Kenia 11/09/2016"Malu... As pessoas lutam, erram, se decepcionam. Perdem a memória! – Apontou para o próprio peito. – Mas quando se sentam para ver um filme ou abrem um livro, não querem mais daquele sentimento negativo. Querem sonhar, acreditar que a felicidade é possível, mesmo que através de uma história inventada por outra pessoa. Elas passam a acreditar naquilo e, por um intante, tomam o sentimento emprestado, como se fosse delas."
Em nove anos de carreira, Malu Rocha é uma escritora reconhecida por suas histórias de amor carregadas de sentimentos e finais felizes. Concedendo mais uma entrevista dentre várias que já deu em sua longa carreira, a escritora sente-se entediada, pois precisa responder a tantas perguntas idênticas, onde as respostas decoradas ecoam em sua mente, que seu único alento para passar os 20 minutos de entrevista é o cigarro, vício que havia adquirido há uns três anos. Porém, a pergunta final da jornalista, pegou Malu de surpresa, deixando-a sem palavras: "O que é o amor para Malu Rocha?" Não conseguindo dar uma resposta convincente para a jornalista, com seu jeito frio e direto, ela responde qualquer coisa e decide terminar a entrevista.
"Suas histórias são sempre tão perfeitas que é natural a gente deduzir que quem as escreve tenha um conhecimento profundo sobre o amor. Não é?"
Só que aquela pergunta boba não a abandona. Ela acompanha Malu na sua volta pra casa em São José dos Pinhais, deixando-a atordoada, assim como Rebeca, que é mais uma fã do que sua assistente. Apesar de ser desastrada e desorganizada, a jovem de 22 anos é muito dedicada e dá o seu jeito ao organizar a agenda da escritora.
Relaxando em sua casa após a entrevista pertubadora, Malu se prepara para sua leitura sagrada: ler a coluna do Doutor Love que sai aos sábados no jornal da cidade. São textos sobre amor que a escritora coleciona e os guarda em um baú, coleção essa que ninguém sabe, já que sugere sua fragilidade. É através dessa coluna que ela tenta entender melhor sobre o amor, já que seus livros são carregados desse sentimento, mas na vida real ela não sabe bem responder a pertubante pergunta sobre o que é o amor.
"Um relacionamento está fadado ao fracasso quando um deposita as expectativas sobre o outro. Acaba-se esperando de alguém o que você deveria buscar e realizar por si mesmo. É uma zona de conforto cheia de cobranças e frustações porque, embora os dois caminhem juntos, cada um tem sua própria jornada a cumprir. E o outro não está ali para conduzir a sua, e sim a dele mesmo."
Outra atividade sagrada para a escritora é pedalar até a Casa de Repouso Lar dos Anjos, onde o grande amor de sua vida, seu avô, mora. Lá, ela vive algo totalmente diferente de sua vida real. Lá, ela pode demonstrar todo amor, paciência, carinho e atenção que ela não tem com as outras pessoas, vivendo a realidade dele.
De volta a sua realidade, Malu está enfrentando problemas em terminar seu último romance, a história de Ana Clara e Luiz Otávio. Ela sente que algo não está certo com um final esperado pela editora, ela quer mostrar um outro lado para seus leitores, mas o receio da crítica e de uma possível rejeição a faz pensar em diversos finais até ser interrompida de seus devaneios pelo som da campainha.
"Quando bati à porta da sua casa pela primeira vez, tudo o que eu queria era alguma informação que me ajudasse a descobrir quem eu era. Não imaginava que, em vez disso, teria tanto a conhecer da mulher que confiou em mim e me acolheu. E nem que eu fosse gostar tanto dela."
Quem tocou a campainha é um estranho, que alega ter perdido a memória, e o único documento que traz consigo é um papel que mostra o agendamento de uma reunião com a escritora, há duas semanas atrás. Ele espera que Malu possa ajudá-lo a descobrir informações sobre quem ele é. O problema é que não é ela quem organiza sua agenda, e sim sua assessora, que não é muito organizada. O computador de Rebeca era a única solução pra esse quebra cabeça, mas ele precisou ser formatado, então ninguém consegue descobrir qual seria o assunto da reunião.
Mas as surpresas não param por aí. O nome do estranho é Luiz Otávio, o mesmo nome de um dos personagens de seu romance inacabado. E isso a deixa intrigada. E sem ter muito o que fazer por Luiz, ela promete ajudar no possível, caso ela descubra algo, e o dispensa. Nos dias que se seguem, Luiz Otávio passa por algumas situações constrangedoras, sensibilizando Malu que oferece um quarto em sua casa em troca de serviços de jardinagem, o que pode ajudar Luiz a juntar dinheiro para voltar para sua casa e quem sabe recuperar sua memória.
"Malu mal ousou respirar. Seus pensamentos se dividiram entre o desejo que pulsava vivo em seu corpo e a possibilidade muito real de Luiz Otávio ter uma pessoa à espera dele, escondida na penumbra temporária temporária da amnésia. As duas vozes brigavam dentr dela, e era quase impossível distinguir qual delas vencia."
Malu, que antes tinha uma rotina solitária da qual se orgulhava, se vê em casa com um homem super atraente e inteligente, que vai a desarmando aos poucos. Os dois vão conversando, se conhecendo e ela não entende o que ela está sentindo, ainda mais por um homem desmemoriado, que pode ter uma esposa e filhos.
"Imaginou como seria esquecer-se do vento, e como se sentiria se não mais o conhecesse. A falta de memória seria um castigo pela privação do que se conhecia ou uma abençoada oportunidade de reaprender tudo de uma forma mais bela?"
É nesse clima que vamos acompanhar não somente a jornada de Luiz Otávio pela descoberta de sua identidade, como a da nossa escritora, que precisa vencer vários traumas e medos que as decepções da vida a marcou para se reencontrar e acreditar que o amor sim pode bater à sua porta!
Narrado em terceira pessoa, Samanta construiu uma história linda e bem centrada. Malu é uma pessoa difícil, à princípio, mas o convívio com Luiz Otávio vai ser responsável por derrubar este muro que ela criou para se proteger dar pessoas e das decepções da vida. Luiz um homem incrível, dono de uma esperança inabalável, é o personagem mais cativante do romance, e suas falas na trama são super interessantes. Senti que Rebeca poderia ser melhor aproveitada, já que durante a trama só sofreu com o mau humor e as tiradas de Malu, mas ela se mostrou leal à escritora e deu um ar mais cômico para a para a história.
Quando o amor bater à sua porta é uma leitura que com certeza recomendo, porque além de ser um livro nacional, ele tem uma bela história, uma escrita cativante e detalhada.
Samanta Holtz soube como nunca escrever mais um belo romance, superou todas as minhas expectativas!
Não deixem de conferir e se emocionar com a história de Malu e Luiz Otávio.
"Obrigado por se importar."