larissa viana 06/03/2022
"Um dia, de repente, você será um dos homens sem mulheres"
Nesta seleção de 7 contos, Murakami nos imerge em breves histórias de personagens, todos homens, que de alguma forma perderam mulheres durante suas vidas. Além de serem breves porque, afinal, são contos, nos é apresentada apenas uma parte da vida deles, talvez o momento em que estão mais vulneráveis; mergulhados em culpa, arrependimento e, principalmente, solidão. Como se todos, meio perdidos, fizessem a mesma pergunta que o Doutor Tokai (no conto "Órgão Independente") faz a si mesmo "Afinal, quem sou eu?". Então, não adianta esperar desenvolvimentos completos, com começo, meio e fim concretos. O que vale mais aqui é a experiência vivida em cada conto e a reflexão que ela traz consigo; é provável que você se identifique com algum personagem e seus sentimentos, que são extremamente humanos. Além disso, a escrita clara e direta de Murakami torna muito fácil a nossa imersão em seus ambientes e situações fictícios. Nessa obra, eles estão carregados por um ar onírico e melancólico e através do realismo mágico, algumas vezes, beiramos o sobrenatural como em "Kino" ? em certo ponto, assim como o protagonista, não somos mais capazes de discernir o que é real e o que é fruto do inconsciente dele ? e "Samsa apaixonado" ? uma releitura de "A metamorfose" do Kafka, onde um inseto acorda metamorfoseado em Gregor Samsa.
O único ponto negativo pra mim é o machismo inegável em certos pontos, afinal, é um livro escrito por um homem asiático (sabemos que o machismo no Japão, por exemplo, é fortíssimo) a respeito do ponto de vista de outros homens, então não é nada surpreendente. Mas, ainda assim, vale a pena ser lido, pois os sentimentos, as experiências e as reflexões que citei antes podem ser vividos, apesar do título, não só por homens mas também por mulheres.