Ro 23/09/2020
Um livro para sentar e respirar
De ritmo mais lento que o primeiro volume do Ciclo de Terramar, "As tumbas de Atuan" nos conta uma das aventuras de Ged em busca de um tesouro que seria capaz de restaurar a paz entre os homens.
Embora seja essa a promessa de plot principal,o livro todo se passa com os holofotes voltados a uma personagem chamada Tanar, ou Arha, a sacerdotisa do templo dos Inominados. No início da leitura, acompanhamos a forma como essa garota foi escolhida para exercer a sua função, como foi resgatada da casa materna e teve o seu nome retirado.
Conhecer Tanar e acompanhar a sua história como sacerdotisa principal de Atuan é tomar ciência da fragilidade e da armadilha que representa o poder oferecido á garota. A Arha é, essencialmente, a "rainha" dos castelos de areia que nada tem a oferecer além da solidão, prisão, temor e receio.
Uma bela mimetização das relações sociais no mundo real, não é mesmo? Recebemos o poder sobre coisas que não pedimos; nos vemos forçados pela obrigação e responsabilidade a exercer tais papéis e, no final, pouco nos resta do aspecto de liberdade que almejamos.
Como já disse, esse livro caminha de forma mais lenta, mas acredito que isso se justifique pelo peso filosófico que a narrativa carrega. Com Le guin, a fantasia nunca é apenas um mundo mágico cheio de poderes e dragões. Ela tem a habilidade de criar um laboratório ficcional de expiação e reconhecimento de nós mesmos.