Karen 14/12/2012A ideia é boa, o livro nem tanto...Hum, é complicado falar de um primeiro livro assim,quando a gente tem sentimentos tão conflitantes em relação a uma série. Eu tinha lido algumas distopias que tinha gostado muito, e, quando encontrei esse livro, achei que o tema da perfeição compulsória que a sociedade exige era um prato cheio. Ainda mais de um autor que é tão bem falado, e tanta gente parece amar o livro. Quando li a sinopse e vi que a personagem principal não era assim tão boazinha, quase dei pulos, porque é o tipo de história que eu mais gosto. Um livro perfeito. Só que não.
Devo dizer que eu não desgostei de Feios. Até certo ponto eu achei bom, o livro tem seus méritos. Só que os problemas que me irritaram nesse livro, os quais eu tinha esperança que fossem consertados, foram multiplicados nas continuações. Mas claro, vou tentar me ater a falar do primeiro volume.
Não vou fazer um resumo aqui, até porque não tenho paciência. Vamos aos fatos então.
A ideia do livro é ousada e pertinente, e isso me cativou na hora. O tema da beleza, e como a fixação nela nos deixa alienados é incrível e se encaixa perfeitamente no mundo que vivemos hoje. E até certo ponto essa temática é bem explorada. O problema é que o negócio se perde no meio do caminho. A protagonista se esforça tanto para criticar e julgar os "Enferrujados" que se esquece de refletir sobre o próprio mundo. É fácil criticar um mundo que não é o seu, aliás, é justamente por isso que existe a distopia, para que o processo de criticar a nós mesmos não seja tão doloroso e intragável. Só que quando se começa a criticar diretamente o mundo real, o negócio vira uma bagunça, e no fim não consegue atingir bem nenhuma das duas coisas. A temática da estética já era boa o suficiente, e o livro ficaria bem melhor sem esse monte de apelos ecochatos.
Outra coisa que foi difícil era que, me perdoem a expressão, era mais fácil expelir uma pedra dos rins que sentir alguma empatia por Tally. Ela oscilava de chata e tola até prepotente e hipócrita. No final do livro eu até comecei a gostar dela, mas foi uma pena que o sentimento não perdurou. Simplesmente eu não consegui ver as coisas do ponto de vista dela. Considerando que não há nenhuma cena em que a ação não estivesse focada nela, achei que o livro poderia ter ficado melhor se fosse narrado em primeira pessoa. Já que a ideia era fazer uma personagem que tivesse tanta complexidade (os ogros são como cebolas, burro!) e que tivesse ações que não fossem por assim dizer tão corretas, seria bom que ao menos conseguíssemos entrar na pele da protagonista.
Mais adiante, o livro ganha um pouco de romance. Agora é que a coisa engrena! Mais uma vez, não. O romance é no mínimo, morno. Não consegui ver a graça naquilo, se desenvolveu rápido demais, e nem deu para perceber alguma química entre os personagens. E, se esse parece ruim, espere até o Perfeitos, que a coisa fica pior. Mas sim, concentração, ok.
Por último, uma coisa que me incomodou muito foram os nomes, tanto das pessoas quanto dos lugares. Eles simplesmente pareciam bobos demais, como se nada fosse sério, chegando às vezes a ser infantis. Afinal,quem pode levar a sério um lugar que se chama "Vila Feia"? Não sei se isso é problema do livro ou da tradução, porque não cheguei a vê-lo em inglês, mas de qualquer jeito é algo que pra mim tirou a força de muitas partes da história.
Mas, claro, o livro tem seus méritos. E tinha dito que não desgostei, não é? As cenas de ação são ótimas, as descrições dos saltos e voos de prancha são ótimos. Também adorei toda a tecnologia que o autor inventou são muito legais(me fez querer uma jaqueta de bungee jump pra mim! tô aceitando de presente de natal). E eu adorei a Shay, por mim ela poderia ser a protagonista.
Quanto a narrativa, tirando os pontos que eu já citei, não é ruim. Só que às vezes se perdem em explicações muito extensas e algumas imagens meio estranhas (sério "O céu do início do verão tinha cor de vômito de gato" foi a primeira vez que eu quis fugir de um livro na primeira frase, principalmente porque eu tenho seis gatos e essa imagem não me traz boas lembranças, mas isso não vem ao caso)
Enfim. Não gosto de ter que malhar um livro desse jeito, sério, me parte o coração, principalmente porque não gosto quando fazem isso com algo que eu gosto. Mas é um trabalho sujo, e alguém tem que fazer. Se eu soubesse antes, teria evitado muita frustração.
Se recomendo? Hum... Se você tem certeza que as mesmas coisas que me desagradaram não vão te desagradar, vai fundo. Pelo menos você vai se divertir e pensar um pouco. Mas sem grandes expectativas. Já se você se irrita fácil, faça um favor a si mesmo e passe bem longe.