles querem só viver em paz.
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Wallace17 11/01/2021

Os saberes ancestrais do yanomami
A Queda do Céu é o resultado de um grande pacto etnográfico entre o Xamã Yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert. Albert tem 40 anos de convívio com os índios yanomami. 30 anos de uma grande amizade com o Xamã Davi Kopenawa. O livro foi gestado em 20 anos. 5 anos depois de sua publicação na França, foi maravilhosamente traduzido por Beatriz Perrone-Moisés aqui no Brasil.

Kopenawa diz que os brancos (população urbana) é cheia de esquecimentos, e por isso, somos tão apegados a "peles de papéis"(é assim que ele se refere aos livros) e amamos tanto as mercadorias. Então ele pensou: vou escrever meus pensamentos nestas peles de papéis para falar aos brancos como elxs tem sido terríveis para o meu povo, os animais, os rios e as florestas. Kopenawa narra as interferências do branco no equilíbrio natural da vida dos yanomami. Seja por meio das fumaças xawara (espíritos maléficos comedores de gente = epidemias: sarampo, gripes) , atividades extrativistas, madeireiras, fazendeiros, garimpeiros. Kopenawa denúncia os homicídios, as chacinas e a falta de políticas públicas que corroboram para o genocídio dos yanomami.

A Queda do Céu nos apresenta também aancestralidade yanomami, a mitologia de Omama, o criador do mundo. Os xapiri (espíritos que protegem a floresta) O pó de yãkoana, tão fundamental para os xamãs receberem e cuidarem dos seus xapiris e do povo. Fala sobre o modo harmônico da vida dos yanomami com a terra. O Xamã Davi Kopenawa nos conta sua infância, os primeiros contatos com os brancos, o trabalho na FUNAI, a iniciação xamânica e sobretudo sua vida como defensor do território yanomami no Brasil e no mundo.

A Queda do Céu pode ser enquadrado por muitos ângulos e é uma obra de múltiplas análises. Contudo, também é clamor por justiça e respeito a existência indígena. O projeto de extermínio continua, sobretudo com atual conjuntura política. Urge o nascimento de novos hábitos e atitudes em defesa a vida dos povos indígenas do Brasil, não podemos ser testemunhas passíveis destas injustiças. A Queda do Céu é uma obra monumental, leiam!

site: https://www.instagram.com/p/B9Zxi7untwd/
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Geógrafo da Alma (Poeta) 02/11/2020

Uma grande riqueza cosmológica
Um livro simplesmente fantástico. A riqueza cosmológica expressa nas páginas dessa grande obra, mais do que um relato etnográfico gigantesco, nos privilegia com a sabedoria de Davi Kopenawa que através do seu vasto conhecimento xamânico nos esclarece a cerca de caminhos que serão benéficos aos habitantes das florestas naturais e das selvas de concreto em que estamos vivendo e destruindo pela nossa ganância e imediatismo. A sensibilidade de Bruce Albert e a sua amizade com Davi Kopenawa nos brindaram com essa leitura imperiosa para sermos pessoas melhores.
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Thiago Barros 04/09/2020

?A floresta está em nossas veias?
Depois de concluir essa obra magnífica, fruto de anos de trabalho e pesquisa feitos por Bruce e Davi, me surgiu a pergunta: Porque não estudamos a cultura indígena nas escolas?
Esse livro é simplesmente uma obra prima, a linguagem em que o autor o escreveu, fiel a língua e forma dos yanomami é de arrepiar. Esclarece de forma lúdica a vida, rotina, espiritualidade e desafios desses povos.
É engraçado pensar, o preconceito e linchamento que os brasileiros possui em relação aos indígenas. Se vangloriam por ter sangue europeu e enojam a ancestralidade brasileira.
As lutas e perdas que esses povos tiveram com a colonização ainda permeiam, assim como a ignorância humana. Os homens se articulam como ricos de intelecto, mas são abruptos de conhecimento.
Assim como Davi Kopanawa exalta em seus pronunciamentos e no nome desse livro, o céu está caindo e não vai haver distinção de sobrevivência após sua queda.
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Pedro Henrique Müller 18/02/2019

Experiência da Forma Xamânica
A Queda do Céu é um livro importantíssimo, fundamental. Um deslocamento, um tremor necessário, principalmente nesse período tão obscuro que atravessamos. É imprescindível conhecermos explicações do mundo a partir de outras cosmologias. É preciso que nos vejamos como caracteres de uma antropologia diversa, ou reversa, no caso. O homem branco sendo o ser-outro, na construção de uma "contra-antropologia" ou "antropologia reversa", como caracteriza Roy Wagner. Uma contra-antropologia, multinaturalista, como nomeia Viveiros de Castro em seu prefácio. Colocar em questão esse mundo de brancos, ou mundo para os brancos, para que fique mais evidente - e os chamados de Kopenawa não são poucos - a iminência de uma destruição da terra, que colocamos em prática. Nós, "civilização que se julga a delícia do gênero humano". Como o próprio Bruce Albert menciona, se o xamanismo é uma diplomacia cósmica dedicada a tradução entre pontos de vista ontologicamente diversos, o discurso-texto-palavras de Davi Kopenawa não é apenas o relato da vida e do cotidiano Yanomami, mas sim uma experiência da forma xamânica em si, xamanismo em ação "na qual um xamã fala tanto dos espíritos para os brancos, como sobre os brancos a partir dos espíritos"


"Por que os brancos são tão hostis a nós? Por que querem a nossa morte? O que têm eles contra nós que não os maltratamos? Será só porque somos gentes outras, habitantes da floresta? (...) não queremos que os brancos continuem maltratando nossa terra. Isso nos deixa com raiva, mas nem por isso nós os flechamos. Eles se acham inteligentes e poderosos, com suas peles de imagens, suas máquinas e suas mercadorias. O valor de nossos mortos vai ser muito alto, e eles com certeza não vão conseguir compensa-lo com suas peles de papel. (...) Estamos apreensivos para além de nossa própria vida, com a terra inteira, que corre o risco de entrar em caos. Os brancos não temem, como nós, ser esmagados pela queda do céu. (...) sei bem que a maioria deles vai continuar surda às minhas falas. São gente outra. Não nos entendem, ou não querem nos escutar. Pensam que esse aviso é pura mentira. Não é. Nossas palavras são muito antigas. Se fossemos ignorantes, ficaríamos calados. Temos certeza, ao contrário, de que o pensamento dos brancos, que não sabem nada dos xapiri e da floresta, está cheia de esquecimento. De todo modo, mesmo que não escutem minhas palavras enquanto ainda estou vivo, deixo aqui estes desenhos delas, para que seus filhos, e os que nascerem depois deles, possam um dia vê-las. Então eles vão descobrir o pensamento dos xamãs yanomami e vão saber que quisemos defender a floresta." (Cap. 24)

Nestes tempos terríveis, mais tristes do que nunca, vale terminar com um trechinho famoso de um diálogo de Davi Kopenawa com o ministro-chefe da Casa Militar do Governo Sarney em 89. Este pergunta a Kopenawa:

"O povo de vocês gostaria de receber informações sobre como cultivar a terra?"

ao que recebe a estupenda resposta:

"Não. O que eu desejo obter é a demarcação do nosso território."

Cristina.OsunOparA 21/03/2020minha estante
Quanta sabedoria ao nosso alcance!! leitura e assunto primordial!!!!




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