Marcela 30/10/2019
Um retorno com gostinho de quero mais
A Mediadora sempre foi, para mim, uma das melhores séries adolescentes de todos os tempos, apesar de não fazer tanto sucesso quanto O Diário da Princesa, da mesma autora. Mas, sem sombra de dúvidas, Lembrança (o último livro da série, lançado mais de uma década depois dos primeiros) é o meu preferido de toda a saga. Lógico que foi ótimo ter crescido com as aventuras de Suzannah Simon, a adolescente esquentadinha que podia se comunicar com o mundo dos mortos... e chutar alguns traseiros sobrenaturais. Mas reencontrar os personagens queridos dessa série, após tanto tempo, foi ainda mais gratificante em diversos sentidos.
O 7º livro da série (ou 8º, se contar com O Pedido, e-book intermediário da época em que Suze estava na faculdade, situando-se entre os acontecimentos de Crepúsculo e Lembrança). A história se passa cerca de 8 anos após o fim de Crepúsculo, o 6º volume da série. Por isso, algumas coisas estão bem diferentes por aqui. Agora, Andy é um apresentador famoso e se mudou com Helen para Los Angeles, de onde produzem o Em Casa com Andy e exportam para diversos países. Jake começou seu próprio negócio um pouco inusitado. Brad se casou com Debbie, que descobriu estar grávida pouco tempo após a formatura, e hoje tem trigêmeas hiperativas de 5 anos. David, surpreendendo a ninguém, está em Harvard. Gina se mudou para a Califórnia e agora faz parte oficialmente do grupinho de amigos da Suze, junto com Cee Cee e Adam.
Suze e Jesse seguiram seus respectivos sonhos profissionais (ele como médico, ela como psicóloga especialista em aconselhamento para jovens) e já têm a data marcada para se casarem. Tudo estava perfeito (exceto, é claro, a insistência católica de Jesse em deixar o sexo para após o casamento... fazendo com que Suze permaneça virgem e frustrada, o que não é nada fácil para uma garota de 24 anos que é noiva de um médico latino sexy, por quem é apaixonada há quase uma década), até o dia em que um agora milionário Paul Slater decide dar as caras de novo, com uma nova chantagem em mãos para infernizar a vida de Suze: destruir a antiga casa de Carmel Hills, onde ela morou com os Ackerman durante o ensino médio, e libertar uma suposta antiga maldição egípcia para transformar Jesse num demônio. Como se não bastasse isso, o padre Dom não parece estar mais um sua melhor forma e Suze precisa lidar também com uma fantasminha que cerca uma aluna da Academia da Missão (onde Suze trabalha como estagiária) e parece bastante irritada com todos que tentam se aproximar da adolescente reclusa.
Apesar da escrita permanecer bem fiel às suas origens, com os traços da personalidade de Suze sendo bem marcados pelas palavras, é perceptível como a série amadureceu, principalmente, no que diz respeito aos temas abordados. Todos os ex-alunos da Academia da Missão (que estudaram lá na época de Suze) são, agora, jovens adultos encarando novas responsabilidades. Dessa forma, vemos os nossos queridos personagens encarando desafios universitários, a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho que uns enfrentam enquanto outras pessoas próximas já têm sucesso profissional, as consequências de uma gravidez não planejada na adolescência, as dificuldades em lidar com relacionamentos maduros, e frustrações pessoais que pessoas de 20 e poucos anos costumam sentir quando percebem que a realidade que encaram foi bem diferente dos planos da adolescência. É interessante porque os fãs que cresceram com a série percebem que a série também cresceu, deixando de lado o young adult para abraçar questões do new adult, mas ainda com o toque sobrenatural que define bem a série.
Continuam presentes algumas questões que sempre apareceram de forma leve ao longo da série, como a discussão sobre machismo, preconceito racial e respeito à sexualidade, de forma ainda mais forte. E são trabalhados também alguns outros temas bem mais... pesados. Essa é uma das coisas que eu mais amo em Meg Cabot, principalmente aqui em A Mediadora: apesar da escrita, pelo ponto de vista de Suze, ser bem humorada, há espaço para desenvolver bem os personagens secundários e trabalhar diversos temas bastante realistas que envolvem as pendências que impedem os espíritos de seguirem em frente. A sensação que dá é de que você está lá em Carmel de fato, vivenciando tudo aquilo: se divertindo, chutando traseiros, trazendo justiça e, sobretudo, amando.
O final traz uma conclusão feliz esperada há muitos anos para os nossos queridos protagonistas... mas é tudo tão satisfatório, que mesmo assim, deixa aquele gostinho de "Meg, escreve mais!".